Deixar o passado descansar
Rita Almeida (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)
Depois da falhada revolução estudantil de 68, um grupo de jovens retira-se para a mansão herdada por um deles. Aí, partilhando uma vida comunal, dão largas às suas artes, ao consumo de ao sdrogas eexo ocasional. No centro deste paraíso hippie está o poeta de 20 anos, François (Louis Garrel, "Ma Mère" de Christophe Honoré, 2004), e a jovem escultora Lilie (Clothide Hesme). O seu romance é vivido de forma distinta pelos dois jovens, ele romântico e ingénuo, ela pragmática e realista. A inércia boémia acaba por substituir o falso idealismo deste jovens. O desequilíbrio emocional e mental acaba por instalar-se na casa e a dissolução do grupo precipitará o final de um sonho. "Les Amants Réguliers" é um lento e extenuante passeio de três horas pelas memórias do cineasta Philippe Garrel sobre o Maio de 68. De carácter claramente autobiográfico, onde Louis Garrel desempenha o papel que teria sido o do seu pai, também não é arbitrária a presença de Maurice Garrel, pai do cineasta.<BR/><BR/>"Les Amants Réguliers" é um exercício nostálgico que saúda a Nouvelle Vague francesa nos seus aspectos mais estéticos. O preto e branco da fotografia de William Lubtchansky é, neste caso, quase literal, sem cinzentos que atenuem os ambientes escuros ou que amenizem a luz excessiva. Infelizmente, junta-se a isto um péssimo trabalho de legendagem, que impede a leitura da esmagadora parte dos diálogos. O filme "The Dreamers" (2003) de Bernardo Bertolucci (também protagonizado por Louis Garrel) resumia o Maio de 68 a sexo e beleza, mas a versão supostamente mais realista de Garrel é desesperadamente aborrecida e pretensiosa.<BR/><BR/>Sendo esta a realidade, então tudo não passou de um entretém para jovens da classe média sem nada melhor para fazer do que atirar uns quantos "cocktail" molotov e ficar a vê-los arder (lentamente) ao sabor do ópio (ainda mais lento). E com tanta boa música para "colorir" este filme, Garrel opta por um minimalismo onde a música, quando existe, parece estar a substituir emoções que deviam lá estar por outros meios.<BR/><BR/>E depois há a relação entre François e Lilie, cuja intensidade é mencionada em palavras, mas que as personagens (talvez dormentes de tudo o resto) parecem ser incapazes de transmitir. Entre olhares intensos e sorrisos tímidos somos forçados a completar o puzzle de esperança e desespero vividos por ambos. "Les Amants Réguliers" é um filme sobre oportunidades perdidas e a necessidade de dizer "adeus". Talvez Philippe Garrel tivesse feito melhor em deixar o passado, histórico e estético, descansar na sua (e nossa) memória. Nota: 4/10.
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