A Baleia

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Drama 117 min 2023 M/16 02/03/2023 EUA

Título Original

Sinopse

Com mais de 250 quilos de peso, Charlie (Brendan Fraser) sofre de obesidade mórbida e há já vários anos que se recusa a sair de casa. Professor de inglês numa universidade online, ele dá as suas aulas sempre de câmara desligada para evitar revelar a sua aparência. A única pessoa com quem convive com regularidade é Liz (Hong Chau), sua enfermeira e única amiga, que lhe presta os cuidados básicos. Apesar de ter aprendido a lidar com a solidão, há algo que consome Charlie mais do que tudo o resto: a culpa de não ter acompanhado o crescimento da filha Ellie (Sadie Sink, a carismática Max de “Stranger Things”), depois de ter abandonado o casamento com Mary (Samantha Morton) para viver um grande amor. Mas agora, decidido a conquistar o afecto da filha, que atravessa um momento particularmente delicado da sua vida, ele sente-se finalmente capaz de enfrentar os seus demónios.
Estreado no Festival de Cinema de Veneza, um drama rodado durante a pandemia por Darren Aronofsky ("O Wrestler", "Cisne Negro", “Noé”, “Mãe!") que tem por base a aclamada peça de Samuel D. Hunter (que aqui se responsabiliza pelo argumento). É o mais mediático dos papéis recentes de Fraser, que foi uma grande estrela nos anos 1990 e no início dos anos 2000 e passou uns tempos afastado da ribalta, estando com este filme em pleno ressurgimento de carreira. Pela sua interpretação como Charlie, ganhou o ​Óscar para melhor actor principal, o Critics' Choice Awards e foi nomeado para o Globo de Ouro, o Screen Actors Guild e o BAFTA. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

O corpanzil na sala de estar

Luís Miguel Oliveira

O registo de uma performance de actor. É isso o que realmente vale a pena em A Baleia.

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Críticas dos leitores

A crueldade vive nos seres humanos

Margarida

Mereceu o Óscar para melhor ator. Uma interpretação extraordinária. História triste que mostra que há humanos que são cruéis, preconceituosos e cobardes com os indefesos/ doentes. Alguém que quer partir em paz e é o único que acredita que o Ser Humano é “extraordinário”, apesar de ele próprio a vítima. Vale pena ir ver.

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O Amor Não Chega

Mário Ferreira

"A Baleia" marca o regresso de Darren Aronofsky ao grande ecrã. Esta é uma enorme película estreada no Festival de Veneza e que resgata, para o papel da sua vida, Brendan Fraser, aqui desempenhando o papel de Charlie. Aparentemente este é um filme dramático sobre alguém que sofre de obesidade mórbida e que, além de viver num profundo isolamento, se encontra prestes a morrer, em resultado da sua condição física. Se este filme fosse "só" isso, aliado a um desempenho notável de Fraser, já seria um grande filme, mas não é, não é mesmo. Trata-se de uma enorme parábola sobre o amor, a culpa e a redenção. Tudo neste filme é gigante, avassalador e grotesco. O argumento deste enorme filme é de Samuel D. Hunter, que adapta para o cinema a aclamada peça homónima da sua dramaturgia. Talvez até por isso, nesta película o cuidado da construção dos personagens é algo que se destaca de forma irrepreensível. Além de Fraser, Hong Chau, aqui no papel de Liz, enfermeira, irmã de Dilan, o seu namorado morto, e única pessoa com quem convive e que dele cuida, enche o ecrã cada vez que entra em cena. Charlie, professor universitário, casado com Mary e pai de Ellie, comete o pecado original de se apaixonar por Dilan, um dos seus alunos e assumido devoto de uma qualquer religião que professa o fim do Mundo e a salvação. Este amor conduz ao divórcio e à separação da sua filha criança. O amor, mesmo que absoluto não é suficiente, não foi suficiente para diminuir a culpa que consumiu Dilan até ao seu suicídio. Este é o pano de fundo que suporta esta gigante parábola. Como se sobrevive à morte? Só a morte salva, só a morte prova que se viveu, que se amou. Charlie mergulha em direção à morte, em direção à sua redenção. A autoflagelação é o caminho da expiação da culpa, da culpa da morte de Dilan, da culpa do abandono de Ellie e até mesmo da culpa daquilo em que Mary se transformou. Todo o caminho do filme é interior, e é por isso mesmo que tudo é claustrofóbico, tudo se concentra em si mesmo. A ação decorre quase na sua totalidade na sala de Charlie, numa concentração monocromática inebriante, aqui híper focada numa imagem 4:3, o que adensa ainda mais o holofote que recai sobre a sublimação interior do sofrimento. Todas as imagens são reduzidas a uma geometria real, como a forma do ecrã iluminado, ou simbólica como cada fotografia de Charlie com Dilan, enquanto símbolo do amor absoluto, que se encontram sempre aprisionadas numa pequena moldura que não permite que esse amor seja maior, mas ao estar preso se torna gigante. A autodestruição, aqui alegoricamente representada pela obesidade mórbida, torna-se pois, o caminho para a libertação que apenas a morte permite. A culpa redime-se, o amor pela filha sublima-se e assim se percebe que o amor não é suficiente, que o amor não salva e que o amor pode matar. Mas morrer não é o fim trágico, é apenas a absoluta redenção, é a conquista da liberdade que a vida não permitiu. Este é um enorme filme, com desempenhos brilhantes e arrebatadores. Um filme para ser visto sem qualquer lirismo ou romantismo, apenas visto com o despudor do sofrimento, o vazio da existência e o assombro da fugaz fragilidade da existência.

