Os Ladrões
Título Original
Les Voleurs
Realizado por
Elenco
Críticas dos leitores
Os ladrões
Fernando Oliveira
Quando vi “Os ladrões”, há vinte e tal anos, achei que era um filme demasiado confuso. Agora que o voltei a ver continuo a sentir o mesmo, não porque conta a história num tempo aos ziguezagues, mas porque para além desta escolha parece que nunca chega a um desenlace.
Os personagens de “Os ladrões” parecem ser incapazes de amar, vivem enleadas numa teia de ódios aprisionados numa violência íntima, neles parece habitar uma tristeza sem limites, são por isso personagens sem redenção, sem futuro. Não procura uma resposta para eles.
E se é verdade que Téchiné gosta dos seus personagens (e os seus actores) e das suas contradições (vejam como “olha” para os seus rostos, para o “estremecimento” dos corpos, para hesitação que parece tomar conta deles), o filme mostra-nos o relacionamento entre eles definido como uma constante transacção: a família, as amizades, os amantes, todos podem ser “trocados”. Roubados.
Alex (Daniel Auteuil) é polícia e envolve-se sexualmente com Juliette (Laurence Cotê) que trabalhava para Ivan, irmão de Alex, que aparece morto no início do filme; Juliette e Marie (Catherine Deneuve), uma professora de filosofia, também têm uma relação; Ivan tinha um clube onde Juliette trabalha com o seu irmão gémeo, Jimmy, mas também está envolvido no roubo de carros; e há o filho de Ivan, uma criança com um olhar sempre triste, que “analisa” o que vê.
E todos parecem ter-se acomodados a este desconforto; a única, Marie, que quer “gritar”, fugir ao negrume, e que quando percebe que nunca será amada por Juliette (embora seja entre elas, a cena no banho, o único momento de ternura do filme – comparar com as cenas de sexo entre Alex e Juliette, parecem uma “briga” entre pessoas que se desprezam), que por isso também está presa na solidão que a todos encharca, escolhe o suicídio.
Não deixa de ser uma bela, mas uma beleza “disforme”, análise de sentimentos e emoções, ou da sua ausência, mas que deixa as personagens presas num labirinto sem saída. Deixando-nos também envolvidos nessa tristeza, e isso é desconfortável. Demasiado. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
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