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Pânico em Hollywood

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Comédia Dramática 100 min 2008 M/12 17/09/2009 EUA

Título Original

What Just Happened

Sinopse

O frenético dia-a-dia dos bastidores de Hollywood, com todo o tipo de problemas, birras e caprichos à mistura. O produtor Ben (Robert De Niro) tenta desesperadamente equilibrar carreira e a vida familiar, enquanto procura sobreviver aos caprichos das estrelas. Tem ainda de lidar com Lou (Catherine Keener), a dona do estúdio, que acha que tem sempre razão ou com os caprichos do seu actor fetiche (Sean Penn). Enquanto isso, o argumentista (Stanley Tucci) dorme com a segunda ex-mulher de Ben e o agente Dick Bell (John Turturro) sofre com os seus graves problemas de gestão de stress. Ben precisa ainda de suportar um actor com manias de estrela (Bruce Willis) que se recusa a tirar a barba para o seu novo filme; uma filha, Zoë (Kristen Stewart), que de inocente tem pouco; e uma ex-mulher (Robin Wright Penn) que ainda sente um fraquinho por ele. PÚBLICO

Críticas dos leitores

The Show Must Go On

António Mercês

“Pânico em Hollywood” aborda a temática da superficialidade, mundo de aparências e interesses da “máquina trituradora” (expressão utilizada durante o próprio filme) que se constitui a indústria cinematográfica norte-americana. Recorrendo como protagonista (e vítima em algumas ocasiões) à figura do produtor de cinema, bem interpretado por Robert de Niro, assistimos aos saltos mortais diários que este homem se vê obrigado a dar num estóico esforço de tentar conciliar a sua acidentada vida familiar (com o registo de dois casamentos fracassados e respectiva descendência, com idades tão díspares como a adolescência ou a infância propriamente dita) com a sua conturbada vida profissional, intervalada amiúde com episódios em que procura conservar a (pouca) sanidade mental que (ainda) lhe resta. Chegamos facilmente à conclusão que a sobrevivência e/ou movimentação neste meio do estrelato aparentemente divino e aprazível não passa de uma ficcionalização da sua própria realidade e funcionamento. Que se rege por ditames muito próprios e nem sempre os mais correctos. Ditames estes que passam por literalmente encurralarmos os profissionais com quem partilhamos ideias e projectos para, à ultima da hora e face a números de bilheteira e lucros esperados, termos de sacrificar o acto da criação, mutilando-o e adulterando-o do seu resultado (supostamente) final. A figura do argumentista/realizador desempenhada por Michael Wincott representa bem o artista que, a dada altura, se vê nesta situação. Independentemente dos químicos que necessita de ingerir para manter, lá está, a (pouca) sanidade mental que lhe resta. Robert de Niro e Katherine Keener, esta última assumindo o papel da directora de um grande estúdio, representam bem os diligentes agentes encarregues de manterem a engrenagem da Indústria em funcionamento de acordo com a sua lógica e princípios. Constatamos que não é igualmente fácil lidar-se com os caprichos, taras & manias, e afins, característicos de uma estrela de cinema, generosamente paga pelo seu nome e estatuto no grande ecrã. Bruce Willis, neste caso concreto, tem um brilhante desempenho... como ele próprio! Qual John McClane só, enraivecido e incompreendido na sua demanda contra o resto do Mundo. Desta vez o Mundo é mau e pérfido porque não o deixa usar barba... E ele, teimosamente, recusa-se a tirá-la (valendo-se obviamente do seu estatuto de vedeta). Mais uma situação para esfrangalhar os nervos ao produtor do filme, responsável pela contratação choruda do actor, que se vê na iminência de perder o emprego face às constantes ameaças de cancelamento da rodagem do filme pelo director do estúdio caso a estrela se recuse a acatar as decisões superiores e desempenhar o papel que dele se espera – tudo em prol do retorno monetário esperado pelas grandes companhias cinematográficas em termos de box office. Irredutível na sua posição, McClane, com uma profusa barba e uns quilos a mais, mantém-se fiel a si mesmo até ao levantar do pano, qual antestreia de uma peça de teatro, deixando uma equipa inteira de filmagens na “corda bamba” até ao último instante. Sean Penn, igualmente a desempenhar o papel de si próprio, representa outro tipo de vedeta de cinema, neste caso concreto, o da vedeta que se deixa manipular ao ritmo das conveniências dos directores de estúdio e dos realizadores/produtores que lhes sonegam informação (em particular, em relação ao resultado final do produto que protagonizam e da qual são o rosto principal, quer em termos de representação, quer em termos de promoção desse mesmo produto). A solidão, ansiedade e a degradação pessoal e familiar, com episódios ocasionais de adultério pelo meio, do profissional que por estes meandros se movimenta, são também temas bem explorados. Os silêncios, apenas quebrados pelo som dos piscas do carro, ou o ruído em crescendo, que parece ir culminar na explosão da cabeça do próprio, exemplificam bem estas situações de pressão e stress acumulados – aos quais a figura do produtor é exposta e bombardeada. Boa sátira de costumes sabiamente dirigida pelo conceituado Barry Levinson, “Pânico em Hollywood” procura denunciar e desconstruír o mundo de fachada e interesses em que se constitui a indústria do cinema americano. Como qualquer indústria, e seguindo o cliché da lógica de empresa, o seu objectivo final e primordial acaba por ser o de gerar lucro. Independentemente dos riscos que se possam correr, ou dos profissionais e respectivos agregados familiares a que se esteja disposto a sacrificar, a engrenagem não pode jamais parar. Determinada e triturante no seu caminho em direcção ao sucesso. Financeiro, principalmente, visto o valor artístico do produto não ser (aparentemente) factor determinante.
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