Críticas dos leitores
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Nuremberga
O Desafio
José Costa
Os vencidos são de facto os vencidos. E se o filme demora demasiado no par psi e Göring (até certa altura) é porque este último sintetiza todo o nazismo, e nele "Adolf Hitler" não morreu. Antes dos créditos finais, frase de R. G. Collingwood devia ser memorizada, "Só podemos prever que o homem irá fazer, olhando para aquilo que ele já fez" (ou algo semelhante). Adequada aos tempos. Filme genial, reconstituição da época assombrosa e atores em estado de graça. Russell Crowe é "mesmo" Göring (eu, que não tinha nenhum "respeito" pela figura). Cinco estrelas é mais do que merecido. E nunca devemos dar importância às más línguas (crítica). O filme explica muito bem o porquê.
A Desaparecida
A Desaparecida
Fernando Oliveira
Entre uma porta que se abre e uma porta que se fecha; entre uma cena inaugural que de forma espantosa – um nome que é murmurado – logo nos diz que é uma história de um amor proibido que vai assombrar todo o filme, e a cena final quando a porta se fecha e deixa Ethan de fora – ele está condenado a cavalgar “para sempre” em busca de um apaziguamento da alma que se calhar nunca atingirá; acontece um dos mais extraordinários filmes que o Cinema nos mostrou. Será um western sobre todos os westerns, mas é ao mesmo tempo um western diferente de todos os outros, com uma história comparada à de Ulisses (julgo que o primeiro a escrevê-lo foi Godard, a propósito da cena em Ethan toma a sobrinha nos braços), que marca a passagem de uma visão clássica e romantizada – o western como definidor de uma ideia mitológica da construção da nação americana – para um olhar que usando todos as simbologias do género as transfigura, através de um olhar desencantado e muito triste, num “lugar” selvagem definido pela presença da morte, um “lugar” de pura tragédia, onde o drama substituiu o espírito de aventura e heróico que o definia. Quando Ethan regressa a casa longos anos após a Guerra da Secessão é um homem que parece indiferente aos sentimentos, percebemos logo o drama íntimo que é o amor proibido que ele e a cunhada sentem. Outra tragédia acontece, a sua família é chacinada pelos Comanches e a suas duas sobrinhas raptadas; Ethan, acompanhado por um jovem mestiço que aprenderá a respeitar acima do seu racismo, inicia aqui uma outra odisseia durante sete anos procurando por entre paisagens e climas inóspitos (que a extraordinária fotografia de Winton C. Hoch tão bem define) a tribo índia para poder resgatar a(s) sobrinha(s) (busca magnificamente sublinhada pela música de Max Steiner). E aqui Ford transforma um dos mais icónicos actores de westerns, John Wayne, num dos mais tortuosos e ambíguos personagens que o seu Cinema nos deu. Porque na sua obsessão, no seu ódio pelos Comanches, nasce em Ethan um desejo que roça o repulsivo: que a sobrinha esteja morta, antes isso que a integração na tribo. É uma personagem psicótica, quase odiosa, que Ford mostra, com a sua extraordinária mestria formal, não como símbolo de uma época mitológica, mas como uma personagem definida por uma época tão marcada pelo Mal como ela. Por isso a importância de ter sido Wayne (e este terá sido a sua melhor representação) a interpretá-la. É um momento de mudança que acontece no Cinema clássico americano… Voltando ao amor proibido contado no inicio do filme: quando Ethan resgata Debbie, e decide não a matar, e a levanta nos braços, quando a olha vê nela, e na sua vida futura, uma recordação do amor que ele e mãe dela sentiam; neste movimento vive a impossibilidade de Ethan ficar. Tudo continua “vivo” enquanto não é esquecido e há memórias demasiado dolorosas para serem alimentadas. No filme, uma porta abre-se e no fim uma porta fecha-se. Para o Cinema não se terá fechado nenhuma porta, mas definitivamente uma abriu-se. Nunca mais se fechou.
André Valente
André Valente
Ana Rita Viveiros
Eu simplesmente amei esse filme protagonizado pelo meu filho Leonardo Viveiros, a directora Catarina Ruivo é uma pessoa maravilhosa e todo o elenco do filme estão de parabéns. Eu estive presente nas gravações e foi uma experiência incrível para mim e para meu filho.
David
Maravilhoso
Natiele Silva
Inspirador e emocionante, transmite muitos valores como fé, coragem, obediência e confiança em Deus. Recomendo.
Laguna
4 estrelas
José Miguel Costa
O reconhecido realizador lituano Šarūnas Bartas perdeu prematuramente, em 2021, a filha Ina Marija (24 anos), num trágico acidente. Antes do falecimento, esta viveu, durante alguns anos, numa remota zona selvagem do México, por si considerada o paraíso no qual encontrara o equilíbrio e o seu verdadeiro "eu". Por forma a (re)viver algumas das memórias do ente querido, Bartas decide encetar uma viagem sem data e rumo pré-definidos, conjuntamente com a sua filha adolescente, até ao "local mágico" onde esta foi feliz. A viagem, que se revela uma autêntica odisseia espiritual impregnada de serenidade, deu origem a "Laguna", um introspectivo e intimista docudrama autobiográfico sobre a aceitação da perda irreversível e o luto pacificador. Num registo naturalista e eminentemente contemplativo, onde abundam planos desapressados de um lirismo visual arrebatador, insere-nos, gradualmente, no "território íntimo" da sua família. As palavras não abundam, mas quando irrompem, alegadamente de modo improvisado, das bocas deste duo acertam-nos em cheio no coração.
