//

Vera Drake

Imagem Cartaz Filme
Foto
Votos do leitores
média de votos
Imagem Cartaz Filme
Foto
Votos do leitores
média de votos
Drama 125 min 2004 M/16 03/02/2005 NZ, EUA, FRA

Título Original

Vera Drake

Sinopse

Londres, 1950. Vera Drake vive com o seu marido e os filhos. Mas Vera tem uma vida paralela, que mantém em segredo e esconde de todos. Apesar de ser ilegal, Vera ajuda mulheres a interromperem gravidezes indesejadas. Vera tem sempre um sorriso e uma palavra de compreensão para estas mulheres, que ajuda sem qualquer tipo de remuneração. No entanto, uma investigação na sequência de um aborto que corre mal conduz a polícia até Vera e a partir daí, a sua vida e a da sua família desabam. Realizado por Mike Leigh ("Nu", "Segredos e Mentiras"), o filme foi nomeado para três Óscares - Melhor Realizador, Melhor Actriz (Imelda Staunton já tinha sido nomeada para os Globos de Ouro por este desempenho notável) e Melhor Argumento Original. Estas nomeações somam-se aos prémios conquistados até agora: Leão de Ouro e Prémio Melhor Actriz no Festival de Veneza, 11 nomeações para os BAFTA (nas principais categorias, entre as quais Melhor Filme e Melhor Actriz) e ainda o Prémio Europeu do Cinema de Melhor Actriz.<p/> PÚBLICO.PT

Críticas Ípsilon

Vera Drake

Mário Jorge Torres

Ler mais

Vera Drake

Kathleen Gomes

Ler mais

Uma família inglesa

Luís Miguel Oliveira

Ler mais

Vera Drake

Vasco Câmara

Ler mais

Críticas dos leitores

As várias tonalidades do verde

Margarida

Quando me lembro de "Vera Drake", ocorre-me o verde; o verde-água dos seus olhos, o verde-turqueza do casaco de lã, o verde-escuro do sobretudo, o verde com riscas brancas do abafador que cobria, insistentemente, o bule, e o verde como representante de uma certa esperança na perspectiva de encarar o aborto. Vera apenas ajudava as jovens, só isso. Um filme com um bom argumento e uma fotografia magnífica, excelentes actores, muito centrado na psicologia do personagem; é um luxo assistir a este filme.
Continuar a ler

Em Vera, as várias tonalidades do verde

Margarida

Quando me lembro de Vera Drake, ocorre-me o verde; o verde-água dos seus olhos, o verde-turqueza do casaco de lã, o verde-escuro do sobretudo, o verde com riscas brancas do abafador que cobria, insistentemente, o bule e o verde como representante de uma certa esperança na perspectiva de encarar o aborto. Vera apenas ajudava as jovens, só isso. Um filme com um bom argumento e uma fotografia magnífica, excelentes actores, muito centrado na psicologia do personagem; é um luxo assistir a este filme.
Continuar a ler

