Emilia Pérez
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
Rita Moro Castro está cansada de ser usada pela firma de advogados onde trabalha para ajudar toda a espécie de delinquentes a contornar a lei e passar incólumes pelos seus crimes. Um dia recebe uma proposta tão inesperada quando irrecusável: fazer com que Juan Manitas Del Monte, um temível líder de um cartel de drogas mexicano, desapareça sem deixar rasto para que se possa tornar a mulher que sempre desejou ser. É assim que nasce Emilia Pérez, uma mulher poderosa que fará os possíveis para compensar todo o mal que fez.
Com assinatura de Jacques Audiard (De Tanto Bater o Meu Coração Parou, Um Profeta, Ferrugem e Osso, Os Irmãos Sisters), um "thriller" musical cheio de humor sobre identidade e transformação. Emilia Pérez esteve em competição no Festival de Cinema de Cannes, onde o Prémio do Júri foi entregue a Audiard e o de melhor interpretação feminina ao quarteto formado por Karla Sofía Gascón, Zoe Saldaña, Selena Gomez e Adriana Paz. PÚBLICO
Críticas Ípsilon
Emilia Pérez: um filme falhado e fascinante de Jacques Audiard
Pelo realizador de Um Profeta e De Tanto Bater o Meu Coração Parou, uma ópera cinematográfica, narcomelodrama musical sobre a redenção.
Ler maisCríticas dos leitores
Emilia Pérez
Fernando Oliveira
De homem a mulher. De líder de um cartel mexicano a alguém que os confronta. De Manitas a Emilia Pérez. Esta é a história de um homem que semeia o terror à sua volta mas que sempre desejou ser mulher. A história dessa mulher que por amor não vai conseguir escapar ao peso do passado. Porque esse amor também é a mais forte das amarras que a puxam lá para trás.
Uma história que só poderia terminar numa tragédia, numa canção. Para a contar Jacques Audiard vai buscar o excesso diegético das telenovelas mexicanas (serão todas assim, mas é mais notável na América Latina) e contamina-o com a memória do Cinema de Jacques Demy, ou seja, é também um filme em-cantado: as emoções mais extremadas, o medo, o amor, a paixão, são-nos dadas por diálogos cantados, canções a mostrar-nos os estremecimentos emocionais daquelas mulheres. Também porque, como no Cinema de Demy, Audiard acredita que são elas que mais intensamente se deixam levar, se abandonam, a estas emoções.
É por isso que Emília é redimida, santificada, com uma canção que é a banda sonora de uma procissão que celebra a sua imagem num altar. De homem a mulher. De mulher a santa. É esta a história de Emilia Pérez. É portanto um melodrama, as emoções violentas e extremadas, a história de Emilia (Karla Sofía Gáscon) que nos é contada quase sempre pelo olhar de Rita (Zoe Saldaña), advogada em Juarez, que primeiro é sequestrada por Manitas e “obrigada” a ajudá-lo na sua transformação e anos mais tarde, quando a reencontra em Londres, esta lhe pede para fazer a sua família regressar para junto de si, outra vez em Juárez.
É nos planos do seu rosto, nos seu olhar, os medos e as hesitações pressentidas (a instabilidade de Emilia, a violência nelas acumulada), os sorrisos, mas também a imensa solidão, é nestes planos que o melodrama atinge o sublime exagero que todo o melodrama deve ter. É ela que nos conduz através do furacão emocional, de amor (a namorada Epifania) mas também de culpas e remorsos (a ex-esposa Jessica e o seus filhos) que é Emilia.E a tragédia a bater à porta.
É um filme triste, Audiard foge ao final feliz das telenovelas e dos melodramas musicais, mas é também um filme muito belo, com interpretações magníficas, que nos perturba intensamente. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
Emilia Pérez
Isabel
Acutilante e delicado, um domínio do secreto do "eu" mais profundo.
Emilia Pérez
Nuno Nóbrega
A Cidade do México surge como plano de fundo de um melodrama que aborda temas sensíveis, complexos e controversos. O filme fala sobre a oportunidade de termos uma segunda vida e qual o preço a pagar por isso.
É um filme que aborda a crise de desaparecidos no México, a transexualidade, o narcotráfico e a corrupção. Um musical dramático com uma pitada de comédia que pode não agradar a todos, principalmente quando se fala de temas sensíveis.
