Estranhos de Passagem

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Drama 107 min 2002 M/16 17/10/2003 GB

Título Original

Dirty Pretty Things

Sinopse

Um médico nigeriano que foi obrigado a fugir do seu país trabalha em Londres como taxista de dia e recepcionista de hotel à noite. No mesmo hotel trabalha também, como empregada de limpeza, Senay (Audrey Tautou, a famosíssima Amélie Poulain, num registo completamente diferente), uma virgem muçulmana turca. Os dois são imigrantes ilegais, ou seja, vítimas constantes de chantagens, perseguições, abusos e explorações. Ela aluga-lhe o seu sofá. Um dia, ele descobre que a entupir uma sanita no hotel está... um coração humano. Este é o ponto de partida para o filme de Stephen Frears (realizador de "Alta Fidelidade" e "A Carrinha", entre outros).

PUBLICO.PT

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Kathleen Gomes

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Gente com coração

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Críticas dos leitores

Dickens passou por Dogville

J.P. Tomás

"Dirty Pretty Things" é um belo título. Stephen Frears deu-nos "The Grifters", "The Snapper" e "High Fidelity", o que forma um belo cartão de visita. Os actores por si dirigidos oferecem-nos belos desempenhos (sobretudo o notável naipe de secundários). Os valores de produção estão todos lá. Mas o filme falha. Porquê? O pecado, a meu ver, é excesso de amor. A riqueza dos filmes mencionados acima é o seu olhar profundo e matizado sobre as personagens: a sua força e fraqueza, os seus vícios e virtudes, enlaçam-se como numa espiral de ADN. São humanos. Já Okwe, o médico/imigrante ilegal protagonista de DPT, não é. É um herói de melodrama. A virgem Senay, o untuoso Sneaky (!), a "boa" prostituta Juliette e a parelha de Duponts da polícia da emigração compõem uma novela vitoriana, de bons muito bons e maus muito maus (e feios, e porcos). Tipos, em vez de pessoas, dados a declarar em vez de falar. A justa solidariedade de Frears pela tribulação dos emigrantes ilegais levou à idealização de Okwe, até à beatificação. Tamanha certeza na virtude e no vício, que se coaduna bem com o vazio abstracto de Dogville, traduz-se nas ruas sujas e belas de Londres num moralismo desconfortável. Continuamos a espera de um grande filme acerca deste terrível tema. E continuamos certos que nos aguardam grandes filmes de Stephen Frears.
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O realismo (camuflado) do cinema de Stephen Frears

Luís Mendonça

Não é a primeira vez que Stephen Frears se preocupa com os problemas sociais que assolam as sociedades modernas. Já em «A Carrinha» ou no seu último «Liam», Frears demonstrava uma clara necessidade em mostrar aquilo que muitas vezes é evitado por nós: o desemprego é um dos seus temas de eleição. Em "Pretty Dirty Things", Frears aborda outro dos flagelos sociais, a imigração ilegal. Não se limita a mostrar a realidade dura e crua: Frears pega no género do "thriller" para nos levar a uma viagem sem fim ao mundo paralelo da imigração ilegal e do tráfico de orgãos. Conta uma história de ficção sob o disfarce do "thriller", que nos vai cuspindo na cara a realidade que nós tanto evitamos. É um filme-aviso, uma experiência-limite que nos vai fazer abrir os olhos para um dos problemas mais marginalizados da nossa sociedade. E se calhar é por isso que "Dirty Pretty Things" constitui um tipo de cinema invulgar: na pessoa de um imigrante nigeriano (Chiwetel Ejiofor), vamos descobrindo a sujidade que escorre dentro do hotel Londrino onde ele trabalha e, ao mesmo tempo, constatando a realidade de um país e até do mundo em que vivemos. Okwe (o imigrante nigeriano) descobre um coração humano a boiar numa sanita de um quarto do hotel, mas, devido à sua condição de exilado, resolve ignorar o incidente. Ao frenesim da sua vida, que não o deixa dormir, junta-se esse mistério sinistro que o corrói por dentro. Quando os factos tornam-se insuportáveis, Okwe começa a fazer perguntas e a afundar-se num autêntico inferno na terra. Ao mesmo tempo, ele e a sua colega de quarto, de origem turca (Audrey Tautou), são procurados pela policia de estrangeiros e fronteiras. O imaculado Chiwetel Ejiofor tem, neste filme, uma das melhores interpretações masculinas do ano. Sabe-se que a primeira escolha de Frears para o papel de Okwe era o oscarizado Denzel Washington, mas Chiwetel tomou conta do recado. A sua figura fatigada, o seu rosto marcado são aspectos que só contribuem para o crescendo emocional de Okwe. O desespero é evidenciado pelo seu olhar estagnado e pelo seu corpo cada vez mais encurvado. Não se trata de um actor espalhafatoso que mostra tristeza com uma lágrima tirada a conta-gotas: Chiwetel Ejiofor tem vida no ecrã e é genuíno. É raro encontrar-se tamanha dedicação. Audrey Tautou, a maculada mas sempre bela Audrey Tautou, não foi, de facto, das opções mais geniais de Frears para este filme. Contudo, não deixa de ter uma interpretação simpática. Parecem-me óbvias as suas limitações ao nível da representação - ainda paira o fantasma de Amélie -, mas Tautou tem sempre uma presença luminosa, digna de nota. O trio invulgar Stephen Frears, Chiwetel Ejiofor, Audrey Tautou é o trio que faz de "Dirty Pretty Things" um dos filmes mais curiosos e estranhos do ano. O romance platónico entre Tautou e Ejiofor é que me pareceu um elemento fútil e desnecessário. A ideia do coração perdido que volta a ter um dono mostra-se excessivamente colorida para as exigências do filme. O maior génio está na simbologia utilizada por Frears. O contraste dos mármores polidos do hotel com o obscurantismo, para não dizer sujidade, do negócio que aí se desenvolve é um pouco o espelho do nosso comportamento em relação à realidade da imigração ilegal: olhamos comodamente para a fachada do edifício, temos noção que ele existe, mas não queremos lá entrar. Frears ousa entrar e inquieta-nos com o que vê.
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