O Sol do Futuro
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
Giovanni é realizador e marido de Paola, uma produtora de cinema com quem trabalha há anos. Enquanto ele se dedica a uma longa-metragem sobre a Revolução Húngara de 1956, ela começa a trabalhar numa outra produção cinematográfica, algo que o deixa bastante ressentido.
E tudo parece estar contra o projecto de Giovanni: a indústria cinematográfica enfrenta mudanças de paradigma difíceis de contornar, o seu casamento aparenta alguns sinais de estar em crise e o co-produtor do seu filme está à beira da falência. Com tudo isto a acontecer ao mesmo tempo, ele vê-se a repensar a forma como encara a vida e a própria arte, a quem se entregou de corpo e alma.
Estreado no Festival de Cannes, onde esteve em competição, esta produção franco-italiana foi realizada, escrita e protagonizada por Nanni Moretti — célebre por Querido Diário, Abril, O Quarto do Filho, Habemus Papam, Minha Mãe ou Três Andares —, que aqui contracena com Margherita Buy, Silvio Orlando, Barbora Bobulova, Valentina Romani e Mathieu Amalric. PÚBLICO
Críticas dos leitores
Muito inspirador
Paulo Antunes
Uma bela reflexão sobre arte e política! As questões que atormentaram a esquerda dissidente do autoritarismo stalinista/soviético protagonizou a invasão em Budapeste/Hungria (1956). O PCI teve papel preponderante nessa dissidência, sendo acompanhado pelo PCE entre outros, fundando mais tarde o "Eurocomunismo".
O filme é também uma homenagem ao cinema, com "C" maiúsculo, quer pelas notórias citações a filmes, atores, diretores, mas também e principalmente, nas cenas do filme de do alter ego de Nani Moreti (Giovanni), quando este discute as opções e motivações na condução de uma sequência.
É antológico quando ele, Giovanni/Moreti, invade o set de filmagem de outra produção que está sendo conduzida pela esposa de Giovanni/Moreti, Paola, e discute o valor estético de uma cena de execução de um personagem por outro! As reflexões do diretor por meio de seu alter ego, modificando ao cabo cenas e a sequência final, em desacordo com o seu modo de sempre agir, ortodoxo, é emocionante e dialoga com um grande cinema, dialoga com os grandes da política!
Emocionante a "passeata " da sequência final, onde uma justa e necessária homenagem a Antonio Gramsci se consuma por meio de sua imagem em um cartaz carregado por um dos participantes da passeata/sequência final!
Sim, o PCI havia se desvinculado do Partido Comunista da URSS, fundado um conceito democrático de alcançar o poder, e nos instiga até hoje! O título brasileiro do filme: "O melhor está por vir", nos desafia a continuar a luta visando o socialismo preconizado por Karl Marx e Frederich Engels!
O sol do futuro
Luís Pinto Meireles
Filme sobre perdas, mas também sobre ganhos, e a pensar num futuro com esperança de mudanças.
2 estrelas
José Miguel Costa
"O Sol do Futuro", coprodução franco-italiana (realizada, escrita e protagonizada pelo inconfundível Nanni Moretti), é uma neurótica comédia dramática introspectiva, auto-irónica e (obviamente) politica.
Adoptando o registo de "filme dentro de um filme", que navega por vários períodos espaçotemporais, Moretti encarna Giovanni (um realizador resmungão, seu alter ego), que passaremos a acompanhar ao longo do processo de rodagem de uma película de época que recua até ao ano de 1956 com o objectivo de reescrever o rumo da História do extinto partido comunista italiano (que à data não se rebelou contra a mãe Rússia, mesmo após a invasão da Hungria por parte do exército soviético).
Para dar mais colorido aos meandros desta narrativa ficcional, simultaneamente, vai-nos dando conhecimento de múltiplos episódios (ocorridos no presente) da sua crise existencial (relacionada sobretudo com questões de "moralidade" cinéfila) e matrimonial.
Contra todas as expectativas (já que sou um fã confesso de Moretti), esta obra não me cativou minimamente (inclusive, fiz um esforço hercúleo para resistir ao deus do sono), fruto de uma metatextualidade excessiva e de um deficiente/confuso intercruzamento das várias narrativas paralelas.
O Sol do Futuro
Cristina Milagre
Uma grande lufada de ar fresco, uma saída das caixas em que vivemos.
A três dimensões sem precisar de óculos
Fernando Lobo Pimentel
Apesar do aquecimento global, recomendo este filme "O Sol do futuro" sem a menor hesitação. Desde há 28 anos, com o "Caro Diário", que aprecio a originalidade do Nanni Moretti. Agrada-me o seu humor baseado no insólito, de forma que a ser formulaica, o é apenas no universo dos seus filmes, e não da indústria.
Um humor que se baseia não na vulgaridade, mas no afastamento dela, a caminho da arte. Isso vê-se bem neste filme, que é simples mas tocante. Faz rir (sem dúvida), pensar (certamente), chorar (talvez). Somos surpreendidos a cada momento, e isso não vou estragar, mas gostava de dizer, de um ponto de vista mais analítico, qual é para mim o outro ponto forte do filme: há uma terceira dimensão na tela (e não é preciso pôr os óculos).
Não será a primeira vez, mas fiquei com a sensação que aqui se nota mais que nunca. Há alguém que é realizador, ator, frequentador de filmes dentro do filme, providenciador de falas a personagens, crítico de cinema em tempo de rodagem. Há alguém com quem sentimos o riso e o drama.
Seria injusto esquecer outros excelentes atores, mas é inevitável dar algum destaque a esta continuidade relativamente ímpar entre ideias, escrita, realização e representação numa única pessoa, a tal dimensão extra do filme, que parece ser o segredo para uma certa unidade na película. Isso convém muito ao cinema. Que nos sinalize também o que é indivisível. Como o Sol. Mas não o do futuro. O de hoje.
Envie-nos a sua crítica
Submissão feita com sucesso!