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O Caimão

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Comédia Dramática 112 min 2006 M/12 22/03/2007 ITA, FRA

Título Original

Il Caimano

Sinopse

Este filme de Nanni Moretti, uma metáfora sobre a Itália contemporânea, tornou-se num êxito de bilheteira no país, tendo estreado dias antes das eleições que afastaram do poder Berlusconi. É a história de um produtor em falência profissional e sentimental, Bruno Bonomo, que tem um passado de produtor de filmes de série Z com títulos inspiradores como "Os Mocassins Assassinos" ou "Maciste vs. Freud". Mas agora não consegue arranjar financiamento para o seu próximo projecto, "O Regresso de Cristóvão Colombo". Estrangulado pelas dívidas e fraquezas, com o casamento em risco e os filhos perdidos, Bruno perde o norte. É aí que o seu caminho se cruza com o de uma jovem realizadora que lhe entrega um guião, "O Caimão". A princípio Bruno pensa que é um "thriller" musculado, mas apercebe-se numa segunda leitura mais atenta - se bem que um pouco tardia - que se trata de um filme sobre o primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Bruno já não pode recuar e vê-se obrigado a cumprir o planeado, encontrar o actor principal, enquanto tenta recolar as peças da sua vida conjugal. No entanto, em todo este novelo de erros e dificuldades, começa a nascer um novo entusiasmo em Bruno Bonomo: o da afirmação da sua dignidade. Este homem para quem tudo estava acabado encontra em si a energia para levar até ao fim um projecto que começou por acaso, mas que também ele acredita agora necessário tornar realidade. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

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Críticas dos leitores

A intimidade de uma família, e de um país

Rita (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)

IL CAIMANO<BR/>de Nanni Moretti<BR/><BR/><BR/>Para esclarecer desde início, Silvio Berlusconi é uma parte de “Il Caimano”, mas o filme não é sobre ele –vendo bem isso seria não só doloroso como redundante, pela dura realidade e por não nos trazer nada de novo. <BR/><BR/>Em vez disso, Nanni Moretti (“Aprile”, “Caro Diario”, “La Stanza del Figlio”) traz-nos mais um filme genialmente concebido, equilibrando diferentes ideias e fazendo valer as suas opiniões (que, politicamente nunca foram segredo) de uma forma profundamente honesta e emotiva. <BR/><BR/>Bruno Bonomo (Silvio Orlando, “La Stanza del Figlio”) é um produtor de filmes de série B. Bruno vive há mais de 10 anos na ressaca do fiasco do seu último filme, “Cataratas”, e acabam de lhe retirar o financiamento para um épico low-budget sobre Cristóvão Colombo. Ao mesmo tempo que o seu estúdio está prestes a ir à falência, ele está também a separar-se da sua mulher, Paola (Margherita Buy, “Manuale d’Amore”), a estrela de um anterior filme seu - “Aidra”. Numa retrospectiva sobre a obra de Bruno, Teresa (Jasmine Trinca, “Manuale d’Amore”), uma jovem argumentista, entrega-lhe um guião intitulado “O Caimão”. <BR/><BR/>A família de Bruno reflecte uma Itália que se desmorona, onde a realidade é escondida dos filhos sob a capa de histórias fantasiosas com a heroína Aidra e rebuscadas fugas ao conflito. Bruno (uma poderosa interpretação de Silvio Orlando) tenta manter um clima leve entre todos na esperança de que a sua mulher mude de ideias<BR/><BR/>O olho clínico de Moretti perante a intimidade familiar observa o ciúme e o sofrimento com um extraordinário humor e diálogos simplesmente fabulosos. Mas “Il Caimano” é ainda um filme sobre o cinema e sobre a sua responsabilidade social (elemento determinante na obra de Moretti já desde o delicioso “Palombella Rossa”), mas também sobre as pressões inerentes à sua produção, como a procura de financiamento ou o medo de represálias. Mas a vontade de dizer algo importante pode constituir a força necessária para combater os reveses. <BR/><BR/>Fugindo à duplicação física do político italiano, Moretti opta por se centrar na sua ideia, mais do que na sua imagem. Em diferentes momentos do filme três diferentes actores serão contactados para representar o papel de Berlusconi no “filme dentro do filme”: Elio De Capitani, Michele Placido (“La Piovra”) e depois o próprio Moretti. Mas as imagens de arquivo utilizadas do próprio Berlusconi ofuscariam qualquer actor. <BR/><BR/>Num momento especial, a música “Blower’s Dauhgter” de Damien Rice (famosa pelo filme “Closer”) reflecte uma ínfima possibilidade de entendimento num contexto de ruptura. Talvez seja altura de Itália perdoar-se a si mesma. <BR/><BR/><BR/>NOTA: Muito recomendável a curta-metragem que antecede este filme, da autoria da portuguesa Regina Pessoa, “História Trágica Com Final Feliz”.<BR/><BR/><BR/>8/10<BR/>
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Cinema e Audiovisual

Federico Visconti

De que é que falamos, quando falamos de Cinema? (aproveitando uma paráfrase de Carver)...<BR/>Moretti dá-nos uma resposta eficaz. Qual o lugar do cinema hoje. E mostra à saciedade qual é (em que se tornou) o poder do Audiovisual. Inclusive, o que pode permitir hoje o controlo dos media: acesso directo à poltrona de Presidente do Conselho de Ministros!<BR/>O filme dentro do filme é a metáfora da Itália actual. O poder da imagem, a construção de um império, o anti-comunismo serôdio de Berlusconi; o culto da realização económica e o ataque às instituições do Estado que ainda podem defender a Constituição.<BR/>Mas essa é a análise política do cineasta-cidadão.<BR/>A história do produtor de cinema é um bela homenagem à Cinecittà, à História do Cinema Italiano (de algum modo) e coloca-nos perante a dúvida do futuro imediato do chamado "cinema italiano" [a propósito seria interessante que Paulo Branco (pois imagino que às 'majors' tal serviço cultural não interesse!!!) pudesse trazer até nós o cinema de novos autores como Garrone, Sorrentino e Paravidino, para além de Crialese].<BR/>Consideração final: estranha-se o atraso da exibição do filme, sobretudo pela perda de actualidade 'política' da crítica a Berlusconi - o filme saiu em Itália em plena campanha eleitoral... Contudo, pode ser que esta metáfora berlusconiana, nos faça pensar sobre o controlo dos meios de comunicação lusitanos!!!
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O Caimão + História Trágica com Final Feliz

