Woody Allen sem erros
Rita (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)
Sondra Pransky (Scarlett Johansson) é uma estudante de jornalismo americana que está de visita a uns amigos em Londres. Num espectáculo de magia, Sondra é colocada dentro de uma caixa de "desmaterialização", onde conhece o fantasma de Joe Strombel (Ian McShane), um jornalista recentemente falecido, conhecido por sempre conseguir as melhores histórias, sem olhar a custos. Strombel revela a Sondra que o famoso Assassino das Cartas do Tarot, um "serial killer" que tem aterrorizado Londres, não é mais do que o rico herdeiro Peter Lyman (Hugh Jackman). Auxiliada pelo mágico Splendini, aliás Sid Waterman (Woody Allen), Sondra está decidida a investigar este furo jornalístico ("scoop") e ser a primeira a desvendá-lo. No processo, Sondra ver-se-á dividida entre a sua ambição e a sua ética, entre evitar mais crimes e deixar-se levar pelo seu coração.<BR/><BR/>Se "Match Point" foi uma inovação no caminho cinematográfico de Woody Allen, "Scoop" é um regresso à comédia romântica, numa linha que lembra "Curse of the Jade Scorpion". Também o próprio Woody Allen volta para a frente da câmara fazendo de si mesmo. De "Match Point" mantém-se o cenário britânico (trabalhado pela fotografia de Remi Adefarasin) e Scarlett Johansson, tão irrepreensível no registo cómico como já anteriormente o tinha demonstrado no dramático. Uma outra nota de semelhança com o filme do ano passado é o fascínio de Allen pelo sistema de classes sociais da sociedade britânica (europeia).<BR/><BR/>A história de "Scoop" é talvez o que menos importa, saber se Peter Lyman é culpado ou inocente é quase irrelevante se se tiver em consideração todo o prazer que é ver estes actores representar. Allen está perfeito como Splendini e, resistindo – felizmente – a colocar-se como conquistador da personagem feminina, guarda para si as melhores e geniais tiradas. Scarlett Johansson surge aqui como uma outra versão de Allen, investigando obcecadamente em salas privadas e escondendo as próprias pistas. Falando rápido e com a sua sexualidade mais disfarçada do que em outros filmes, pode dar largas a uma outra faceta do seu talento interpretativo. A contracena entre Johansson e Allen é marcada por uma fabulosa química e por um profundo respeito mútuo. Hugh Jackman ("The Prestige") aparece mais uma vez colado ao tipo aristocrático e, mais uma vez, sem defeitos, e Ian McShane (alguém se lembra da série "Lovejoy"?) enche deliciosamente o ecrã.<BR/><BR/>Um realizador como Woody Allen não consegue errar, e mesmo que o seu génio não esteja completamente plasmado nesta última obra, um Allen sofrível é superior ao melhor de muitos. É com ansiosa expectativa que aguardo o próximo, "Cassandra's Dream", ainda por Londres e com Ewan McGregor e Colin Farrell a encabeçarem o elenco. Nota: 6,5/10.
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