As músicas podem soar estranhas, é muito diferente dos outros musicais. Os sons naturais e as vozes de fundo são suficientes para criar uma música e essas transições musicais são geniais. Destaco "Mi camino", "Mal", "Papa" e "Para" como os melhores momentos musicais deste filme.
Por abordar vários temas não quer dizer que Emilia Pérez seja uma sopa de legumes, pelo contrário, tudo se encaixa perfeitamente na narrativa. A transição de Manitas del Monte para Emilia Pérez marca a transição de toda a narrativa do filme.
O filme é em espanhol e inglês, mas Jacques Audiard só sabe francês. A história é mexicana, mas as filmagens foram na França e qual é o problema? Nenhum! Emilia Pérez é um filme autêntico, uma obra de arte singular sem barreiras.
Brilhante opereta dos tempos modernos
Nazaré
Como explicado pela Variety (variety.com/2024/film/awards/emilia-perez-adapted-screenplay-oscars-1236173940/), o libretto foi desenvolvido pelo realizador a partir dum texto de Boris Razon chamado Écoute, em contínua colaboração com dois estupendos compositores (Camille e Clément Ducol), e o resto é... cinema. Do bom. Magnífico. Original.
Esta fita está nomeada para um montão de prémios e merece inteiramente ganhá-los, pela ousadia do tema e pelo absoluto brilhantismo de todos os intervenientes. Junto com outra obra-prima que dá pelo nome de "A Substância", esta fita mostra-nos a perfeita adaptação de cineastas franceses e suas equipas à produção de cinema do outro lado do Atlântico, trazendo-lhe (em inversão de sentido) novos mundos.
Três cenas dançadas são especialmente memoráveis: a da clínica tailandesa, a de Zoe Saldana durante o jantar de beneficência, e a de Selena Gómez que começa sobre a cama — grandes ideias, as do coreógrafo Damien Jalet. O desempenho da protagonista por Karla Sofía Gascón, actriz transgénero espanhola radicada no México, é outro ponto alto. E toda a história, cheia de paixões e traições, é sinuosa, convincente, sustentando a fita admiravelmente. O final é surpreendente e bem irónico, um glorioso final touch.
3 estrelas
José Miguel Costa
O filme "Emilia Pérez" (coprodução franco-belga falada em espanhol) pescou-me no imediato através de dois iscos: o facto de ser dirigido e escrito por Jacques Audiard (de cujo currículo constam obras que me deliciaram no passado, nomeadamente, "De Tanto Bater Meu Coração Parou", "Um Profeta" e "Ferrugem e Osso"), bem como pela sua aclamação no Festival de Cannes com o Prémio do Júri e o Prémio de Melhor Actriz (atribuiído, numa decisão inédita, às suas quatro protagonistas - Zoe Saldaña, a transexual Karla Sofia Gascón, Selena Gomez e Adriana Paz).
Deste modo, dirigi-me à sala de cinema quase totalmente desinformado acerca do dito cujo, pelo que "morri" aquando da primeira canção (já que os musicais são o único género cinematográfico que efectivamente abomino). No entanto, apesar deste "handicap", estranhamente, não renego este filme, dado tratar-se de uma surreal epifania cinéfila (algo "almodóvariana"), na qual nada parece "encaixar" (desde a mescla de estilos de filmagem à aparente incompatibilidade de linguagens cinéfilas - para além da inconsistência dos ritmos), mas, simultaneamente, acaba por "conquistar" devido à estranheza resultante desta mesma fusão de "incongruências".
De facto, não é todos os dias que nos deparamos com uma espécie de thriller criminal musicado e dotado de uma narrativa melodramática (quase novelesca e polvilhada por um humor inusitado) com pretensões de critica social (ao nível das temáticas de identidade de género; violência sobre as mulheres; e desintegração da sociedade mexicana, fruto corrupção e violência dos gangs). E todo este aparato para relatar-nos a história de um violentíssimo narcotraficante mexicano que decide encenar a própria morte com o objectivo de assumir a sua feminilidade através da mudança de sexo.
Envie-nos a sua crítica
Submissão feita com sucesso!