Sandra Fonseca

Não escrevo para comentar o filme, mas apenas para perguntar ao responsavéis do Cinecartaz qual a razão para não apresentarem a ficha técnica da curta "História Trágica com Final Feliz"?<BR/>N.R.: O Cinecartaz agradece a chamada de atenção. A correcção já foi efectuada.
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História trágica com final feliz

P. Borges

<BR/>Vale a pena ir ver este filme só para ver a curta metragem "História trágica com final feliz", um filme de animação lindíssimo e bem feito. É um dos filmes portugueses com mais prémios internacionais de sempre.<BR/> <BR/>Pena é que o Público apenas mencione o filme principal. Os leitores merecem mais.<BR/><BR/>
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Um Cinema de Reflexos

Alberto Simoes

À imagem do seu país, Bruno parece navegar à deriva: tal como a sua vida pessoal – o casamento está à beira de um fim que ele se recusa a reconhecer –, a sua carreira como produtor de cinema de série B já conheceu melhores dias. A braços com um projecto de um filme sobre a vida de Cristóvão Colombo em pleno naufrágio, recebe das mãos de Teresa o argumento de um filme sobre os meandros pouco claros da escalada pouco clara de Berlusconi até ao Poder; Bruno, que até votou nele sem saber muito bem porquê, decide aceitar o projecto da jovem e inexperiente realizadora sem sequer ler o argumento. Porquê? Porque é barato. <BR/>Quando se apercebe do assunto principal do filme que se disponibilizou para produzir, é já demasiado tarde para recuar: à beira da falência profissional e pessoal, Bruno vê-se então obrigado a investir nele toda a sua energia para levar este projecto até ao fim. Provavelmente, um filme de conteúdo tão explosivo enterrará de uma vez por todas a sua carreira cinematográfica; porém, a realização deste projecto representará para ele uma forma de redenção pessoal…<BR/>Tendo em conta o contexto em que foi rodado e lançado – isto é, em plena antecâmara para as eleições legislativas que ditaram o afastamento do histriónico Sílvio Berlusconi do poder político em Itália – e sabendo de antemão da oposição clara que o realizador italiano tem feito ao longo dos últimos dez anos ao todo-poderoso presidente, entre outras empresas, do AC Milan, da RAI e da MediaSet, o último filme de Nanni Moretti que só agora estreia em Portugal demonstra de forma não tão furiosa como seria de esperar a estreita relação entre poder político e os média, assim como a perigosa imunidade de quem a ele acede ao primeiro.<BR/>Não se pense porém que a falta de agressividade está patente na abordagem do realizador ao filme; nada disso. Provavelmente, Nanni Moretti está apenas mais velho e ponderado, o que faz com que os seus pontos de vista sejam expostos através de formas mais subtis, mas igualmente eficazes. É justamente aí que reside (talvez) a surpresa: em lugar de ocupar toda a sua – e a nossa – atenção com o lobo mau, Moretti opta por temperar as acusações políticas com um manifesto de amor aos estúdios da Cineccità, local mítico de criação de grande parte do cinema italiano das décadas douradas de 50 e 60.<BR/>Através do estabelecimento deste jogo subtil de reflexos entre a evolução do cinema italiano e a sociedade italiana em geral – sociedade na qual as mulheres e os homens italianos parecem transportar-se constantemente da nostalgia dos dias passados para uma estranha apatia nos dias de hoje –, o realizador italiano apropria-se das mesmas armas do inimigo para se aproximar do mesmo público; depois de predispor quem quer que veja “O Caimão” a seguir a trama do filme através do relato de uma história em que mais de um italiano se terá revisto, Moretti passa a dispor de campo aberto para colocar o dedo na ferida sem grandes contemplações. A apatia de um povo inteiro terá feito dele o cúmplice ideal para uma personagem de carne e osso dotada de requintes de absurdo, um animal perigoso que irrompeu pela vida dos italianos adentro debaixo de uma pele do cordeiro. Não querendo deixar lugar a subentendidos, a personagem de Sturovsky, o produtor polaco a banhos numa piscina de Roma com Bruno, resume a situação numa única frase: quando se pensa que a Itália bateu no fundo, acontece sempre algo que prova que ainda pode ser pior.<BR/>Apesar de todas estas premissas, “O Caimão” deixa entrever alguma luz de optimismo; maugrado o “feitiço” debaixo do qual Berlusconi tem trazido os italianos durante os últimos dez anos, nem tudo está perdido. Do lado de cá, a verdade é que, com ou sem a ajuda deste filme – nunca o saberemos… –, Berlusconi não foi reconduzido no cargo de Primeiro-Ministro. <BR/>Nem ficção, nem documentário: o realizador italiano assina um panfleto abertamente político contra as novas (?) formas de totalitarismo surgidas na segunda metade do século XX, lembrando a todos os italianos – e porque não também aos outros? – que a realidade pode, por vezes, ultrapassar realmente a ficção de forma rastejante sem que se dê por isso antes que seja tarde demais.<BR/>O alerta está (novamente) dado.<BR/>
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