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Noite Escura

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Drama min 2004 M/12 21/10/2004 POR

Título Original

Sinopse

Uma noite escura de Inverno, algures na província portuguesa. Uma casa de alterne onde está a começar mais um dia de trabalho para a família que a gere. Pai, mãe e duas filhas, raparigas que entretêm e seduzem os clientes, um mundo de falsas aparências e onde os sonhos de uma outra vida acabarão por se desfazer. Porque o pai, a quem um negócio correu mal, se verá obrigado a sacrificar a sua filha mais nova e assim acabará por destruir toda a sua família... "Noite Escura", último filme de João Canijo, apresentado na Selecção Oficial do Festival de Cannes, é baseado numa peça de Eurípides, "Ifigénia em Aulis", aqui transposta para um mundo sórdido em que tudo se vende.<p> </p>PUBLICO.PT

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Críticas dos leitores

O que acrescenta este filme ao original de Eurípedes?

Marco Viana

É certo que o trabalho de câmara, luz e som deste filme consegue criar uma atmosfera claustrofóbica que asfixia o espectador de início ao fim. Sendo esse o objectivo do realizador, terá sido técnicamente alcançado. Se se avaliar o filme com base na competência técnica do realizador estará sem dúvida aprovado, mas e analizando o filme como um todo? Não me parece que neste caso a competência técnica esteja ao serviço do espectador, mas sim ao serviço do ego do realizador... É com infelicidade que se verifica o tão pouco que este filme baseado na tragédia de Eurípedes acrescenta ao original vinte ou mais séculos depois... Parabéns ao actores, sobretudo aos intérpretes dos personagens Nélson e Carla.
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O contraditório

E. L. S.

Vi há dias no Teatro da Trindade uma excelente peça de teatro intitulada "Violeta, Puta de Guerra", de Fernando de Souza. Hoje fui ao cinema ver a "Noite Escura". De facto, há alguma semelhança na vida (má) destas mulheres. O filme é fantástico: trata-se mesmo de uma noite escura... um grito na noite, onde todos os negócios sórdidos são permitidos. Por vezes pretende-se banalizar a actividade nos clubes de alterne, mas eu que tenho a oportunidade de conhecer bem de perto as vidas rotas daquelas mulheres e as desordens daqueles homens, sei que uns e outros procuram o sabor do nada, escondendo-se na noite e desafogando-se numa euforia efémera. O filme faz um excelente retrato das noites violentas em que alguns e algumas portuguesas vivem submersos.<BR/><BR/>Os actores encarnam fenomenalmente as suas personagens; parabéns ao Sr. Canijo. É importante que se leve ao cinema, ao teatro, às universidades, à sociedade civil, este tema da prostituição. Sobre ele há opiniões para todos os gostos. Eu considero uma indignidade tanto para os clientes das mulheres como para os traficantes, os donos dos clubes e para as mulheres prostitutas.
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Uma noite bem conseguida

Carolina Fernandes

É um filme sórdido na história que conta e como a conta. Uma tragédia antiga adaptada a um Portugal de hoje, que existe e que é de facto sórdido. Interpretações muito conseguidas, em especial a de Fernando Luís e a de Cleia Almeida. O primeiro, num registo muito diferente do habitual, retratando bem um certo tipo de homem português, pequenino e asqueroso. A segunda, a de uma miúda mimada que não quer ver, mas que de repente cresce e se oferece em sacrifício. Beatriz Batarda e Rita Blanco, como elas próprias (embora faça um pequeno reparo a um certo exagero em Beatriz Batarda). Boas actrizes. Um filme duro, com uma linguagem suja. Um bom filme, um bom retrato. Os meus parabéns.
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Vão ver o filme

Vasco P. N.

Começa bem. A música marca o ritmo, não importa exactamente qual, ritmo alternado, pouco, de alterne. Imagens difusas, cor. Em casa as senhoras tricotam novelas, os maridos vão ali e vem já. O Portugal desconhecido. Pimba, pumba, enfrentam a máfia russa. Vale tudo para salvar a desonra. Rita Blanco passeia por corredores esquizofrénicos, leva-nos pela mão ("querem conhecer a minha família?"). Oooopss! Esta porta não. Filha alivia stress paterno. No bar os corpos pouco se tocam, é mais o hálito que provoca desconforto. Grande ideia filmar o hálito. Levantem-se, vão ver o filme, o sofá pode ser um sítio aterrador.
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Desilusão

