Por estes dias no TVCine Edition, foi para mim uma prova cega de cinema. Dei com ele a meio num final de tarde, sem saber do que se tratava, e já não consegui largá-lo. Percebi mais tarde que se tratava de um filme apreciado, embora peculiar e menos conhecido, do mestre Scorcese.

Quando um filme nos espicaça, quando é verosímil porque retrata subtilmente qualquer coisa que reconhecemos e que nos espanta, é porque já saiu da casa do entretenimento e vai a caminho de ser arte. É o caso desta película que fiquei a saborear por mais de 24h.

Interpretações notáveis, viscerais, uma sátira impiedosa a algumas das nossas devoções mais superficiais, e uma grande capacidade de fazer rir pelo absurdo, pelo contraste, coisas que hoje em dia, passados 43 anos, vemos aqui e ali em filmes que muitas vezes deles fazem os seus melhores momentos.

E por último os detalhes. Há um delicioso, que envolve deixar cair uma arma, e que mostra como se pode ser inventivo para de uma assentada caracterizar uma personagem, a sua ingenuidade, e uma promessa de fracasso que não o demovem, contra todas as probabilidades. As mesmas de quando se liga a televisão ao acaso estar a dar um grande filme. Acontece. Mas pouco.