Vera cheia de graça

Gonçalo Sá - http://gonn1000.blogspot.com

Mike Leigh tem vindo a distinguir-se como um dos mestres do cinema realista britânico, e alguns títulos da sua filmografia – os emblemáticos "Nú" ("Naked") ou "Segredos e Mentiras" ("Secrets and Lies"), por exemplo - atestam a sua capacidade para proporcionar credíveis e minuciosas atmosferas habitadas por um quase sempre notável e muito profissional elenco. Contudo, o cineasta acusava, no seu filme anterior, "Tudo ou Nada" ("All or Nothing"), sinais de algum esgotamento de ideias ao enveredar por uma pouco surpreendente auto-citação, repetindo os mesmos tipos de temas e personagens. "Vera Drake", a sua obra mais recente, mantém os tons realistas e os traços de drama familiar mas inova ao debruçar-se agora sobre uma temática específica, polémica e actual: o aborto. A película é já uma das mais elogiadas e premiadas de Leigh – conquistando as distinções de melhor filme e melhor actriz no Festival de Veneza e seis prémios da British Independent Film Awards, entre outros galardões e nomeações – e, por isso, suscitava expectativa q.b. e fazia prever uma perspectiva peculiar sobre um tema incontornável.<BR/><BR/>No entanto, e embora possua óbvios méritos, "Vera Drake" é um daqueles casos onde o burburinho que antecipou a sua estreia entre nós funcionou contra si, uma vez que o filme não apresenta assim tantas qualidades que o tornem num objecto tão único e marcante. No cerne da acção encontra-se uma mulher de meia-idade, mãe, esposa e empregada de limpeza dedicada, proveniente de humildes meios londrinos do pós-Segunda Guerra Mundial. O que torna Vera diferente de tantas outras mulheres é o facto de praticar, desde há vários anos, abortos clandestinos a múltiplas jovens, elaborados em condições precárias e limitadas.<BR/><BR/>Vera esconde este facto da própria família, embora seja já uma figura conhecida entre um restrito círculo de mulheres que a encaram como uma presença confiável, segura e com provas dadas dentro desates conturbados processos. A realização destes actos, encarados como criminosos e moralmente condenáveis segundo a legislação da época, não é motivada por qualquer interesse económico – são feitos a título gratuito -, e derivam apenas das consideráveis doses de generosidade e altruísmo que Vera emana naturalmente (auxiliando assim, segundo ela, as atormentadas jovens na resolução dos seus problemas). Todavia, a situação torna-se mais tensa para a protagonista quando as autoridades tomam conhecimento dos seus actos, o que inicia um tumultuoso e abrupto processo de crise familiar e de desolação contínua.<BR/><BR/>Se por um lado Leigh nunca exagera na tentativa de veicular uma posição específica quanto à questão do aborto, evitando que "Vera Drake" se transforme em mais um panfleto filmado, o desenrolar da acção contém, ainda assim, alguns elementos de irregularidade que tornam o resultado final pouco convincente. As motivações nobres e dignas de Vera Drake são logo um dos pontos questionáveis do filme, não que a personagem seja inverosímil, mas porque dificilmente será representativa do conjunto de indivíduos que praticam semelhantes actos (legalmente condenáveis na sociedade da época).<BR/><BR/>É certo que Imelda Staunton é exímia na sua composição (justamente nomeada para o Óscar de Melhor Actriz Secundária), e a sua Vera Drake comove e enaltece, mas Leigh abusa do tom e transforma-a quase numa mártir, factor que se destaca, sobretudo, na segunda parte do filme, um cansativo concentrado de interminável sofreguidão e desencanto. Os ambientes crus e realistas são excelentes, assim como todo o núcleo de actores – dos principais aos secundários, todos demonstram entrega e empenho -, mas isso já não é novidade num trabalho de Mike Leigh, e é pena que estes sejam os únicos elementos realmente satisfatórios em "Vera Drake".<BR/><BR/>O ritmo da narrativa é, infelizmente, demasiado arrastado e pouco envolvente, não dispensando alguns episódios francamente redundantes e aborrecidos, e o argumento previsível e convencional também não contribui para que o filme consiga inquietar ou despertar especial interesse. Em vez ser um absorvente e complexo drama sobre as ambiguidades e contradições humanas, que era o que se esperaria de um cineasta subtil e perspicaz como Mike Leigh, "Vera Drake" reduz-se aos domínios algo lineares e formatados de um esforçado, mas pouco consistente, telefilme da BBC, com tanto de competente como de indistinto. Ainda assim, quem procurar ver uma actriz em pleno estado de graça não sairá da sala de cinema completamente defraudado…<BR/><BR/>Classificação: 2/5 - Razoável.
Continuar a ler

Uma obra-prima sobre o cinismo

Jorge Carmo

Trata-se de um fime magnífico do ponto de vista cinematográfico e triste na forma como retrata uma realidade que do ponto de vista do ambiente das coisas é claramente um filme do século passado, muito passado, mas que do ponto de vista do ambiente intelectual continua a ser desgraçadamente actual, assentando que nem uma luva a um país da Europa que se auto-define como fazendo parte da Europa desenvolvida...
Continuar a ler

Pura propaganda abortista

A. Cabral

Pobre filme neorealista que revisita os argumentos dos abortistas como se a vida humana pudesse ser sacrificada a um "direito da mulher sobre o seu corpo" ou a uma questão de luta de classes (quem pode, aborta; quem não pode, vai às abortadeiras). Não há, na realidade, qualquer diferença entre matar um filho às 10 semanas, às 12 semanas, às 30 semanas ou aos dois anos de idade. A única diferença está na falta de visão das mulheres que abortam. Olhos não vêem, coração não sente. Como sempre, a esquerda e Mike Leigh em particular (se bem que de uma maneira intelectual e pseudo-desinteressada) vêem o aborto como a luta de classes, o eterno combate entre opressores e oprimidos que há-de culminar num socialismo no fim dos tempos. Como todo o bom esquerdista, o realizador não percebe que matar não é direito (nem para homens, nem para mulheres) e que a principal questão relacionada com o aborto é a dignidade do ser humano que é suprimido e não a comodidade ou incomodidade relativa em que é possível proceder a essa supressão.<BR/><BR/>Mas, para gente como esta, o único valor por que vale a pena lutar, mais explícita ou implicitamente, é a revolução socialista a todo o custo. Aliás, nesta questão, os socialistas irmanam-se aos nazis, que, nos anos 30, liberalizaram o aborto assim que chegaram ao poder. O que para eles importa não é fazer o que é mais justo, mas atacar todo o que possa sobrar de respeito pelo direito à vida de todos, pois a moralidade para a esquerda representa um estigma que é preciso erradicar sem piedade.<BR/><BR/>Outro aspecto que me repugnou neste filme é a sua linguagem neorealista. Como já muitos disseram antes de mim, o realismo é a negação da arte pela arte; pelo contrário, é a defesa da submissão da arte a uma agenda. É isto que faz deste filme um declarado objecto de propaganda sem pés nem cabeça. É isto que me faz recomendar a todos quantos estejam a ler esta minha crítica que não se macem a ver esta estopada pois o objecto final é propagandístico, previsível e nada vem acrescentar ao cinema.
Continuar a ler

