Mal Viver
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
No centro de “Mal Viver” está uma família burguesa que tenta manter de pé um velho hotel. Nesse cenário, durante um fim-de-semana, cinco mulheres de três gerações diferentes vivem um conflito antigo e aparentemente insolúvel, num clima de tensão, manipulação e ressentimento.
Urso de Prata em Berlim, este drama sobre relações tóxicas entre mães e filhas foi realizado por João Canijo e faz parte de um díptico que se complementa com “Viver Mal”. Com produção de Pedro Borges e com Leonor Teles (realizadora de “Balada de um Batráquio”, curta também premiada em Berlim, em 2016) na direcção de fotografia, o elenco é composto por Rita Blanco, Beatriz Batarda, Cleia Almeida, Anabela Moreira, Madalena Almeida e Vera Barreto. As filmagens aconteceram em 2021, durante a pandemia, no Hotel Parque do Rio, em Ofir (Esposende, distrito de Braga). As duas histórias vão ser encaixadas numa série de televisão de quatro episódios que será “uma espécie de união dos dois filmes, mas com coisas novas que foram filmadas de propósito para a série”, diz o realizador sobre o projecto. PÚBLICO
Críticas dos leitores
Profundo drama de laivos bergmanianos
Laura
É certo que Canijo pode ou não almejar a essa comparação, que é rebuscada e, se intencional, de resultado menos conseguido. Mas a verdade é que está certeira a dinâmica entre Anabela Moreira (sempre portentosa) e tanto Rita Blanco (aqui mais tóxica do que nunca) e Madalena Almeida. Se algo me tirou do filme foi que nem Madalena Almeida parece ter idade para ser filha de Anabela Moreira nem esta para ser filha de Rita Blanco. O efeito esbate os contornos do que reconhecemos como dramas familiares transversais e torna tudo um pouco mais existencial. Fica a faltar um apogeu (que podia ser a cena em que a personagem de Moreira mendiga pelo afecto da mãe) ou uma catarse. Em vez disso assistimos a uma personagem sem salvação à vista, a afundar-se na sua própria desgraça, embora não nos seja dado suficiente para compreender essa desgraça a 100%. Mesmo assim, a força do desempenho de Moreira segura o filme até ao fim, garantindo-lhe eficácia e efeito durador.
Mal Viver
Ana Paula Pina
Profundo, impactante espelha a realidade de muitas mulheres cujas relações são tóxicas e irreversíveis, e a dificuldade de lhes pôr um fim.
Drama
Adelaide Barreiros
Este é de longe o melhor filme de João Canijo desde "Noite Escura", mesmo tendo e conta que "Sangue do Meu Sangue" era um drama cheio de pequenos detalhes de interesse e acima de tudo muito bem construído. Neste, a coisa parece um pouco mais elevada, como se a fasquia tivesse subido. Também ajuda que desta vez haja uma certa preocupação com a beleza dos espaços.
4 estrelas
José Miguel Costa
João Canijo, (provavelmente) o meu realizador luso de eleição (e para reforçar tal convicção basta recordar as obras memoráveis com que já nos brindou - "Ganhar a vida", "Noite Escura", "Mal Nascida", "Sangue do Meu Sangue" e "Fátima"), regressa aos grandes ecrãs com um estrondoso díptico (em estreia em simultânea), "Viver Mal" e "Mal Viver" (este último vencedor do Prémio do Júri no Festival de Berlim). Como é seu apanágio, volta a cingir-se quase exclusivamente ao universo feminino, recorrendo para o efeito às suas eternas actrizes-fetiche, Rita Blanco, Anabela Moreira (divinal!) e Cleia Almeida (às quais se juntam Beatriz Batarda, Leonor Silveira e Madalena Almeida - e para "destoar" o Nuno Lopes -, com performances naturalistas de "comer e chorar por mais"). No entanto, parece "renegar" algumas das características base que têm feito parte do seu ADN, nomeadamente as histórias impregnadas de realismo social e o recurso ao Kitsch, optando, ao invés, por uma narrativa "sofisticada" coadjuvada por uma filmagem "formal" (assente sobretudo em magnificos grandes planos fixos geométricos, captados a "régua e esquadro") e uma fotografia com contrastes de luz "encher o olho" (da responsabilidade da Leonor Teles). A acção dos dois filmes, que decorre num periodo de tempo limitado (um fim de semana), está confinada ao espaço hermético de um pequeno hotel (dotado de um glamour decadente, consequência de dificuldades financeiras), sito algures no litoral norte de Portugal, gerido por duas gerações de (amarguradas) mulheres da mesma família (em constante conflito, induzido pelo comportamento maldoso/sádico da matriarca). Apesar de fazerem caminho separadamente, ambos (marcadamente melodramáticos e povoados por um batalhão de mães venenosas, egoistas e opressoras) funcionam em espelho, uma vez que a acção principal de um deles é o plano secundário do outro, e vice-versa (numa lógica de campo/contra-campo). Ou seja, iremos ser confrontados com cenas entrelaçadas (repetidas) de um mesmo evento para que tenhamos as diferentes perspectivas dos múltiplos intervenientes. Deste modo, em "Mal Viver" seguiremos as interações relacionais das proprietárias do hotel, tendo os hóspedes como sombras de fundo (literalmente); enquanto que em "Viver Mal" estes últimos passarão à condição de actores principais e as anteriores protagonistas serão meras figurantes.
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