Confissões de Uma Namorada de Serviço

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Drama 76 min 2009 M/16 14/07/2011 EUA

Título Original

The Girlfriend Experience

Sinopse

Cinco dias não consecutivos desvendam o dia-a-dia de Chelsea (Sasha Grey), uma jovem nova-iorquina de 22 anos. Prostituta de luxo em Manhattan, ela tem a vida aparentemente controlada: uma casa, um namorado compreensivo e uma vida luxuosa. A cada cliente ela oferece, a dois mil dólares por hora, o seu corpo e a sua mente, tornando-se sua namorada e amiga por um dia ou uma noite. Porém, quando os negócios implicam pessoas, tudo se torna imprevisível e Chelsea acaba envolvida em algo para além do seu entendimento.<br />Um filme de baixo orçamento, filmado em 14 dias pelo realizador Steven Soderbergh - algo que não é uma novidade para o cineasta: em "Sexo, Mentiras e Vídeo", o seu primeiro grande sucesso, Soderbergh ("Erin Brockovich", "Traffic - Ninguém Sai Ileso", "Ocean's Eleven") criou uma obra de culto com apenas 1,2 milhões. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

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É a economia, estúpido

Jorge Mourinha

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Críticas dos leitores

É essa a ideia

Hugo Pires

<p>Em relação a uma atitude generalizada para não encontrar valor nos filmes cuja opção é precisamente aquela de não nos ofuscar e de nos deixar a tal sensação de desconforto da 'insuportável converseta no avião': sendo que o cinema não é restritamente um contador de histórias mas, mais do que isso, uma tradução audiovisual de uma perspectiva sobre um assunto, como é que se pede a um autor que tem uma perspectiva pessimista sobre um mundo capitalista e oco, suportado por megalómanas edificações, por conversas de negócios e de jactos privados, por ginásios, e por todas essas aparências que nos fazem ficar com "eyes wide shut" em relação a um vazio iminente, que fizesse um filme que nos levasse para a sala de cinema só para esquecer que lá fora ainda continua a existir um mundo também bem maldisposto entretanto.<br />Se queremos ver bom cinema, suponho que estejamos à espera de intenções coerentes, e se  a par disso, vier uma boa dose provocatória de má disposição pelo confronto com personagens desinteressantes e com um mundo desestruturado, que venha. Ao menos não somos ofuscados pelas belezas capitalistas do ecrã. E penso que seja precisamente essa a ideia.</p>
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O mercado

