Os Fabelmans
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas Ípsilon
Spielberg: retrato do artista quando jovem
Autobiografia escondida com o rabo de fora, Os Fabelmans, que chega a 22, é uma enorme, mesmo que desequilibrada, carta de amor ao cinema.
Ler maisCríticas dos leitores
The fabel man who became just a man
Fernando Pimentel
Tenho recomendado este filme a tanta gente que devo uma explicação sobre estas duas horas e meia de inteligência e emoção, sem predominância excessiva de nenhum dos dois, o ideal para quem prefere não ir ao cinema ao pé coxinho. Podia ter entrado na sala por caridade. Faltava uma pessoa para as três mínimas requeridas para a projeção. Uma das outras duas chegou a recomendar-me o filme em detrimento dos outros em exibição, antes mesmo de os ter visto. Certamente que como eu costuma vir prevenida com a opinião de um crítico, porque é apenas um o tempo, é apenas uma a oportunidade, e mais vale ver trinta vezes o mesmo filme, se valer a pena, do que ver trinta filmes a mesma vez, numa espécie de respeito pela carta fundamental dos direitos dos filmes sem autor: "todos diferentes, todos iguais". Vou cometer um pequeno abuso de linguagem e chamar fábulas a alguns dos mais conhecidos filmes do Spielberg. Algum do ar que respiram já estava aí no século passado. O tubarão mostrava os dentes, um dos seus filmes mais conhecidos colocou um animal estrangeiro a falar (o E.T.) e até o Indiana Jones, apesar do entusiasmo que suscita, parece-se pouco com um ser humano, de tal modo se revela invencível e cheio de proezas, sem hesitações nem mácula. Este apelido de fabulista não diminui o autor, também o foram o George Orwell, ou o Saramago, por exemplo. Sobretudo porque, em menos de cem anos, o objeto fílmico do nosso realizador fez todo o percurso de evolução das espécies, desde uma condição mais animal, até àquilo que nos mostra no grande ecrã por esta altura. Temos uns Fabelman com a dose certa de coisas por explicar, um equilíbrio notável entre atores, drama, comédia, que se revezam na ocupação da película, sem protagonismo excessivo de nenhuma das partes, com a maior das simplicidades, lançando os temas e organizando-os sequencialmente, paralelamente ou através de referenciação. Nada disto é novo por si só, mas tudo é feito com uma maestria que desperta a sensibilidade e em alguns momentos comove. Um daqueles filme em que o pensamento surge como um grau de liberdade à posteriori, convocado pela experiência tida, e não como algo obrigatório para entender as coisas em tempo de projeção. Na fase recreativa do filme, enquanto o vemos, talvez não se compreenda ainda que o realizador parte do geral (o cinema) para o particular (o filme) e para o ainda mais particular (o filme do acampamento dentro do filme), para preparar o melhor momento, que dinamita as cargas dramáticas anteriormente colocadas, e cuja explosão traz a verdade ao de cima: "Eu não sou isso". Traduzindo: "Eu descobri o que sou (através do cinema)". Ou "Em casa tenho um macaco que é mais inteligente do que tu". Este momento sintetiza o poder humanizador do cinema, fazendo finalmente a substituição do ideal (simbolizado pelo corpo perfeito do estudante filmado no dia da gazeta) pelo real - o da mesma pessoa quando fica "perturbada". Por isso, este é, também, um filme religioso, que religa o homem das fábulas, e cada um de nós, ao seu centro, que é o de projetar e ser, apenas, um homem.
Nas mãos de um pequeno grande homem
JR
Com o horizonte acima ou abaixo, não mais esse pequeno rapaz esqueceu o áspero conselho do velho Ford, tornando-se, a par deste, um dos melhores realizadores de cinema de sempre. Nas suas mãos, a câmara tem-nos trazido momentos de cinema inolvidáveis. Este OS SPIELBERGS perdão, THE FABELMANS, registo auto biográfico, apenas engrossa o rol dos seus trabalhos geniais. Motivo fortíssimo para irmos a uma sala onde o seu princípio de vida se exiba. Acresce que, também nós, não pertencendo à família, ali nos comovemos com a nostalgia dos tempos idos.
O fascínio do Cinema
Martim Carneiro
Filme que retrata uma época (anos 50) da vivência de uma família judia, dos tempos do liceu e do despertar da paixão pelo cinema. Não é uma obra-prima mas é uma belíssima abordagem do tempo passado, com a marca de qualidade do realizador. Para continuar a saborear mesmo depois de sair da sala!