Lduarte

Fui ver este filme com alguma expectativa, pois o retrato de vidas que se desenrolam no submundo das casas de alterne e similares sempre me atraiu (numa perspectiva sociológica). Confesso que fiquei desiludida, não com a história (que penso pode ter inegável verosimilhança com a realidade) mas sim com a forma como o realizador filma o espaço em que tudo se desenrola. É certo que não esquece o labirinto, as luzes de neon, a atmosfera kitch, a música popular, as vozes em surdina e as cores fortes, mas penso que não consegue transmitir o vaivém dos corpos e dos clientes, o contacto físico (que é, em última análise, a razão de ser destas casas) e a promiscuidade dos corpos, disfarçada numa certa dignidade das roupagens, consoante os papéis de cada um. Também os técnicos de som não conseguiram captar devidamente as diferentes vozes e os efeitos sonoros, o que é pena, pois o filme vive muito à base disso. Em suma, ainda não é desta feita que vamos ter o nosso David Lynch...
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Grande Noite

Luís Melo

Um espaço comum a quatro seres grotescos lança-nos num retrato daquilo que é a vida escondida por detrás do Portugal que dorme. Um pai de aço que atira para o indefinido a filha na esperança de salvar a própria pele. A estrutura trágica que suporta o argumento preenche os requisitos necessários à evolução do sofrimento e à previsível destruição final das personagens, funcionando na perfeição num qualquer festival de teatro de tema clássico. Na tela, apresento as minhas mais sinceras dúvidas. Um espaço fielmente reproduzido e um conjunto de personagens magnificamente interpretadas (o que a película terá de melhor) não se aguentam por si só naquilo que é um argumento sem grande margem para peripécias, onde se viaja algumas vezes em auto-estrada, outras em caminhos de cabras, para um desenlace que poderia muito bem ter acontecido logo ao minuto 20. Dir-se-á que estamos perante um retrato realista e fidedigno da decadente interioridade portuguesa, que se distrai nas conturbadas delícias da prostituição. E estamos, de facto. Mas também um bom documentário estaria. De ficção envolvente e surpreendente, de criação artística e inovadora, de tumultuosas relações entre personagens, vemos muito pouco. A filha sonhadora passa a filha de pedra quando se apercebe do seu destino. A filha conformada, plena de complexos, choca o auditório com o entusiasmo com que brinda o pai, numa cena absolutamente soberba. Surpreendemo-nos nestes pontos, entediamos nos outros. Muito tédio, uma insuficiente narrativa. A não ser que o paupérrimo som (como é possível dizer-se que serve os objectivos do filme) não tenha permitido compreender algum pormenor precioso. Dizia uma das seis corajosas pessoas que estavam presentes naquela sessão de sexta-feira à noite: "para filme português..."; não concluiu nem acho que valesse a pena. A caminho de uma noite não tão real como a que acabava de ser representada, atrevi-me eu a concluir. Para filme português... está mau.
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A não perder

Daniel Aires

Antes demais é importante que se diga que não é todos os dias que o privilégio de assistir a uma ante-estreia de um filme português nos bate à porta. Além disso, deliciarmo-nos com as excepcionais cenas e contracenas de um conjunto de valiosos actores que vestem a pele de personagens devidamente vincados e marcados pelas agruras da vida nocturna, dispostos ou talvez não a vender a alma ao diabo por toma lá aquela palha, também não é nada que habitualmente nos possamos dar ao luxo de ignorar. Na realidade, parece estarmos na presença de uma película com um jogo verbal e emocional quase sempre a roçar os limites do suportável, em que não raras vezes quase que dá vontade de intervir, não se vislumbrando, contudo, quem poderá ter a riqueza quimica no sangue de alterar o rumo inevitável do vazio e da perca de valores que a erosão da noite provocou naquelas almas doentes e dependentes.<br/><br/>A ideia com que se fica é a de um realizador que tende a inovador através da objectividade da sua câmara, com cenas que se desenrolam em simultâneo, acções que interagem de por si e que, pese embora não sejam vividas na sua plenitude, sentem-se que estão lá e que têm alma. Outro dos aspectos dignos de realce tem a ver com a intensidade do fio condutor do drama, dos ritmos, da cor e quiçá a espaços de algum surrealismo por tudo funcionar na perfeição em direcção ao abismo da noite vaga, vazia e sem escrúpulos. Qual locomotiva desenfreada que cavalga através de vales, montanhas, planícies e desertos em direcção ao inferno!<BR/><BR/>Post scriptum: Um filme de cinco estrelas a não perder. Ejá agora, saboreiam a verosemelhança e credibilidade das personagens.
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