Na Terra dos Nossos Irmãos
4 estrelas
José Miguel Costa
O filme de estreia do casal iraniano Alireza Ghasemi e Raha Amirfazli (no qual ambos acumulam os papéis de produtores, argumentistas e directores), "Na Terra dos Nossos Irmãos" (Prémio de Melhor Realização no Festival de Sundance), é um drama subtil que expõe, com enorme sensibilidade e recato emocional (abdicando de panfletarismos), o sofrimento silencioso dos exilados afegãos no Irão, alvos de discriminação e exploração laboral (sobretudo aqueles que se encontram na condição de "sem papéis"), inclusive, por parte de organismos do estado e (hipócritas) elites progressistas endinheiradas. Encontra-se dividido em três episódios autónomos (todavia, entrelaçados, e cada um deles separados por de anos - tendo o primeiro início em 2001), que se constituem como uma espécie de pequenos contos emocionais (com finais impactantes, quase "poéticos") que relatam as vicissitudes e constrangimentos que pendem sobre três indivíduos, "carregados de dignidade, pertencentes a uma família alargada afegã. Em comum as suas "vidas invisíveis" assombradas pelo medo da perda do estatuto de refugiado, e eventual repatriamento para o país de origem, caso venham a ser descobertos e/ou "levantem ondas" contra o Sistema. Apesar de dotado de uma narrativa algo "económica", possui a mestria de induzir uma intensa carga dramática através daquilo que não nos é mostrado (e que "apenas" intuimos).
A Cidade Abandonada
A cidade abandonada
Fernando Oliveira
Um bando de fora-da-lei assalta um banco, perseguidos pelo Exército são forçados a atravessar o Vale da Morte, quase a morrer de sede e do cansaço refugiam-se numa cidade em ruínas, e onde vive um velho garimpeiro e a sua neta. O conflito entre os forasteiros e os dois habitantes da cidade, e depois entre os foragidos – o desejo pela mulher (tão agressiva como bela), e a cobiça (há uma grande quantidade de ouro escondida na cidade) – são a história deste filme que William Wellman realizou em 1948. O argumento de “Yellow sky” (é o nome de “A cidade abandonada” – o título original, e o português) é adaptado de um livro de W. R. Burnett, bastante inspirado pela “A tempestade” de Shakespeare, e o filme é já assim um daqueles westerns que é muito mais do que isso; um drama, que sabendo usar a mitologia associada ao género, é encenado numa teatralidade quase sufocante. A cidade abandonada como palco dos conflitos que resultam do desenho da condição humana. Como em quase todo o Cinema de Wellman não há heróis neste filme, todo o grupo de personagens e os conflitos entre eles são o que define a narrativa, as transformações porque passam os seus caracteres advêm desta dinâmica: Gregory Peck é "Stretch" Dawson, um personagem quase cruel com os seus companheiros, mas que vai amolecendo enquanto se vai apaixonando por "Mike", Constance Mae, (Anne Baxter, é ela a Eve do filme de Mankiewicz, mas esta actriz que o tempo vai apagando da memória interpretou em vários filmes essenciais: “Águas sombrias” de Renoir; “The Magnificent Ambersons” de Welles; “Five Graves to Cairo” de Wilder; “Confesso!” de Hitchcock; e este, por exemplo), a jovem é agressiva na luta com os punhos e dispara como ninguém, mas os sentimentos por "Stretch", e o machismo entranhado de Wellman, vão normalizando o feitio da jovem ao uso da época; e há ainda o desdenho maldoso de Dude (Richard Widmark) e a sua necessidade de vingar o passado. O filme é um prodígio de subtileza formal, a estória é emocionante, os actores magníficos. Tudo a provar que Wellman é um dos nomes maiores do classicismo americano. Mas se o filme não deixa de ser magnífico, peca pelo final demasiado limpo: a devolução do dinheiro ao banco, e acima de tudo aquele chapéu que "Stretch" compra para oferecer a "Mike" mudando-a definitivamente para Constance Mae, só aceitamos porque é um filme de 1948. E porque William Wellman nunca foi um realizador de transgressões. Mas não deixa de ser um filme essencial.
Nouvelle Vague
Uma pequena jóia
johnny
Muito giro, uma declaração de amor. Mas só para cinéfilos, para os outros poderá ser uma pessegada intragável.
David
Péssimo
Licínio Baltazar
Lavagem cerebral. Catecismo sem rasto de espiritualidade. Música hedionda, sem qualquer sensibilidade de dinâmicas e de métrica (vi a versão portuguesa, mas a original não me parece melhor). Das piores coisas que me lembro de ver.






