Um clássico para durar
João Tomé www.magacine.blogspot.com
Oliver Twist. Uma história muito repetida pode ainda maravilhar? Pelo olhar do realizador Roman Polanski pode-se dizer que sim: a nova versão do clássico de Charles Dickens chega hoje ao cinema para encantar. A sociedade inglesa do século XIX, nomeadamente a urbana, foi de muita pobreza e miséria para as classes menos altas e, talvez por isso, a solidariedade e ajuda entre as pessoas era muito rara. Esta nova adaptação do clássico de Charles Dickens acaba por evidenciar isso de uma forma sombria e que parece mais próxima da realidade. Assim, este filme demonstra com mestria a bondade do jovem orfão Oliver Twist e das poucas pessoas que sacrificaram tudo para o ajudar – provando, numa sociedade com muitos "podres", que a bondade pode compensar.<BR/><BR/>Pegando numa história muitas vezes retratada no teatro, no cinema e na televisão, Roman Polanski e o argumentista Ronald Harwood conseguiram manter a força das personagens e acrescentar uma vitalidade rejuvenescida à obra de Dickens, não esquecendo alguns pormenores de suspense e injustiça. Polanski como realizador e Harwood como argumentista estiveram à frente do oscarizado "O Pianista". Um filme distinto no conteúdo mas com semelhanças na forma, ou não tivesse Polanski, nas duas fitas, recordado episódios da sua própria infância e também inspirado em obras conhecidas. "Backgrounds" diferentes para história distintas? Talvez não tão díspares assim.<BR/><BR/>A história é conhecida: o jovem Oliver Twist é acolhido num orfanato onde a alimentação é rara e péssima e as crianças são obrigadas a trabalhar, desfiando cordas. Os orfãos eram vistos como empecilhos e gozados pela sociedade e depois de ter sido vendido a uma funerária, Oliver acaba por fugir com o objectivo de chegar a Londres. Por lá, sem nada para comer nem para fazer conhece outro jovem, Dodger, que o leva a viver com o sinistro Fagin (Sir Ben Kingsley), um homem que coordena crianças para roubar.<BR/><BR/>Kingsley é um dos trunfos do filme, com um papel que mistura alguma bondade, malvadez e loucura. Oliver Twist – protagonizado por um jovem franzino adequado ao papel – acaba por conhecer num tribunal, depois de ter sido injustamente preso, um homem de posses, Mr. Brownlow, que o acolhe por ver bondade nele. Mas entre o rapto do jovem, a maldade do chefe de criminosos Bill Sykes e a bondade de amigos, o destino de Oliver vai terminar bem e a sua bondade será recompensada. Uma das personagens solidárias do filme é Nancy (Leanne Rowe), um papel forte que sofrerá da pior das formas ao ajudar Oliver.<BR/><BR/>Depois de um início agressivo, triste, sombrio e numa realidade pobre em meios e valores, a história acaba por trazer a emotividade para a parte final - tanto as boas emoções como as más. Uma boa aposta de Polanski, a provar que uma boa história pode manter vitalidade e intemporalidade.
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