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2 estrelas

José Miguel Costa

O norte-americano Darren Aronofsyk não é um realizador consensual entre a crítica especializada e público. Os seus filmes (de entre os quais destaco o divino "Cisne Negro" e o disruptivo "Mãe!") que, por norma, incidem sobre conturbadas relações progenitores versus filhos e/ou o peso opressor da religião, são povoados por "personagens-limite" mergulhados em agrestes contextos surrealistas/simbólicos. No entanto, a sua mais recente obra ("A Baleia"), apesar de abarcar as tradicionais temáticas, é detentora de um tom mais intimista/humanista e realista (quase simplista - no mau sentido!), aproximando-se mais de uma sua outra película (atípica para os seus cânones), "The Wrestler" (que à data fez renascer o Mickey Rourke das cinzas - à semelhança do que agora se verifica com Branden Fraser, que fez "história", num target cinematográfico diametralmente oposto, com os blockbusters pipoqueiros “A Múmia” e “George, O Rei da Selva”). No epicentro da acção de um drama auto-indulgente e destituído de subtilezas narrativas, que se cinge exclusivamente a uma diminuta sala-cozinha sem luminosidade e suja, encontramos um professor de literatura (Branden Fraser), que dá aulas online (com a câmara desligada), capturado pela obesidade mórbida, numa jornada de luto auto-destrutivo decorrente do falecimento do seu namorado (encontrando-se, igualmente, à beira da morte, mas recusando qualquer acompanhamento clínico), agravada por um sentimento de culpa (que o corrói) por ter abandonado a filha quando esta era ainda criança. Na sua última semana de vida, enquanto recebe os esporádicos cuidados básicos por parte da única amiga (Hong Chau) e as visitas de um jovem missionário cristão (Ty Simpkins), vemo-lo a tentar (pateticamente) reconectar-se (quiçá numa última oportunidade de redenção) com a sua intragável filha (Sadie Sink). Basicamente estamos perante um claustrofóbico estudo de personagem, num registo de teatro filmado (cuja opção de captação de imagem em formato 4:3, bem como o recurso a uma fotografia saturada de cores escuras, reforçam ainda mais a sensação de "sufoco"), no qual as histéricas três personagens secundárias entram e saem de cena de modo descontrolado (e quase sempre sem acrescentarem nada de significativo e/ou produtivo para o desenrolar de um enredo que se revela inócuo, repetitivo e até cansativo). O filme, por certo, não teria saltado para as luzes da ribalta se não fosse o desempenho avassalador de Fraser (embora, pessoalmente, o ache demasiado exagerado - e a câmara a gravitar constantemente em seu redor, de forma quase voyeurista/parasitária, apenas reforça esta minha convicção).

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Uma boa metáfora

Paula R.

A critica de Luis Miguel Oliveira é redutora, por não conseguir ver, para além do grotesco do corpanzil de Fraser na sala de estar. De tão incomodado com o fenómeno Brenaissance, LMO reduz o excelente desempenho de Fraser aos seus olhos tristes e não consegue ver ponta por onde se lhe pegue, nos personagens que povoam o filme. Ao contrário do que LMO deixa na sua crítica, o personagem de Fraser não representa um qualquer homossexual, simboliza sim; o estigma, discriminação, vergonha, culpa, drama de toda uma minoria de pessoas, cujas vidas tiveram e ainda têm, desfechos dramáticos, por razão da sua orientação sexual. Os vários personagens que atravessam o filme, simbolizam cada um deles isso mesmo; começando pelo omnipresente Fraser; passando pelo rapaz da igreja puritana que de porta em porta vai espalhando a palavra da salvação aos perdidos; na revolta da filha e ex-mulher de Fraser, destroçadas cada uma na sua dimensão pelo seu abandono do lar; no rapaz do take-away que, no dia em que se confronta com a monstruosa obesidade de Fraser, passa da simpatia ao horror/nojo, no que se pode interpretar com um duplo sentido; aos alunos de Fraser a que em aulas on-line ele não se permite mostrar a sua vergonha; ao amor da sua vida, morto pelo preconceito internalizado, fruto duma cultura hipócrita e puritana que tudo contamina. Se a densidade psicológica e dramática destes personagens, presos na trama do preconceito, vergonha e culpa não bastasse, o desfecho do filme é redentor, com Fraser a, num momento de autenticidade, confrontar com crueza o rapaz da igreja com a sua sexualidade e finalmente mostrar à sua classe on-line o 'corpo' por detrás da voz; resgatar o amor da sua filha, para finalmente se poder libertar.

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