O direito à infância
João Guerra - http://mr-robinson.blogspot.com
Apadrinhado pela Amnistia Internacional, o presente filme é constituído por sete curtas-metragens cuja temática transversal é mostrar o papel das crianças, as suas dificuldades e problemas, e acima de tudo o seu estatuto em pleno século XXI, nas mais diferentes culturas. A primeira curta, da responsabilidade de Mehdi Charef (Argélia) conduz-nos até à história das crianças que são usadas como soldados em guerras cruéis, em relação às quais são completamente alheias, neste caso no Burkina Faso. Segue-se a curta de Emir Kusturica, cujo ambiente é fácil de reconhecer. Trata-se da história de meninos que são manipulados pela sua família (ciganos) e obrigados a roubar, e como as prisões/casas de correcção podem servir como tábua de salvação para estas crianças. A América de Spike Lee é a terceira curta do filme e aborda a marginalização das crianças filhas de toxicodependentes e seropositivos e os estigmas e preconceitos que normalmente lhes estão associados. A rivalidade entre classes, as questões sociais (droga, sida, guerra, raça) e a segregação social enformam um dos segmentos mais interessantes do filme. Como país de terceiro mundo e conhecido mundialmente pelas desigualdades sociais extremistas que o caracterizam, o Brasil não poderia ficar de fora.<BR/><BR/>As favelas são, naturalmente, o cenário eleito por Katia Lung (co-realizadora do filme “Cidade de Deus”), que nos dá a conhecer o percurso de duas crianças que percorrem diariamente a favela onde vivem em busca de cartões, latas, lixo... que vendem a troco de meros tostões. A quinta curta metragem, de Jordan e Ridley Scott, é a história de um fotógrafo de guerra que se sente atormentado pelos cenários que presenciou, destacando as dificuldades vividas por um grupo de órfãos do leste europeu e a sua luta pela sobrevivência.<BR/><BR/>Seguiu-se Itália (Stefano Veneruso), com as suas majestosas praças que são palco de diários assaltos levados a cabo também por crianças, vítimas do crime organizado. A ocorrência de um desses furtos é pretexto para assistirmos aos discursos e representações que o italiano comum tem sobre esta realidade que lhe é tão próxima. Finalmente, John Woo conclui este filme contando uma história que põe em evidência as desigualdades sociais na China, opondo uma menina rica a uma menina pobre, com especial incidência na escravidão das crianças/trabalho infantil.
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