A Mulher Que Fugiu

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Drama 77 min 2020 M/12 07/01/2021 Coreia do Sul

Título Original

Domangchin yeoja/The Woman Who Ran

Sinopse

Casada há cinco anos, a jovem Gam-hee nunca esteve longe do marido um dia que fosse. Agora que ele se ausentou numa viagem de negócios para fora de Seul, ela aproveita a ocasião para visitar três grandes amigas que há muito não vê. Cada encontro, assim como a conversa que tem com cada uma das raparigas, vai ter um forte impacto em como Gam-hee vê o seu relacionamento. Isso vai fazê-la reavaliar as escolhas feitas até aqui. 
Um filme dramático escrito e realizado pelo aclamado realizador sul-coreano Hong Sang-soo ("Noite e Dia", "Noutro País", "Sítio Certo, História Errada", "O Dia Seguinte") que arrecadou o Urso de Prata de Melhor Realizador no Festival de Cinema de Berlim. Com Kim Min-hee – musa e companheira na vida real de Sang-soo –, a assumir o papel de protagonista, o filme conta também com a participação de Seo Young-hwa, Song Seon-mi, Kim Sae-byuk, Kwon Hae-hyo, Lee Eun-mi, Kang Yi-seo e Shin Seok-ho nos papéis principais. PÚBLICO

Críticas dos leitores

A mulher que fugiu

Fernando Oliveira

Nos filmes de Hong Sangsoo, as mulheres são personagens distantes, misteriosas até, são também bastante inteligentes, embora sempre envolvidas por o que parece ser um mal-estar emocional. Se o olhar de Hong é cúmplice das suas personagens femininas também é notável a mostrar a incapacidade de as compreender. Partilhamos todos, nós homens, essa incompreensão. <br />Gam-hee (interpretada por Kim Min-hee, companheira do realizador e actriz nos seus últimos filmes) é uma destas mulheres. É ela a mulher que fugiu. Mas fugiu do quê? <br />A estória do filme conta a visita que ela faz a duas amigas de longa data e a uma outra mulher que lhe roubou o namorado antigo. Em três bairros distintos de Seul, cidade imensa. E o filme parece ser só isso: planos demorados sobre as três conversas, sem campo-contracampo, mas com aproximações quase repentinas às personagens, como a tentar decifrá-las. <br />Hong gosta de estórias que as conversas contam, conversas quase sempre sobre banalidades, coisas do dia-a-dia, desestruturadas. Tão espontâneas como parecendo improvisadas, resultado do método de escrita de Hong, em cima das filmagens. É um cinema de actores, porque o peso dramático da palavra engrandece com a beleza representada nos seu gestos, nos seus olhares. <br />E Hong gosta de desconstruir a ideia de um tempo linear, pondo-nos a olhar de várias maneiras para o mesmo acontecimento. E se aqui não acontece exactamente isso, não é verdade que Hong filma os três encontros em cadência quase geométrica, uma janela, a sua luz a iluminar as personagens sentadas uma em frente à outra. Quase uma repetição… <br />Do que fugiu então Gam-hee? Hong e Kim Min-hee são companheiros há cinco anos, e o filmes dele tendem muitas vezes para o autobiográfico. A personagem diz às amigas que é a primeira vez que está longe do marido após cinco anos de casamento. Já percebemos, também, que desde que se juntaram na vida o olhar de Hong é bastante cúmplice sobre as mulheres. Feminista, até. Parece-me que ao mentir às amigas sobre a sua felicidade, Gam-hee mente a si própria, talvez fuja do tédio que a incompreensão dos homens sobre as mulheres causa numa mulher, da solidão que isto provoca, talvez fuja procurando nas amigas o afecto partilhado quando se davam, e na mulher que a traiu uma resposta à pergunta se este sufoco cabe a todas? <br />Ah! E Hong gosta muito de praias. Este filme acaba com Gam-hee sentada numa sala de cinema, no ecrã um plano fixo de uma praia. Mesmo quando não nos dizem isso, todos os filmes de Hong são também sobre o Cinema. <br />Belíssimo filme de Hong Sangsoo. <br />(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
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A mulher que fugiu

Fernando Oliveira

Nos filmes de Hong Sangsoo, as mulheres são personagens distantes, misteriosas até, são também bastante inteligentes, embora sempre envolvidas por o que parece ser um mal-estar emocional. Se o olhar de Hong é cúmplice das suas personagens femininas também é notável a mostrar a incapacidade de as compreender. Partilhamos todos, nós homens, essa incompreensão. <br />Gam-hee (interpretada por Kim Min-hee, companheira do realizador e actriz nos seus últimos filmes) é uma destas mulheres. É ela a mulher que fugiu. Mas fugiu do quê? <br />A estória do filme conta a visita que ela faz a duas amigas de longa data e a uma outra mulher que lhe roubou o namorado antigo. Em três bairros distintos de Seul, cidade imensa. E o filme parece ser só isso: planos demorados sobre as três conversas, sem campo-contracampo, mas com aproximações quase repentinas às personagens, como a tentar decifrá-las. <br />Hong gosta de estórias que as conversas contam, conversas quase sempre sobre banalidades, coisas do dia-a-dia, desestruturadas. Tão espontâneas como parecendo improvisadas, resultado do método de escrita de Hong, em cima das filmagens. É um cinema de actores, porque o peso dramático da palavra engrandece com a beleza representada nos seu gestos, nos seus olhares. <br />E Hong gosta de desconstruir a ideia de um tempo linear, pondo-nos a olhar de várias maneiras para o mesmo acontecimento. E se aqui não acontece exactamente isso, não é verdade que Hong filma os três encontros em cadência quase geométrica, uma janela, a sua luz a iluminar as personagens sentadas uma em frente à outra. Quase uma repetição… <br />Do que fugiu então Gam-hee? Hong e Kim Min-hee são companheiros há cinco anos, e o filmes dele tendem muitas vezes para o autobiográfico. A personagem diz às amigas que é a primeira vez que está longe do marido após cinco anos de casamento. Já percebemos, também, que desde que se juntaram na vida o olhar de Hong é bastante cúmplice sobre as mulheres. Feminista, até. Parece-me que ao mentir às amigas sobre a sua felicidade, Gam-hee mente a si própria, talvez fuja do tédio que a incompreensão dos homens sobre as mulheres causa numa mulher, da solidão que isto provoca, talvez fuja procurando nas amigas o afecto partilhado quando se davam, e na mulher que a traiu uma resposta à pergunta se este sufoco cabe a todas? <br />Ah! E Hong gosta muito de praias. Este filme acaba com Gam-hee sentada numa sala de cinema, no ecrã um plano fixo de uma praia. Mesmo quando não nos dizem isso, todos os filmes de Hong são também sobre o Cinema. <br />Belíssimo filme de Hong Sangsoo. <br />(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
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