Os homens do lixo nunca mais serão os mesmos depois de "O Fantasma", objecto singular no cinema português pela crueza do seu tema - perdão, pelas "obsessões" do realizador -, mas também pela elegância plástica com que João Pedro Rodrigues filma o subterrâneo, uma Lisboa nocturna delineada pelo trajecto dos camiões de recolha do lixo. Se o filme se tornou numa das mais aguardadas estreias nacionais do ano, por culpa dos ecos de sublimação porno chegados do Festival de Veneza, não deverá desiludir as expectativas - graças, sobretudo, às suas virtudes estéticas (e à metamorfose animalesca do protagonista). De resto, é um "boy meets girl" convertido em "boy meets boy": depois de múltiplas aventuras, um homem do lixo de insaciável desejo sexual encontra o rapaz da sua vida - e o desalento da rejeição. "Não se pode viver sem amor", dizia a frase de promoção do filme. <strong>Kathleen Gomes</strong> (PÚBLICO)