Continua a ser o melhor filme de Stephen Frears e contém as melhores presenças cinematográficas de Anjelica Huston e Annette Benning, que aqui elevam a frieza e a monstruosidade a níveis que só têm paralelo nas crápulas desempenhadas, no passado, por Barbara Stanwyck ou Gloria Grahame. E no entanto, Frears nunca faz a mera recriação decorativa de um género, o filme negro. Ao contrário, o olhar é de um rigor clínico, quase abstracto. Los Angeles é uma espécie de aquário, um espaço sem data como sem idade é o guarda-roupa, onde três seres se devoram. A"natomia do Golpe" é a tragédia de três falhados, três marionetas que não conseguem fugir ao seu destino. Eles são John Cusak, o filho, Annette Benning, a amante, Anjelica Huston, a mãe: o primeiro é o medo da mulher, o pavor da consumação do sexo, o desejo de regresso ao útero materno; a segunda é a angústia neurótica da morte; a terceira, sublime, é a luta animal pela sobrevivência. Filme negro filmado com uma sonolência felina.<p/>PUBLICO.PT