Perante o Teu Rosto
Título Original
Dangsin-eolgul-apeseo
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas dos leitores
Perante o teu rosto
Fernando Oliveira
Em quase todos os filmes de Hong Sang-soo o tempo fragmenta-se, colide com a narrativa, o que faz com que as suas encenações da banalidade do dia-a-dia parecem serem elevadas a um outro plano fora da realidade (julgo que foi ele que disse que “realidade” é uma palavra que inventamos por necessidade), um sonho preso por fios ao lado de cá. Em Hong o Cinema não é a vida (nunca é), ponto final. No mais belo filme estreado este ano em Portugal, “Perante o teu rosto”, Hong surpreende-nos e conta-nos uma história que acontece no espaço de vinte e quatro horas, sem desorientações na progressão temporal. Sangok é uma mulher que regressa dos EUA à Coreia; fica a viver em casa da irmã; tem um passado como actriz e a seguir ao almoço tem um encontro marcado com um realizador. Percebemos (a extraordinária interpretação de Lee Hye-yeong ajuda-nos muito e entender o personagem) que carrega com ela um segredo. O filme começa com uma prece, depois o passeio que faz com a irmã na manhã daquele dia parece ser um reencontro, mas há uma tristeza que não despega. A visita à casa aonde cresceu é tanto uma recordação como uma despedida. A segunda parte do filme, o encontro com o realizador que quer filmá-la, é filmada à mesa num bar fechado, falam muito e bebe-se muito soju, e Sangok “conta-nos” a verdade: está à espera da morte. Esta tragicidade pouco comum nos filmes de Hong é depois esbatida quando ela “nos” diz que encontrou a paz porque começou a perceber “a clareza das coisas que vê perante o rosto”. Quando no dia seguinte o realizador lhe deixa uma mensagem a dizer-lhe que não consegue filmá-la, ela risse, risse bastante. E o filme volta ao inicio, ela olha para a irmã a dormir. O único abanão no tempo que Hong faz no filme. É um filme quieto, bastante quieto: informa o IMDB que são apenas trinta e dois planos, alguns longuíssimos, quase estáticos (pequenos movimentos de câmara, ou aproximações repentinas aos personagens) como se a câmara fosse outra personagem olhando o que está a acontecer, conseguindo com isto captar a fragilidade dos sentimentos, a beleza das pequenas coisas, a complexidade que existe na maneira como as pessoas se relacionam. Também é bastante curiosa a religiosidade que Hong trouxe para os seus filmes (também “Apresentação” começa com uma oração), e a insistência nos relacionamentos familiares (com a curiosidade até de a actriz e actor que representavam mãe e filho em “Apresentação” também o fazerem neste), quando até agora eram muito mais encontros ou desencontros românticos ou de amigos. Belíssimo filme. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
Perante o Teu Rosto
Maria Cláudia Pinto Soares Sodré Borges
Eu aconselho a visualização deste filme. Graças à excelente representação da atriz principal! Existem, no filme, momentos de silêncio, nos quais as palavras são lidas nas expressões dos atores; momentos muito comoventes como a cena da atriz (a personagem principal foi uma atriz que, apesar de ter tido uma carreira curta, marcou aqueles que a viram representar) com a irmã, a menina, o sobrinho e o jovem realizador. Enfim, muitas cenas ricas de emoções e de frases poéticas (?)! Ela procura afugentar o medo do futuro consolando-se (gostei muito da palavra “consolo” que não sei se era a original, mas encantou-me!) com a beleza da vida: os seres humanos, a tranquilidade do pátio da sua infância, a inocência de uma criança… e não conto mais! É um pouco triste, mas ao sair do cinema Trindade encontramos o movimento normal de uma cidade pacífica e cheia de encantos: o Porto, Portugal e… consolámo-nos!
3 estrelas
José Miguel Costa
O realizador sul-coreano Hong Sang-Soo é um dos meus ódios de estimação, não suporto quase nenhum dos seus filmes (inclusivé, dois deles já me levaram ao abandono da sala de cinema - comportamento que raramente adopto).
No entanto, qual masoquista, volto sempre ao "local" onde não fui feliz de cada vez que o dito cujo estreia uma nova obra (e o pior é que ele se revela bastante produtivo), para tentar ver se ele me "entra" (salvo seja!), pois chego a questionar-me se não terei um qualquer handicap intelectual, já que a generalidade da critica especializada o endeusa.
Deste modo, lá fui visionar "Perante o Teu Rosto", tendo-me mantido sentadinho até ao final da sessão (sem mexer-me impacientemente) e eis que... até gostei!!!
Acabei por deixar-me seduzir pela sua narrativa directa e objectiva (algo que, por norma, "não lhe assiste"), que nos introduz no seio dos encontros que uma elegante e enigmática mulher de meia-idade (retornada à sua terra natal, após muitos anos emigrada nos USA, por um motivo que apenas descobriremos à posteriori) manteve (ao longo de um só dia) com a sua irmã e um realizador que pretende fazer um filme consigo enquanto protagonista.
Os diálogos estabelecidos entre estes três elementos, apesar de casuais e banais, são dotados de uma atractiva solenidade/formalidade (porventura, apenas decorrente de uma mera questão cultura, mas não deixa de exalar um certo exotismo oriental).
Realce-se ainda (e sobretudo) o despojamento técnico das filmagens, que se traduz numa simplicidade visual soberba.
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