Este filme não é apenas a história sobre um grupo de legionários anacrónico, perdido na memória do sargento Galoup. Claire Denis concentra-se nos corpos, filmando-os com sensualidade e é através deles que nos convida para a dança do filme.
Num estilo mais próximo da poesia do que da narrativa, as elipses recorrentes marcam o compasso da nossa percepção e da nossa viagem por décors ora maravilhosos, ora rudes, através da fotografia deslumbrante de Agnès Godard.
Galoup, um ex-oficial da Legião Estrangeira, recorda os seus gloriosos dias no Golfo de Djibouti. Nessa altura a sua vida era severa mas feliz. Só que a chegada de Sentain, um jovem recruta promissor, faz com que o ciúme se intale no pensamento de Galoup. Sente-se compelido a impedir que esse jovem conquiste a atenção do comandante que ele tanto admira, mas que o ignora. E a sua ambição fará com que ambos, Galoup e Sentain, sejam destruídos.
Baseado no conto de Herman Melville, "Billy Budd", o filme enfatiza o ritual e a banalidade dos dias destes militares debaixo de um sol abrasador. Passam os dias a praticar vigorosamente exercícios militares e a desempenhar tarefas domésticas. O contacto com os habitantes é mínimo, limitado às saídas nocturnas.
Trata-se de uma abordagem poética e lírica de um mundo masculino muito especial e fechado, através dos seus rituais e conflitos emocionais dificilmente contidos.
O filme está saturado com uma banda sonora deslumbrante que se combina com imagens luxuriantes da beleza rude dos trocos musculados destes homens, tendo como pano de fundo a maravilhosa paisagem africana. Esta combinação cria um poema visual que se actualiza através de movimentos de dança e ressoa com o poder de uma tragédia grega.

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