Passo em falso
Pedro Brás Marques
A saga "Alien" continua com "Covenant", sexto filme da série ou segundo se optarmos pela ordem cronológica da narrativa. De facto, estamos perante a continuação de "Prometheus", o filme em que se optou por dar um início a esta história que mistura terror com ficção científica. <br /> <br />Estamos a bordo da nave "Covenant", transportando não só milhares de humanos em hibernação, como centenas e centenas de óvulos. Quando ainda faltavam sete anos para o destino, a tripulação é acordada pelo andróide Walter, forçado a tal por via dum acidente que danificara a nave. Durante a reparação, detectam um pedido de socorro vindo de um planeta relativamente próximo, pelo que alteram a rota e dirigem-se para lá. Uma vez na superfície, descobrem as ruínas duma antiga civilização e os escombros da nave Prometheus. Só que alguns membros da tripulação são infectados por microorganismos, acabando por gerar dentro de si os xenomorfos que os matam. Os sobreviventes acabam salvos por David, o único tripulante que resta da primitiva nave que ali pousara. Mas rapidamente se apercebem de que nem tudo o que parece amigável o é, descobrindo a verdade sobre o que lá aconteceu e o papel de David em toda a tragédia… <br /> <br />Este "Covenant" é claramente um passo em falso de Ridley Scott. Se o realizador/pai da saga tinha acertado na opção de fazer voltar toda a história ao seu ponto zero de criação, aqui praticamente não acrescenta nada de relevante, pouco mais sendo do que “mais do mesmo”, o que até nem é mau. O problema é o da comparação, em especial com "Prometheus", onde o nível simbólico da série atingiu o seu zénite. Neste filme, ouvia-se o eco do mito de Prometeu, que quis roubar o fogo aos deuses e acabou condenado à danação eterna. Agora, eram os humanos que queriam descobrir o princípio e o sentido da vida, um tema caro a Scott, bastará recordar "Blade Runner" pelo que foram castigados com um ser terrível, o "alien". O próprio David, um andróide que se revoltava contra o seu criador, era outro dos grandes temas propostos, igualmente com enorme carga simbólica, lembrando os “replicants” do citado filme de Scott. Aqui, pouco ou nada disto encontrámos, apenas a lógica evolução narrativo destas questões, muitas delas como as habituais soluções, entre elas o clássico combate final entre o "alien" e um elemento do sexo feminino. Já tínhamos percebido a dimensão gestacional do momento, não era preciso repetir… <br /> <br />Um dos desenvolvimentos mais interessantes tem a ver com os dois andróides, David e Walter, ambos magnificamente interpretados por Michael Fassebender. Há um momento de enorme tensão homoerótica, em que estão apenas os dois robots, em amena conversa, e onde um ensina o outro a tocar flauta, seguido dum discurso sobre a capacidade dos andróides de terem sentimentos, terminando com um beijo de um a outro, como se só eles fossem seres dignos de amor recíproco… Com excepção disto e de pouco mais, o filme oscila entre a escuridão e o terror do filme original, “Alien o 8º passageiro” e o seguinte, o bélico “Aliens-O Recontro Final”, de James Cameron. Quanto ao resto, Ridley Scott não consegue filmar mal, e os efeitos especiais são “state-of-the-art”, como era de esperar…
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