François Ozon é um dos realizadores franceses mais produtivos, polivalentes (saltitando entre géneros cinematográficos de obra para obra, apesar das temáticas que abarca serem recorrentes – sexo e morte) e interessantes da actualidade e, simultaneamente, um dos mais irregulares em termos de produto final. <br />Desta feita, com “Verão de 85” calhou-nos em rifa um dos seus “filmes não”, com a agravante deste ter um cheirinho a rip off (menor) da pelicula “Chama-me Pelo Teu Nome” de Luca Guadagnino. <br /> <br />A historia vaga, relatada em off num flashback que nos permite ir montando o “puzzle” (pouco misterioso e/ou emotivo), incide sobre o brotar repentino de um amor de verão (no ano de 1985) entre dois rapazes da Riviera francesa (encarnados de modo competente por Félix Lefevbre e Benjamin Voison), que irá deixar marcas profundas. <br /> <br />Independentemente de ser de filmado em formato 16 mm, que lhe imprime uma aura “mais autoral”, não passa de uma espécie de teen movie (jamais pensei emitir um comentário desta natureza sobre um filme do Ozon), com uns ingredientes de thriller, que não acerta no tom. Oscilando, numa eterna indefinição, entre o colorido pop nostálgico (que nos incita a abanar a cabeça ao som dos The Cure” e outros tesourinhos sonoros oitenteiros) e o gótico light (que nunca chega ser efectivamente dark, mesmo nas cenas alegadamente mais dramáticas, que, em boa verdade, por vezes, até resvalam para a fronteira do ridículo/piroso), acaba por desembocar em algo que “não é carne nem é peixe”.

Ozon ressuscita Frantz, adaptando-o ao mundo moderno. Temos a relação muito próxima entre dois rapazes - no primeiro caso sonhada, no segundo real. Em ambos os casos o drama gira à volta do cemitério e da tumba de um deles. É um Pedro e Inês contemporâneo ou um Romeu e Julieta ao vivo lá para as bandas das falésias de Étretat- cenário de alguns espantosos contos de Maupassant e de famosos e belíssimos quadros impressionistas, como os de Monet, entre muitos outros.

Original e multifacetada abordagem sobre o amor e a morte. Com uma interpretação mais intensa nos momentos dramáticos e a introdução de uma diferente musicalidade poderiam ter elevado a qualidade do filme.

Primeiro estranha-se depois entranha-se. Um filme que nos transporta para o filme das nossas vidas e os seus momentos de maior autenticidade e liberdade, que tantas vezes apelidamos de ilusão quando observadas do presente. Dedicadas performances de jovens actores e uma banda sonora que nos faz suspender acima da tela. Um filme simples mas que consegue ferir ao mesmo tempo que autentifica o que mais apaixonado vivemos outrora, independentemente da geração.