Pedro Vardasca

<p>Uma rápida retrospectiva da filmografia de Soderbergh firma a ideia de uma carreira construída com base em dois eixos primordiais. O primeiro reporta à dispersão estilística do seu acervo, o que traz à memória a tradição de alguns dos nomes cimeiros da história do cinema norte-americano. O trabalho por si empreendido não se circunscreve a dois ou três géneros, abraçando múltiplos caminhos, que se iniciam num longínquo ensaio sobre o voyeurismo ("Sexo, Mentiras e Vídeo"), cruzam a ficção científica ("Solaris"), o drama de contornos ecológicos e o desastre da adição ("Erin Brockovich" e "Traffic - Ninguém Sai Ileso"), detêm-se no cinema de natureza biográfica ("Che - O Argentino" e "Che - Guerrilha"), no "noir" ambientado em tempo de guerra ("O Bom Alemão") e na actualização do filme de assaltos na trilogia Ocean´s, entre outras obras de difícil classificação, como o "Falcão Inglês" e Bubble.<br /><br />Para além desta disseminação, Soderbergh revela-nos outra marca relevante no seu cinema, que não se enquadra claramente nos padrões da indústria, mas tão-pouco se encerra na trincheira do cinema independente. Na verdade, o realizador de "Atlanta" tem conseguido, em muitos dos seus filmes, fazer conviver a ideia do espectáculo de multidões com uma razoável elaboração da trama, mesmo nas suas produções mais comerciais, como a saga Ocean´s, repleta dos actores mais populares da última década, mas sem a abundância do traço decisivo para o sucesso no actual cinema norte-americano, os efeitos especiais. Ou seja, mesmo quando ligeiro, Soderbergh não expressa a literalidade mais comummente identificada com Hollywood, alcançando uma visibilidade importante junto de públicos mais minoritários, que depois se saciam nos seus filmes mais matizados pela experimentação.<br /><br />Há pouco estreado em Portugal, "Confissões de Uma Namorada de Serviço" confunde novamente o lugar que Soderbergh ocupa no cinema contemporâneo. As razões são várias, mas começamos pela mais simples, que é a entrega do papel principal - Chelsea, uma prostituta vocacionada para o entretenimento da finança - a uma antiga actriz de um mundo tão apartado como a pornografia, Sasha Grey, afirmação que procede da simples verificação de um facto singular na rotina do cinema dos Estados Unidos. Por isso, a raridade de alguém habituado às estrelas optar por uma figura excêntrica é uma parte essencial do próprio significado do filme, irreverente desde a sua preparação.<br /><br />Depois, temos o ângulo que nos traz uma história longe de ser nova, os colapsos recorrentes do capitalismo financeiro norte-americano, desta vez o de 2008. O descalabro não é tratado pela denúncia de maquinações assombrosas para a obtenção de lucros, mas sim a partir do papel de uma prostituta num mundo de homens que há muito abandonaram as convicções nos valores que distinguem a humanidade da barbárie, exibindo os seus corpos mercantilizados em cenários característicos da supremacia económica - hotéis, ginásios, restaurantes exclusivos. Ironicamente, é Chelsea que faculta uma réstia de afecto a estas vidas baças - ainda que ornamentadas pelo luxo e pelo prazer -, mesmo que as suas motivações sejam puramente materiais, pois não há no seu rosto nenhuma dimensão sacrificial. Vende-se porque gosta de comprar, o que também justifica a cumplicidade do seu namorado, igualmente amante das coisas que apenas o dinheiro pode alcançar. <br /><br />Finalmente, Soderbergh constrói uma narrativa fragmentada, com avanços e recuos temporais, mas que nunca abandona a sua inteligibilidade. O filme é ambientado em espaços fechados, nos quais o labor afectivo de Chelsea é enquadrado numa intimidade que chega a sugerir a rotina dos verdadeiros casais. No entanto, este lampejo de calor não chega para apagar a impessoalidade dos lugares, feitos apenas de matéria e desprovidos do bulício dos seres humanos. Este enregelamento nunca abandona Confissões de Uma Namorada de Serviço, que, na verdade, é um filme atravessado por fantasmas munidos de crédito, pessoas incapazes de pensarem fora do jargão financeiro. <br /><br />Por isso, a maior virtude do norte-americano residirá, porventura, na capacidade de modelar a crítica a uma crença fortemente arreigada no seu país no quadro de uma realização minimalista, sábia na justa gestão do silêncio, das palavras e dos cenários em que as personagens exibem o seu sonambulismo. Sem favor, Soderbergh consegue aqui um dos seus melhores filmes, que merece a atenção de um público alargado.</p>
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A banalidade, sem confissões

Nazaré

<p>Se é de Steven Soderbergh, há-de ser bom. E é. A questão é se se gosta. E uma prostituta como protagonista raramente é agradável ao palato, ainda por cima se é num tom de documentário, com as banalidades do dia-a-dia, e praticamente nenhum sexo que se veja! Então para que serve ir ver um filme destes?<br /><br />Para a beleza um tanto exótica da protagonista (Sasha Grey née Marina Ann Hantzis, uma muito experiente girl de filmes adult), que está presente quase todo o tempo, quer com a sua figura quer com a sua voz meio infantil, e que nunca chega a cansar; para ver como a crise financeira no seu máximo de choque (Outono de 2008) estava a afectar os americanos (eles também foram vítimas); para ver este regresso do realizador a um cinema experimental, de baixo cachet e imaginativo...<br /><br />Acima de tudo, para vermos a maneira como a "namorada de serviço" lida com as máscaras, suas e dos outros. Bem se vê como a mentira é o estado natural em que vivem as pessoas, sempre convencidas da sua esperteza. Mesquinhas. Esta mulher tem o ofício de ser para os homens o que eles querem ver nela, para que eles possam ser "outra coisa" (nem sempre boa) despida dos disfarces do quotidiano. A máscara, durante esses momentos, usa-a ela.<br />Não é uma fita fora de série, mas é invulgar, é... "The Girlfriend Experience experience".</p>
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A antítese da paixão

