Este foi o último filme de Ruiz e foi estreado nove meses depois da sua morte no Festival de Cannes. Adapta elementos de três contos do livro homónimo (1952) do escritor chileno Hernán del Solar, tendo como tema central a figura de um senhor reformado que espera a morte e revive a sua vida, misturando factos reais e imaginários. Ruiz acrescentou a estes elementos a figura de Jean Giono, porque o romancista francês sonhava em ir à cidade chilena de Antofagasta, unicamente porque o seu nome o fascinava. <br /><br />No filme, um duplo de Giono vai a Antofagasta, onde dá aulas, enquanto o verdadeiro escritor permanece em França a escrever os seus livros. Durante uma discussão entre o professor Giono e um dos seus alunos, surge uma ideia: o tempo não é uma sucessão linear, é feito de “contas”, que podem ser enfiadas e alternadas como num colar. “O filme, em definitivo, limita-se a concretizar este motivo. Daí o paradoxo que desmente as nossas certezas sobre o tempo: este derradeiro filme de Ruiz talvez seja a melhor introdução ao conjunto da sua obra” (Guy Scarpetta). Texto: Cinemateca Portuguesa