Binka Jeliaskova só realizou dois documentários, mas os dois que realizou são a demonstração cabal do seu olhar, tão acintoso quanto humanista. Depois de “A Sua Última Palavra”, onde a realizadora contara a história de seis mulheres presas e condenadas à morte durante a Segunda Guerra Mundial, eis que regressa ao mesmo universo prisional no feminino, desta feita na Bulgária contemporânea. Os dois filmes – “Canção de Embalar” e “Cara e Coroa” - retratam as vidas das mulheres encarceradas na prisão de Sliven (então a única prisão feminina da Bulgária).

“Cara e Coroa” conta a história de várias daquelas mulheres, propondo o retrato de um país onde os pobres são forçados a roubar e as mulheres são forçadas a defender-se da violência doméstica ou a vender os próprios filhos. O sistema prisional como sintoma de um círculo vicioso que perpetua as desigualdades de classe e de género. Os dois filmes, realizados em 1982, foram proibidos e acabaram por só ser vistos após a queda do regime soviético. Texto: Cinemateca Portuguesa