Tal como já o tinha feito em "Brincadeiras Perigosas" - um drama/jogo psicológico que conseguiu gelar os ossos até dos espectadores menos impressionáveis -, o realizador Michael Haneke convida-nos novamente à reflexão em "Código Desconhecido". Nesta incursão pelo realismo, Haneke alerta para a dupla face da verdade: o seu lado aparente e o seu lado latente. Mas deixa tudo em aberto, como se o exercício de ver para além do que é evidente nos pertencesse a nós espectadores.<br />"Código Desconhecido" tem como pano de fundo a cidade de Paris. Anne (Juliette Binoche) é uma jovem actriz que vive sozinha e tem um namoro conturbado com Georges (Thierry Neuvic), um fototojornalista de guerra, muitas vezes ausente do país. O pai de Georges (Sepp Bierbichler) é agricultor e vive numa quinta com Jean (Alexandre Hamidi), o filho mais novo. Jean não quer ajudar o pai na lavoura, quer antes uma vida citadina e foge para Paris. Já na cidade, o rapaz envolve-se numa discussão acesa com Amadou (Ona Lu Yenke). Tudo por causa de Maria (Luminita Gheorghiu), uma emigrante desempregada que pede nas ruas de Paris para sustentar a família que deixou na Roménia. Amadou tem uma irmã surda, e por causa dela dá aulas de música a crianças surdas-mudas. <br />Assim se vai formando uma teia de histórias sobrepostas e de personagens fragmentadas, onde cada uma das estórias de vida das personagens representa um tema da sociedade contemporânea. Esta foi a forma que o realizador escolheu para abordar temáticas como a xenofobia, a violência, o isolamento, o sacrifício, a ausência de comunicação entre os indivíduos.<br />O mais recente filme de Haneke é "La pianiste", recebeu três prémios (melhor interpretação masculina, melhor interpretação feminina e Grande Prémio do júri) no Festival Internacional de Cinema de Cannes. <p> </p>PUBLICO.PT