Carlos Natálio / Ordet

<p>Mais de dois anos depois da sua estreia mundial, estreia esta semana em Portugal o polémico filme do cineasta «experimentador» Steven Soderbergh, THE GIRLFRIEND EXPERIENCE. Filmado em 16 dias e com um orçamento de menos de 2 milhões de dólares, este surge como um olhar de ressaca sobre o efeito devastador do sistema capitalista, não só nos seus profissionais empresários, mas sobretudo na vida de uma call girl de luxo nova-iorquina, Chelsea (Sacha Grey) e do seu namorado Chris (Chris Santos), instrutor num ginásio. Mas isto já é ler a metáfora de abandono que o filme contém e que lá está escarrapachada. Na verdade Soderbergh dá-nos um mosaico de encontros, não cronológico, de Chelsea com os seus clientes - empresários deprimidos com a situação económica - com críticos de sexo que a tentam ajudar a promover o seu site ou com jornalistas interessados em escrever uma história interessante.<br /><br />Se esta ideia de colocar o esforço de uma prostituta de luxo e do seu companheiro para subirem de vida, num ambiente de tensão financeira, é ela própria uma ideia da ordem da pornografia da associação, se assim lhe podemos chamar, este não é o único ponto de atracção do filme. O outro é que Sacha Grey, actriz principal de THE GIRLFRIEND EXPERIENCE, é leitora assídua de Thomas Pynchon e compositora de «noise music» além de na vida real ser actriz pornográfica ou «performance art», como ela diz. Daqui resulta este fait diver (no qual Soderberg é mestre, lembremo-nos de BUBBLE e da sua estratégia de lançamento) que deveria catapultar o filme para uma espécie de interesse extra que deixa o cineasta americano no nível que mais o interessa: a sombra autoral de onde compõe a fotografia dos seus filmes a partir de variados pseudónimos, de onde trabalha a montagem ou manipula actores em sets estilizados (ou não tivesse ele uma costela nórdica).<br /><br />E eis-nos chegados ao seu enigma.<br /><br />É provavelmente a partir do facto de Steven Soderbergh saber diferenciar muito bem o potencial de uma ideia, da sua execução (sendo que este considera que os seus «falhanços» estão sempre do lado conceptual), que deve ser analisado o ecletismo da sua carreira. Se da história do cinema temos exemplos da uniformidade de um universo autoral construído por sobre uma diversidade de registos (Howard Hawks ou Michael Curtiz, de quem Soderbergh é confesso admirador, como expoentes máximos), em Soderbergh, a diversidade de registos tem, não só dificultado a sua categorização artística (o que nem é mau), mas também fomentado a construção, repetimos construção, de uma «ausência» de estilo autoral. Ou por outra, as distâncias focais nos quartos de hotel, restaurantes e salas, o aproveitamento dos músicos de rua, os décors a esconder os actores são tudo elementos que contribuem para que muito de THE GIRLFRIEND EXPERIENCE seja realizado como uma música easy-listening: sem falhas na «execução» mas com uma sombra fria que nos adormece.<br /><br />É nessa linearidade que a expressão adolescente e traumatizada de Sasha Grey, que escreve pormenorizadamente os encontros com os clientes, deixa entrever uma dimensão emocional, intimista, a que é difícil aceder. No caso da actriz porno, esse lado é veiculado pelo velamento pornográfico patente no seu olhar e nunca na natural capitalização do seu corpo. Nesse aspecto, o casting do filme permite que THE GIRLFRIEND EXPERIENCE tenha essa dimensão de boneca russa, de algo pequeno a fazer-se grande, de uma loba que é realmente cordeiro ou vice-versa. A esse jogo de identidades, Jean Luc Godard, cujos filmes dos anos 60 são aqui homenageados, nunca se permitiria. Trata-se antes das figuras reais de Godard, num jogo «anti-godardiano» de questionamento das suas realidades.<br /><br />Seja como for, sabe-nos a pouco. Tal como o jornalista diz a Chelsea, também nós ainda estamos à espera de aceder ao seu «inner you». Neste caso ao do cineasta americano.</p>
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