O dia em que ele chega
Fernando Oliveira
Um homem, professor de Cinema numa universidade na província e, antes, realizador de umas poucas curtas-metragens, regressa a Seoul após quatro anos de ausência para passar três dias com um amigo. No primeiro dia esse amigo não tem disponibilidade e este homem, Sungjoon, passa o dia a deambular, vai encontrando outras pessoas e bebe, bebe muito. Há noite procura uma antiga namorada que tinha abandonado quando partiu e depois das recriminações acaba por passar a noite com ela, de manhã despedem-se para sempre (?). Já com o amigo, Youngho, e depois de muita bebida vão a um bar com uma amiga deste, Boram, uma critica de Cinema. No bar não está ninguém, mas como Youngho conhece a proprietária começam a beber (bebe-se sempre em demasia nos filmes de Hong), quando esta chega é um choque para Sungjoon – ela é tal e qual a namorada com quem tinha dormido a noite anterior. <br />A partir daqui Hong desconstrói a linearidade da história numa série de variações que partem sempre deste encontro neste bar. Não me parece que queira contar a mesma história de várias maneiras, ou de uma desmultiplicação de pontos de vista; há uma tão estranha arbitrariedade naquilo que vemos que julgo que Hong nos quer mostrar a contradição essencial que há em todas as histórias, mais ainda naquelas contadas por imagens: a verdade ou a mentira daquilo que vemos é aquela que realizador, ou o fotógrafo, escolheu mostrar e escolheu esconder. <br />Fora esta relação com o que é Cinema, sempre presente nos filmes de Hong, é mais uma vez um filme sobre pessoas como nós, encontros na rua e em bares, muita conversa, muito álcool, discussões sobre muitas coisas quase sempre sem muita importância, amores ou desamores, tudo a tanger a imoralidade. Um filme sobre a banalidade, até sobre o tédio. Comédias tristes é o que são, se é que isto existe. Ou, porque não, filmes “bêbados”? <br />E acaba como começou: o primeiro dia de Sungjoon em Seul, à espera do amigo. <br />(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
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