Críticas dos leitores
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Bird
4 estrelas
José Miguel Costa
O filme "Bird", da realizadora britânica Andrea Arnold, é um duro (e, simultaneamente, ternurento) coming-of-age que, fazendo uso de um estilo naturalista e de uma linguagem algo documental, funde sublimemente realismo social e realismo mágico para encantar-nos com uma enérgica fábula sobre o sentimento de pertença e a formação da identidade, durante o caótico período da adolescência, no seio de um universo socioeconómico ultra-precário e destituído de qualquer rede de suporte minimamente estável/estruturante.
A história centra-se no quotidiano da electrizante Bailey (Nikiya Adams, actriz não-profissional), uma negligenciada menina de 12 anos, durona e habituada a desenrascar-se sozinha num ambiente de ambiente de violência omnipresente (em virtude dos disfuncionais progenitores não possuírem competências parentais), que reside num prédio ocupado (com parcas condições de habitabilidade), numa área degradada dos subúrbios de Kent, conjuntamente com o pai (um jovem adulto com “complexo de Peter Pan” ligado a esquemas de subsistência dúbios – actualmente absorvido por um hipotético negócio de criação de sapos alucinogénios) e o meio-irmão de 14 anos (pertencente a um violento gang juvenil que pratica “justiça popular”).
O ambiente “familiar”, já per si normalmente caótico (não explorado de modo panfletário pela realizadora), irá agudizar-se após Bailey tomar conhecimento de que o pai irá contrair matrimónio, na semana seguinte, com uma “tontinha” que conheceu recentemente. Todavia, a turbulência amenizar-se-á com a aparição de Bird, um enigmático e angelical homem “surgido do nada”.
Além da desarmante “poesia” crua que trespassa a toda a narrativa, a obra destaca-se pela performance da dupla de actores masculinos (um terno Franz Rogowsk e um enérgico Barry Keoghan); pelos planos frenéticos filmados, em formato 16 mm, por uma hiperactiva câmara de mão (que intercalam com captações de imagens através do iPhone da protagonista); e a excitante banda sonora.
O Último Destino: Descendência
Um filme entre o suficiente mais e o bom pequeno.
Paulo Lisboa
Fui ver o filme porque já tinha visto os outros filmes da saga "Final Destination" das quais muito gostei. Gostei do filme, é um filme que se vê mais ou menos bem, isto para quem goste do género. O filme é competente, tem bons efeitos especiais e segue a linha dos anteriores filmes. Simplesmente este filão começa a acusar algum desgaste, a saber a requentado, o que se traduz na existência de situações cada vez mais forçadas. Estamos perante um filme entre o suficiente mais e o bom pequeno. Numa escala de 0 a 20 valores, dou 14 valores a este filme.
Ele + Ela
Ele + ela
Miguel Soares
Muito interessante. Índia e a história são inspiradores. Muito boas interpretações.
Vermiglio
Interessante. Bom retrato de uma época (á saída da 2a. Guerra Mundial)
Martim Carneiro
Uma história muito bem contada: fiquei com a sensação que o filme é uma sequência de acções curtas que se aglutinam com muito sentido no enredo da história que nos quer mostrar, num cenário gelado, correspondente à época vivida, com um italiano "das montanhas", alcance apenas de quem o domina. Bom filme!
O Lugar do Trabalho
Bom filme
Martim Carneiro
Fazer: ensina como os empregadores devem agir para se verem livres dos trabalhadores que, por qualquer razão, já não lhes interessa, chamados de "redundantes", sejam engenheiros, informáticos, operários altamente qualificados, secretárias e administrativos. Todos cabem no processo de restruturação. O filme é muito pedagógico e inspirador para gestores e directores de recursos humanos, aqui tão bem caracterizados "a la italiana".
A acção decorre em Taranto, na costa leste a sul de Itália, numa fábrica da poderosa Siderúrgica transalpina. O actor Élio Germano - que já tínhamos visto no filme "Confidência" em interpretação notável, tem aqui um desempenho em papel nos antípodas daquele, mas excelente de qualquer modo. Vale bem a pena assistir a este bom filme.
Pede-me o Que Quiseres
Constrangedor e mal construído do inicio ao fim
Maria Pereira
Este filme é uma verdadeira desilusão. Não tem enredo, não tem propósito e limita-se a explorar o lado físico das relações de forma gratuita e repetitiva. A protagonista, Judith, é imatura, e as discussões são constantes e sem sentido, criando um ambiente tóxico e vazio. O foco está apenas no desejo, no swing, nos ménages e no sexo sem qualquer emoção, reduzindo as personagens a meros objetos.
O pior é que retrata as relações de hoje em dia de uma forma fria e superficial, onde o amor é completamente esquecido e substituído pelo simples prazer físico. Não há ligação emocional, não há romance – apenas o vício pelo toque, como se isso fosse suficiente para sustentar uma história.
Falta profundidade, falta sentimento e falta, acima de tudo, uma história que prenda. Se procuras um filme que realmente explore as emoções e o significado de uma relação, este definitivamente não é a escolha certa. Honestamente, não vale o tempo nem a curiosidade de ver os próximos.
O Lugar do Trabalho
3 estrelas
José Miguel Costa
O filme "O Lugar do Trabalho" marca a estreia na realização do actor italiano Michele Riondino. Recorrendo a um registo de realismo fantástico algo felliniano, brinda-nos com um sombrio drama satírico (impregnado de humor ácido) sobre convulsões sociais e políticas num contexto de exploração neoliberal, tendo por base factos reais ocorridos, em 1997, numa grande empresa siderúrgica de uma cidade industrial no sul de Itália (Taranto).
O personagem central da história, Caterino (o próprio realizador), um operário individualista e "pintas', dado a todo o tipo de "esquemas", é seduzido pelo ignóbil administrador da empresa (Elio Germano), a troco de uma irrisória benesse laboral, para espiar os restantes trabalhadores com o objectivo de denunciar aqueles que estejam ligados a quaisquer "subversivas" actividades sindicais (e que, por consequência, serão transferidos para uma secção da fábrica, destituída de qualquer tipo de equipamento, na qual ficarão privados do exercício de qualquer função - por forma a exercer coação psicológica sobre os mesmos).
Seguimos a trajectória deste caricato (e estereotipado) sujeito, destituído de qualquer moral e consciência de classe, até ao período em que toma consciência de que não passava de uma peça descartável ao serviço do patronato que o despreza. A tentativa de ironizar sobre uma situação real dura de desumanização laboral foi-se revelando gradativamente gorada, fruto da adopção de uma comicidade inconsequente, demasiado estereotipada (soando, inclusivé, em determinados momentos, "ligeira"ridícula), que retirou carga dramática à obra.