E se eu escrevesse NÃO ?!
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E se eu, depois da revolta que senti ao sair da sala (sim, também eu esperava algo diferente) e da percepção de outras opiniões na leitura de críticas em geral, me apetecesse escrever que o filme afinal não é assim tão bom, ou melhor e para abreviar, que o filme é fraquinho, deixa muito a desejar e por tantos motivos...(mas que só vou abordar alguns)?! Será que ao escrever que de facto o filme não passa do mediano e que se torna pior consoante as expectativas pessoais de cada espectador, terei eu a mesma atenção de quem lê e/ou afronto as tantas opiniões positivas? Espero que sim, tanto a atenção como a afronta. E se eu escrevesse que o filme chegando às salas (e aos críticos de cinema em geral) em branco (e preto), sem nome do realizador, sem prémio no festival do cinema (mais ou menos) alternativo, sem referências, provavelmente teria muito menos atenção sobre si e presença em menos! Salas ainda? Assim como aposto que nas críticas (se as tivesse) não passaria de um filme "europeu" vulgar no seu tom realista com referências óbvias a traumas (pré)nazis e consequente reflexão sobre a maldade humana - tema que o autor tão bem explorou em "Funny Games" (na sua versão original) mas que aqui, de tão subtil abordagem, chega a irritar tamanha contenção formal/visual. Qualquer relação ao universo Lynchiano é desajustada. E se ainda reforçasse a ideia de que o filme não é nada de especial ao comentar o uso do preto e branco: imaculado, cheio de atenção ao detalhe (e às moscas) que no fundo tenta "limpar mais branco" a violência que (não) pretende mostrar - solução estética que apenas sustenta a ideia de que a acção se passa nos anos 30 (onde não havia cor) e que a cores o filme seria ainda mais banal... E já agora expressar como me incomoda a ideia de que uma história que se subentende nos primeiros minutos de projecção precisa ou utiliza mais de 2 horas para passar essa mesma ideia sem rasgo, sem nada de novo de tão óbvia a cadência de um texto e encenação teatrais em permanente e quase forçada contenção, escondendo a tal violência que o realizador não quer que se veja mas que se sinta...mas não sente, é dormente e assim tudo se perde quando transposto para o grande ecrâ (cinema?!) onde poucos momentos, além dos sonolentos, ficam... Para mim, do que conheço e aprecio em Haneke ficam pouco mais de 2 minutos numa conversa directa e brutal, de uma honestidade cruel entre o sórdido médico da aldeia humilhando a sua amante ao mesmo que tempo que se limita a si mesmo...2 minutos Haneke em 2h e tal de filme é pouco, muito pouco... Qualquer comparação a “Avatar” de James Cameron é também desajustada... Mas escrevo também que nada tenho contra o cinema europeu, alternativo ou que ganha Cannes, muito pelo contrário, sou pelo cinema que conta ou inventa história e estórias, renova ou inova quer visual quer narrativamente mas convenhamos, estamos em 2010 - critica-se tanto o cinema espectáculo ou pipoca (ou que leva efectivamente o público às salas), e concordo, grande parte apenas compensa um terço pelo que se paga por um bilhete - no entanto e analisando os factos: este filme está em exibição na sua primeira semana em 5 salas em Lisboa - na última sessão a que fui no primeiro Sábado em exibição estavam 7 pessoas. Questiona-se, como é que o vencedor da Palma d´Ouro em Cannes tem tão pouca projecção?! E como explicar tão baixa (que se prevê) afluência às 5 salas? Pois, nem sempre é o caso - um filme excelente estrear em poucas salas e com pouco público - mas talvez este filme não seja mesmo assim tão bom...ou serei eu um dos poucos que efectivamente foram ver e seja, depois de tantos anos a ver cinema, o pseudo-ignorante que não atingiu todos os significados de uma obra maior e simplesmente não gostou e assim escrevo: Não gostei. E se para me sentir ainda mais fora, o filme acabasse de ganhar o Globo de Ouro...sou eu contra o Mundo, seja :) E mais uma nota, também negativa para a projecção. Pelo menos no UCI do El Corte Inglês, uma vergonha: dos trailers só se via metade do ecrâ, situação corrigida depois de eu ter que sair da sala para avisar alguém. E depois, num filme alemão a preto e branco com legendas em branco sem sombra ou destaque, acontece que, à parte da qualidade do filme, se não souber alemão é provável que algumas partes do texto escapem ao comum dos mortais nacionais, os tais poucos que como eu, vão às poucas salas onde está em exibição e além do filme em si, acham que ter ido a este cinema naquela noite não valeu a pena...
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