5 estrelas
JOSÉ MIGUEL COSTA
“Deus viu que a luz era boa e separou a luz da escuridão”. É com este trecho bíblico que o chileno Paco Léon (que já me havia arrebatado, em 2009, com o surpreendente "Tony Manero") abre as "hostilidades", numa espécie de síntese/antecipação da luta angustiante entre o bem (ou melhor, o "menos mal") e o mal a que iremos assistir neste Clube. <br /> <br />O Clube é uma espécie de casa de repouso/prisão em regime aberto, situada numa pequena comunidade piscicola isolada, na qual a igreja católica exila os seus padres indesejados que intentaram, com a consumação de actos pecaminosos, contra os ensinamentos divinos (sim, sim é um filme que gira em redor da temática da pedófilia - e não só). Nela residem , em aparente harmonia, 4 padres e uma ex-freira, cumprindo diariamente, à risca, toda uma série de rituais de indole religiosa, sendo que, alegadamente, a sua actividade mais mundana se resume exclusivamente às corridas de cães (possuem um galgo de competição). No entanto, esta normalidade podre, perpetuada pela lei do silêncio, será quebrada com a chegada de um enigmático/ambíguo membro da hierarquia eclesiástica (um autêntico anjo negro) que irá remexer nas sombras/dilemas morais que os atormentam (bem como a toda a Instituição). <br /> <br />O Clube é um triller dramático denso/apaixonante e bem construído (numa espécie de novelo que se vai desenrolando num crescente clima de tensão, suspense e desconfiança - as cartas não nos são todas dadas de inicio, pelo que vamos descobrindo os personagens, e os seus respectivos segredos, gradualmente). Possui uma mordaz critica social, política e (obviamente) religiosa, embora opte por não ser excessivamente virulento em relação àqueles que, à revelia das instituições judiciais civis, "escondem o seu lixo debaixo do tapete" (preferindo não tomar partido, de modo que, sem sensacionalismos e/ou condenações à priori, nunca expôe directamente as atrocidades, "limita-se" a lançar-nos pistas, ficando os julgamentos morais, devidamente "semeados", por nossa conta e risco). <br />Acresce que explora com mestria as nuances psicológicas dos personagens (nada é simplesmente "branco ou preto"). <br /> <br />Um dos aspectos, igualmente, (muito) interessantes desta obra é o uso peculiar que o realizador faz da fotografia (constituindo-se como mais um elemento narrativo), na medida em que a luminosidade opaca, as imagens frias e desfocadas intensificam o efeito de uma atmosfera sombria e claustrofobica (numa quase metáfora ao "sufocamento moral" daquele mundo povoado por vergonhas e arrependimentos).
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