Críticas dos leitores
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A Memória do Cheiro das Coisas
As memórias que nos ficam
Vasco Morão
Vi este filme "por acaso", a bordo de um avião da TAP. Muito interessante, por vezes lento mas nunca "chato", aconselho vivamente! O filme acompanha a permanência de um idoso num lar de acolhimento, desfia a história da sua transformação até morrer, com o físico em declínio mas o espírito sempre presente.
É um filme honesto, credível, bem conduzido e bem contado, com personagens autênticos onde espelhamos o que poderá ser o nosso futuro. Consegue ser quase factual, não é um dramalhão - é apenas um drama que não assusta e onde nos ligamos aos personagens que vemos ir desfilando. A ver, sem dúvida!
A Mais Preciosa Mercadoria
Era uma vez…
J.F. Vieira Pinto
Chapter 1 - Era uma vez um casal já a entrar na velhice e que encontra um bebé abandonado. Criam-no como se fosse um filho. Mais tarde, em idade adulta, tornar-se-à alguém muito importante…Não!…
Chapter 2 - A mulher encontra a criança abandonada, um “Sem-Coração” que fica à mercê do seu marido “Bruta-montes” que a irá “despachar” para qualquer sítio à mercê da intempérie, após a “difícil” conclusão de que, afinal, “ele” era uma “ela”…
Chapter 3 - Esta é uma (espécie) de homenagem a Woody Allen, um norte-americano que adoro (é verdade, ainda existem americanos “bons”), nonagenário recente, que “resolve” as suas história em noventa minutos e, em muitos casos, menos.
É o caso desta animação interessantíssima, narrada por um outro, grande senhor do cinema francês: Jean-Louis Trintignant, que nos deixou em 2022. A produção do filme é de 2024…
Epílogo - “A Mais Preciosa Mercadoria”, uma ANI para adultos, conta-nos uma história passada durante a guerra. Tem um final diferente das animações eleitas para ganhar Óscares, geralmente norte-americanas. Destinatários desta produção europeia, são os “adultos” que, no velho continente, ainda estão a salvo da “infantilização global”. Façam favor de ver isto: não sairão defraudados e, já agora, depressivos.
O filme deixa uma (réstia) de esperança… Agarrem-se a ela.(****)
Orlando Pantera
Uma descoberta
Ana Cristina Neto
Uma história de vida. A música a ligar as pessoas e os lugares. Um criativo fora de série. Tudo filmado de forma elegante e respeitadora. Que belo momento de cinema bom.
O Meu Maior Pecado
O meu maior pecado
Fernando Oliveira
Há duas frases de Douglas Sirk “Não se fazem filmes ‘sobre’ (a dor, a alegria, o amor, todos estes conceitos abstractos), mas ‘com’”, e “O melodrama tem de produzir, primeiro que tudo, emoções, mais do que acções. No entanto, a emoção é também uma acção: uma acção no interior de uma personagem”, que definindo a sua relação com o Cinema, também explicam o extraordinário número dos seus melodramas que são obras-primas, filmes absolutamente maravilhosos: primeiro na Alemanha (“Para Terras Distantes” e “O Veneno dos Trópicos”) e depois nos EUA durante a década de cinquenta (“Sublime expiação”, “O que o céu permite”, “There´s always tomorrow”, “Escrito no vento”, “The tarnished angels”, “Tempo para amar, tempo para morrer”, e “Imitação da vida”).
“The Tarnished Angels” foi realizado em 1957 e adapta um romance de Williiam Faulkner, “Pylon”. Voltou a juntar grande parte do elenco de “Escrito no vento”, Rock Hudson, Robert Stack e Dorothy Malone (magníficos) e é mais uma história de personagens atormentadas e perdidas na vida, onde o destino parece brincar de forma cruel com elas. Estamos na América da Grande Depressão, um herói da I Grande Guerra tornou-se num piloto de acrobacias aéreas; um jornalista New Orleans, alcoólico resolve escrever a história deste homem; apaixona-se pela mulher dele e encontra uma tragédia.
Uma história de homens e mulheres, presos num mundo que não lhes mostra qualquer saída, um filme tão excessivo como belo, narrativamente sublime. E Sirk é brilhante na forma com filma a geometria dos planos, ou como balança a luz e as sombras (a fotografia a preto-e-branco é de Russel Matty, que trabalhou em muitos dos seus filmes). Dizia Godard: “O que importa, como nos prova Sirk, é crer no que se faz, fazendo acreditar nisso”. O Cinema definido como pura emoção. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
Sentimento
Sentimento
Fernando Oliveira
Passaram onze anos entre o seu primeiro filme, “Obsessão” de 1943, e este “Senso” realizado em 1954. Onze anos entre o filme que nomeou o neo-realismo no Cinema italiano, e o sublime artificio deste melodrama. Com uma vida normal de um jovem rico e com pretensões intelectuais, foi a amizade com Jean Renoir na Paris dos anos 30 que lhe despertou o interesse pelo Cinema: primeiro como critico, e depois como realizador adaptando para o seu primeiro filme o romance de James M. Cain, “The Postman Always Rings Twice” (objecto de pelo menos mais duas adaptações importantes: uma por Tay Garnett nos anos 40, com Lana Turner; e mais recentemente por Bob Rafelson, com Jessica Lange e Jack Nicholson), com que causou as mais extremas reacções na Itália fascista de Mussolini.