O aborto visto por Leigh

Rute Caldeira

Mike Leigh e um filho de Manchester. Nasceu a meio da Segunda Guerra Mundial numa das cidades mais bombardeadas pelo alemães, que procuravam acima de tudo destruir o coração industrial de Inglaterra. Só quem não conhece o Noroeste de Inglaterra é que pode negar a existência de uma classe trabalhadora, a mesma que Marx e Engels descreveram. Leigh conhece esta classe melhor do que ninguém. Cresceu em Salford, onde a vida acontecia ao som do toque da fábrica, onde nos bairros as famílias se aglutinavam por oficios, onde as árvores eram cinzentas e não verdes, onde o Sol a custo despontava pelo meio da poluição, onde a água do canal não era translúcida e transparente.<br/><br/>Todas estas memórias, Leigh transfere-as para a tela do cinema. Melhor do que ninguém, este é um realizador que retrata as diferencas de classe numa Inglaterra dominada pela indústria pesada. É no entanto uma visão romantizada, que quase sempre transmite a idea da classe trabalhadora como uma classe de pessoas boas, humildes, puras e docemente ingénuas; por oposição a uma classe alta arrogante e snob.<br/><br/>Leigh já não vive em Manchester. Leigh já não vive em Salford, Manchester. Não ficou para assistir à depressão industrial, à guerra da cidade com o governo Thatcher, que lhe custou anos de abandono político. Leigh não sabe as consequências que tal teve para a sua "working class". Mas é, no entanto, um "realista" que procura filmar uma realidade que não se confina a Dover e a uma Londres turística.<br/><br/>Sendo um "realista", foi com expectativa que fui ver "Vera Drake", o último filme de Leigh. Como seria Leigh capaz de abordar a temática do aborto? Vera Drake e uma mulher da classe trabalhadora que, no pós-Segunda Guerra Mundial, ganha a vida a limpar as casas "das senhoras". No seu tempo livre, Drake faz abortos, sem pedir dinheiro algum às mulheres que recorrem aos seus servicos. A obsessão do realizador por enfatizar a divisão de classes resultou porque no que concerne a esta temática, a divisão de classes permanence actual: as mulheres que Drake ajuda são praticamente todas da classe trabalhadora, mas Leigh subtilmente mostra-nos como fazem as mulheres da classe alta, que recorrem a clínicas especializadas.<br/><br/>Drake, ao contrario dos médicos dessas clínicas, e apanhada pela polícia e condenada à prisão. Durante o interrogatório, quando o inspector lhe pergunta o que e que ela faz, Vera Drake responde que "ajuda as raparigas". "Faz abortos, portanto?", insiste o inspector. "Não, você chama abortos, eu não. Eu ajudo as raparigas a menstruarem de novo". Leigh, um homem, conseguiu neste diálogo dizer muito mais do que muitas campanhas a favor da liberalização do aborto.<br/><br/>Aliás, o filme só poderia ser escrito e realizado por um homem. Uma mulher exploraria mais o lado da mulher que é submetida a interrupção da gravidez. O seu sofrimento físico e emocional, a sua culpa. No entanto, este enfoque dificilmente seria compreendido pela maioria dos homens, que por vezes parecem não entender que para uma mulher, o aborto, para além de significar perder um filho, é quase como uma amputação. Fisicamente todo o corpo da mulher se altera desde de um dia um de uma gravidez, e se prepara para algo que faz agora parte do seu organismo.<br/><br/>No filme de Leigh, as mulheres que abortam não são as protagonistas. Com 52 anos, Leigh tem maturidade suficiente para perceber que se tentasse ir por essa via seria um desastre. A protagonista e Vera Drake, que na sua candura e simplicidade, acredita não estar a fazer nada de mal. Acredita que esta simplesmente a "ajudar as raparigas" que não tem mais a quem recorrer. A Inglaterra de 1950 retratada em "Vera Drake" poderia ser Portugal de 2005. Com uma diferenca: nem em Inglaterra de 1950 se condenava à prisão as mulheres que interrompiam a gravidez...
Continuar a ler

Envie-nos a sua crítica

Preencha todos os dados

Submissão feita com sucesso!