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Profissão: Repórter
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Elenco
Sinopse
"Profissão: Repórter", obra-prima de Michelangelo Antonioni de 1975, junta dois magníficos actores - Jack Nicholson e Maria Schneider - numa história de suspense em que um homem tenta fugir à sua própria vida. Nicholson dá corpo a um jornalista esgotado que troca de identidade com um homem morto. Antonioni considerava "Profissão: Repórter" o seu filme "estilisticamente mais maduro" e também "um filme político", pois foca "a integração dramática do indivíduo na sociedade actual".<p/>PUBLICO.PT
Críticas Ípsilon
Críticas dos leitores
O deserto da alma
Hugo Alves (http://wwwamarcord.blogspot.com/)
Michelangelo Antonioni, enquanto cineasta, sempre privilegiou a temática da alienação. Neste particular, "Professione: Reporter" insere-se de forma coerente na filmografia do realizador italiano. Com efeito, ao toparmos com David Locke, um jornalista que desiste da sua vida, da sua profissão e da sua mulher, vêmo-nos no centro do universo de Antonioni. Novamente, tal como na fabulosa trilogia "L'Avventura", "La Notte" e "L'Eclisse", lidamos com alguém incapaz de se enquadrar e integrar numa dada sociedade. Desta feita, essa incapacidade é traduzida no acto de assumir a identidade alheia. Numa tentativa desesperada de cortar as ligações com o passado, David acabará por ser acossado pelo passado daquele cuja identidade assumiu. E é nessa frágil tensão que flui todo o filme.<BR/><BR/>Paredes-meias com esta fuga em frente, veremos o intenso (mas trágico) romance com a jovem rapariga, que, curiosamente, também não tem nome. Antonioni revisita o seu universo. Todavia, desta vez, ao invés de privilegiar o universo feminino (como fizera na trilogia acabada de referir) muda a sua perspectiva para a figura masculina (mudança iniciada com o sensacional "Blow-up"). Uma figura vazia e desprovida de sentimentos ou valores. Tal como o deserto que serviu de pano de fundo ao furto da identidade, a alma de David é vazia e árida. Daí que, tacitamente, aceite o seu novo passado e se deixe sucumbir às mãos dos assassinos, naquele que é um plano longo, hipnótico e virtuoso.<BR/><BR/>"Professione: Reporter", apesar de não desprezar as vestes de filme policial ou mesmo de "road movie" (veja-se o périplo por Espanha), vai mais além: entre a consciência da dimensão trágica da finitude e a temática da busca de identidade, o filme flui pausadamente, de forma arrastada. A mesma lentidão com que David assume a nova identidade.<BR/><BR/>Acima de tudo, estamos perante um filme absolutamente coerente com as traves-mestras da obra do realizador. A título de curiosidade, registe-se o tom modulado de Nicholson. Estamos perante uma personagem melancólica e triste, o que é um claro contraste com aquilo a que nos habituara a sua filmografia (veja-se o histriónico McMurphy de "Voando sobre um Ninho de Cucos"). Tal dever-se-á, provavelmente, à direcção de Antonioni. Basta lembrar que o italiano soía dizer que os actos são como as vacas e, por conseguinte, era preciso conduzi-los através das cercas...<BR/><BR/>Não estamos perante o melhor filme de Antonioni, mas é indiscutível que este é um filme magnífico. Pura poesia visual, servida por bases filosóficas profundas.
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