Até “Senso” realizou ainda “A terra treme” em 1948 (e este, sim, é o exemplo mais importante do neo-realismo) e “Belíssima” em 1951 (porque admirava Anna Magnani, contratada para protagonista, e este é verdadeiramente um dos filmes onde ela é mais magnífica). Quando em 54 apresentou “Senso” no Festival de Veneza, foi imensa a perplexidade causada por este extremado melodrama que conta o amor e paixão que a condessa veneziana Lívia Serpieri sente pelo tenente austríaco Franz Mahler. Um realizador até aí condicionado pelas regras do neo-realismo (ou apenas realismo, como Visconti gostava) e pelo humanismo de Jean Renoir atrevia-se a criar uma obra excessiva, onde a sua paixão pelo teatro e pela ópera, originou um dos mais delirantes, mesmo demencial, e artificiosos melodramas da longa história do Cinema. E sublime.
Na década de sessenta do século XIX, durante os últimos meses da ocupação austríaca do Veneto, a condessa, simpatizante activa da causa independentista, primeiro confronta o tenente para depois se apaixonar loucamente por ele. Um amor de perdição, como ditam as regras. E se é um melodrama, drama e música, e se o teatro e a ópera são as influências maiores, então é no palco e com música que começa, numa das mais magníficas aberturas de um filme de que me lembro. No palco canta-se e interpreta-se o III acto de “Il Trovatore” de Verdi, durante grande parte do genérico é apenas isso que vemos; depois Visconti faz descer a câmara até ao ponto de vista de Manrico (personagem da ópera) e vemos então a plateia e os camarotes repletos de gente; acontece então o acto de revolta que vai levar a condessa a conhecer o tenente inimigo.
A enorme genialidade de Visconti é a de que a partir deste momento transpõe os códigos emocionais desta(s) arte(s) de palco para as regras e convenções do melodrama sem que o filme deixe de ser um exemplo puro de Cinema. Veja-se o reencontro dos amantes e o passeio nas ruelas juntos aos canais de Veneza com a música de Bruckner como banda sonora; veja-se o outro reencontro na propriedade da condessa nos campos de Itália; vejam-se os movimentos dos exércitos nas batalhas que de tão absurdos parecem os movimentos dos figurantes nas encenações operáticas; veja-se o dramático encontro final quando Lívia se apercebe da baixeza e cobardia de Franz; veja-se o deambular enlouquecido dela, depois de entregar o tenente ao pelotão de fuzilamento e de se aperceber do trágico das suas escolhas, incapaz de viver com ou sem o seu amor por ele, o seu grito…
É esta combinação entre as tragédias dos personagens e os acontecimentos da História de uma nação, entre os momentos que definem cada um e o sentir de um povo, que fazem de “Senso” um filme único, representante máximo de um Cinema que acredita no excesso dramático, mas que lê as personagens na alma espelhando nos seus olhos as intensidades dos seu estado. Arrebatador. É por isso também um filme de, e para, uma actriz: Alida Valli, com uma representação tão excessiva como o próprio filme, a mulher que acredita acima de tudo no amor, que por ele tudo renega (a família e a moral convencionada, a fidelidade à pátria e a às causas, a própria sanidade), tão capaz de transmitir a compostura rígida da sua classe social como a mais palpitante carnalidade. Extasiante. Onze anos passaram entre “Obsessão” e “Senso”, dois filmes que parecem muito diferentes. Vendo bem, talvez não: são dois filmes sobre transgressões românticas que conduzem à loucura e à morte. Absolutamente genial. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
Na Linha da Frente
4 estrelas
José Miguel Costa
Adaptando a célebre frase de Vasco Santana, "séries em contexto hospitalar há muitas, seus palermas!!, tendo-se transformado num quase subgénero cinematográfico. Para confirmá-lo basta citar algumas das mais mediáticas, como "Doctor House", (a interminável) "A Anatomia de Grey", "The Resident", "ER", "The Good Doctor", New Amesterdan" ou (a mais recente e excelente) "The Pitt".
Deste modo, é difícil inovar e/ou surpreender os espectadores com qualquer filme que explore temáticas que se relacionem com este universo, como é o caso do mais recente filme da realizadora suíça Petra Volpe, "Na Linha Da Frente" (a concurso no Festival de Berlim e candidato ao Óscar de melhor filme estrangeiro). Tal não significa que esta pelica seja um produto prescindível (pelo contrário), revelando-se um "thriller" dramático intenso/frenético (filmado, em tempo real, com uma "nervosa" câmara de mão) e humanista, que fazendo uso de um (vincado) realismo social de cariz quase documental, coloca a nu o "pressing" físico e emocional a que estão sujeitos os profissionais de saúde (neste caso, uma enfermeira de um bloco operatório - o foco exclusivo da obra) nos desfalcados (ao nível do número de efectivos) hospitais públicos.
Todavia, seria injusto não assumir que o filme se agigante sobretudo pela prestação visceral (e, simultaneamente, intimista) da germânica Leonie Benesch (que já havia brilhado no excelente "A Sala de Professores"), cujo frenesim laboral acompanhamos ao longo de um único turno de trabalho. @jmikecosta
Nuremberga
Um bom filme histórico
Paulo Lisboa
Fui ver o filme porque achei o argumento potencialmente interessante e, também, porque gosto deste género de filmes. Gostei do filme, é um filme que se vê bem. O filme tem um argumento histórico interessante sem cair no clássico "filme de tribunal". Além disso, o filme tem boas representações de Russel Crowe e Rami Malek. Estamos perante um bom filme histórico sobre o julgamento de Nuremberga. Numa escala de 0 a 20 valores, dou 16 valores a este filme.
Mestres da Ilusão: Nada É o Que Parece
Mestres da Ilusão
Pedro
Desilusão após os 2 primeiros.