Os Fabelmans
Fernando Oliveira
É um DeMille tardio, “O maior espectáculo do mundo”, o primeiro filme que os pais de Sammy levam a ver a uma sala de cinema, a cena da colisão entre dois comboios deixa-o maravilhado, com a câmara do pai filma a encenação que faz com miniaturas de comboios para a poder ver vezes sem conta. Foi este o primeiro abalo que o Cinema lhe deu. Já adolescente, treinado a fazer filmes amadores com os colegas da escola, o pai pede-lhe para montar um filme a partir das filmagens que Sammy tinha feito num acampamento familiar: aí descobre que o Cinema também pode ser um cruel puxão para a realidade, é muito mais do que apenas entretenimento, com as ferramentas da montagem percebe a razão da tristeza que parece habitar sempre na mãe. O terceiro abalo que o Cinema lhe dá é a breve conversa que tem com John Ford… Assim este filme é uma autobiografia da relação de Spielberg com a sua memória cinematográfica; e contando também uma versão, muito ou pouco, romanceada da sua própria infância e adolescência descobrimo-nos no meio daquilo que muitas vezes foi o essencial no seu Cinema: a família e uma angústia, a sua perda. Temos assim na infância DeMille, e o Cinema entendido como uma industria do espectáculo e do maravilhamento; e na adolescência a descoberta de que os filmes e a vida nos filmes também podem ser um abanão violento. Com Ford descobre que a questão mais importante (?) é a localização do horizonte na imagem que queremos filmar. Em “Os Fabelmans” Steven Spielberg regressa à infância e à adolescência (e às suas memórias), uma aventura no reino dos afectos, numa família em ruptura por causa da separação dos pais. E onde, também como noutros filmes de Spielberg, é a dificuldade de dizer, de os personagens exporem aos outros a sua verdade, que leva aquela mistura de comédia e drama característica de muitos dos seus filmes. Um filme definido por um classicismo sem mácula, feito por quem acredita que o Cinema é também uma vontade de sonho, no seu gosto pelo espectáculo, pelo seu artifício, pelas emoções. Um filme fora deste tempo, portanto, feito por quem acredita que o Cinema também é pôr os actores (e Michelle Williams é absolutamente maravilhosa) a representar a história e deixá-los contá-la. O resto são as emoções. Um belíssimo filme. (em “oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com”)
2 estrelas
José Miguel Costa
"Os Fabelmans", o blockbuster natalício que levará o Steven Spielberg a papar Óscares à fartazana (quase aposto que será o novo Titanic!), é, grosso modo, um filme infantil (ou infantilizado?) lamechas até ao tutano. No entanto, parece que sou praticamente o único a nutrir este odiozinho de estimação pela semi-biografia fofinha (dotada de uma narrativa cor de rosa e repetitiva) do período de vida entre a infância e a juventude do dito cujo, já que até a generalidade da critica especializada considera-a "um tratado de amor ao cinema" (fico estupefacto!).
Os Fabelmans
Fernando Oliveira
É um DeMille tardio, “O maior espectáculo do mundo”, o primeiro filme que os pais de Sammy levam a ver a uma sala de cinema, a cena da colisão entre dois comboios deixa-o maravilhado, com a câmara do pai filma a encenação que faz com miniaturas de comboios para a poder ver vezes sem conta. Foi este o primeiro abalo que o Cinema lhe deu. Já adolescente, treinado a fazer filmes amadores com os colegas da escola, o pai pede-lhe para montar um filme a partir das filmagens que Sammy tinha feito num acampamento familiar: aí descobre que o Cinema também pode ser um cruel puxão para a realidade, é muito mais do que apenas entretenimento, com as ferramentas da montagem percebe a razão da tristeza que parece habitar sempre na mãe. O terceiro abalo que o Cinema lhe dá é a breve conversa que tem com John Ford… Assim, este filme é uma autobiografia da relação de Spielberg com a sua memória cinematográfica; e contando também uma versão muito ou pouco romanceada da sua própria infância e adolescência descobrimo-nos no meio daquilo que muitas vezes foi o essencial no seu Cinema: a família e uma angústia, a sua perda. Temos assim na infância DeMille e o Cinema entendido como uma indústria do espectáculo e do maravilhamento; e na adolescência a descoberta de que os filmes e a vida nos filmes também podem ser um abanão violento. Com Ford descobre que a questão mais importante (?) é a localização do horizonte na imagem que queremos filmar. Em “Os Fabelmans” Steven Spielberg regressa à infância e à adolescência (e às suas memórias), uma aventura no reino dos afectos, numa família em ruptura por causa da separação dos pais. E onde, também como noutros filmes de Spielberg, é a dificuldade de dizer, de os personagens exporem aos outros a sua verdade, que leva aquela mistura de comédia e drama característica de muitos dos seus filmes. Um filme definido por um classicismo sem mácula, feito por quem acredita que o Cinema é também uma vontade de sonho, no seu gosto pelo espectáculo, pelo seu artificio, pelas emoções. Um filme fora deste tempo, portanto, feito por quem acredita que o Cinema também é pôr os actores (e Michelle Williams é absolutamente maravilhosa) a representar a história e deixá-los contá-la. O resto são as emoções. Um belíssimo filme.
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