Spencer
Título Original
Spencer
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas Ípsilon
Pablo Larraín, coleccionador de borboletas
Depois de Jackie, o chileno Pablo Larraín junta Diana Spencer, Lady Di, à sua colecção. Não de personagens, mas de borboletas aprisionadas.
Ler maisCríticas dos leitores
Spencer vs. Windsor
Pedro Brás Marques
“Spencer” era um filme que tinha tudo para eu nem sequer perder tempo com ele: o retrato duma personagem que sempre detestei, fútil e superficial, a que se somava ser interpretada por uma actriz inexpressiva, sempre com um olhar mortiço, idêntico ao da retratada, e cuja carreira assenta, maioritariamente, em papéis “pop”. No entanto, o que o chileno Pablo Larrain nos oferece, habituado que está a ‘biopics’, é um drama psicológico duma enorme brutalidade e de surpreendente profundidade, afastado do brilho e do “glamour” que eram a imagem de marca de Lady Di. E muito longe da série “Crown”, já agora…
Aqui, vamos encontrar uma princesa que, praticamente, se sente prisioneira. Há palácios, luxo, criados para tudo, divertimentos high-class, mas o marido despreza-a, a família dele também, não pode fazer o que quer e tudo isso a dilacera, qual Alice no País do Terror. Toda a acção de “Spencer” decorre em três dias, à volta do último Natal de Diana com a família do marido. O cenário é o palácio de Strathingham, onde tudo funciona de forma racional: a comida chega transportada pelo exército, os cozinheiros marcham, as ordens são escritas, os momentos do dia são controlados pelo relógio e até o peso dos convidados é verificado à entrada – por piada, que é este humor arcaico que se usa por aquelas paragens… A verdade é que todo este ambiente frio e insensível é o oposto do que a jovem, extrovertida e maternal Diana pretende. Sente-se só, abandonada, deslocada e rejeitada. Compara-se a Ana Bolena, a segunda mulher de Henrique VIII, que morreu decapitada. Aliás, a imagem de corpo sem cabeça é usada várias vezes por Larrain para sublinhar o estado de alma da retratada, nomeadamente quando Diana, num campo de cultivo da sua família, vislumbra um espantalho com um casaco que terá sido do pai, o recolhe e leva para o palácio, para depois o colocar num manequim sem cabeça, com quem procura um diálogo impossível. Mas há muito mais episódios simbólicos, como o da sua bulimia nervosa, como que a rejeitar a comida que os “maus” lhe davam, o facto de conduzir um veículo alemão, um Porsche, quando a família real só usa produtos nacionais, Rolls-Royce e Range-Rover e, claro, a sua roupa vir etiquetada de “POW”, que tanto significa “Princess of Wales” como evoca “Prisioner of War”…
Kirsten Stewart não está bem, está muito bem. Quase irreconhecível na sua transformação em Diana, compôs uma princesa alucinada, com crises psicológicas profundas, mergulhada numa angústia nos limites do insuportável. Está perdida, sem norte, o que é sublinhado quando, efectivamente, se perde a conduzir ou ao passear na propriedade real. Pablo Larrain não larga o seu rosto e Stewart não o deixa ficar mal. A camara prende-se aos olhos da actriz e nós com ela ou esvoaça à sua volta, numa vertigem de desorientação, realçada pelos travellings em longos corredores, um pouco à Kubrick em “The Shinning”. Sentimos pena desta Diana, que adorava os filhos, que queria passear com eles de cabriolet, enquanto cantavam músicas pop, como aquela que anunciava “All I need is a Miracle”, dos Mike & The Mechanics, uma vez que, realmente, uma reparação na sua vida era o que desesperadamente necessitava. Porque se tinha apercebido do seu profundo erro: o de ter querido ser uma Windsor, quando lhe bastava ter permanecido uma Spencer.
Spencer vs. Windsor
Pedro Brás Marques
“Spencer” era um filme que tinha tudo para eu nem sequer perder tempo com ele: o retrato duma personagem que sempre detestei, fútil e superficial, a que se somava ser interpretada por uma actriz inexpressiva, sempre com um olhar mortiço, idêntico ao da retratada, e cuja carreira assenta, maioritariamente, em papéis “pop”. No entanto, o que o chileno Pablo Larrain nos oferece, habituado que está a ‘biopics’, é um drama psicológico duma enorme brutalidade e de surpreendente profundidade, afastado do brilho e do “glamour” que eram a imagem de marca de Lady Di. E muito longe da série “Crown”, já agora…
Aqui, vamos encontrar uma princesa que, praticamente, se sente prisioneira. Há palácios, luxo, criados para tudo, divertimentos high-class, mas o marido despreza-a, a família dele também, não pode fazer o que quer e tudo isso a dilacera, qual Alice no País do Terror. Toda a acção de “Spencer” decorre em três dias, à volta do último Natal de Diana com a família do marido. O cenário é o palácio de Strathingham, onde tudo funciona de forma racional: a comida chega transportada pelo exército, os cozinheiros marcham, as ordens são escritas, os momentos do dia são controlados pelo relógio e até o peso dos convidados é verificado à entrada – por piada, que é este humor arcaico que se usa por aquelas paragens… A verdade é que todo este ambiente frio e insensível é o oposto do que a jovem, extrovertida e maternal Diana pretende. Sente-se só, abandonada, deslocada e rejeitada. Compara-se a Ana Bolena, a segunda mulher de Henrique VIII, que morreu decapitada. Aliás, a imagem de corpo sem cabeça é usada várias vezes por Larrain para sublinhar o estado de alma da retratada, nomeadamente quando Diana, num campo de cultivo da sua família, vislumbra um espantalho com um casaco que terá sido do pai, o recolhe e leva para o palácio, para depois o colocar num manequim sem cabeça, com quem procura um diálogo impossível. Mas há muito mais episódios simbólicos, como o da sua bulimia nervosa, como que a rejeitar a comida que os “maus” lhe davam, o facto de conduzir um veículo alemão, um Porsche, quando a família real só usa produtos nacionais, Rolls-Royce e Range-Rover e, claro, a sua roupa vir etiquetada de “POW”, que tanto significa “Princess of Wales” como evoca “Prisioner of War”…
Kirsten Stewart não está bem, está muito bem. Quase irreconhecível na sua transformação em Diana, compôs uma princesa alucinada, com crises psicológicas profundas, mergulhada numa angústia nos limites do insuportável. Está perdida, sem norte, o que é sublinhado quando, efectivamente, se perde a conduzir ou ao passear na propriedade real. Pablo Larrain não larga o seu rosto e Stewart não o deixa ficar mal. A camara prende-se aos olhos da actriz e nós com ela ou esvoaça à sua volta, numa vertigem de desorientação, realçada pelos travellings em longos corredores, um pouco à Kubrick em “The Shinning”. Sentimos pena desta Diana, que adorava os filhos, que queria passear com eles de cabriolet, enquanto cantavam músicas pop, como aquela que anunciava “All I need is a Miracle”, dos Mike & The Mechanics, uma vez que, realmente, uma reparação na sua vida era o que desesperadamente necessitava. Porque se tinha apercebido do seu profundo erro: o de ter querido ser uma Windsor, quando lhe bastava ter permanecido uma Spencer.
Muito bom
Helena
2 estrelas
José Miguel Costa
Bom drama psicológico
Martim Carneiro
Pouco interesse
Leila
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