Deslumbrante pelas intrepretações, pelo encantamento estético, pela simplicidade com que resolve o drama mais profundo. A arte mais sublime é sempre aparentemente simples, e a doçura e beleza com que a história flui é mais um assombro do talento de Kusturica. A não perder pelos que procuram a beleza e o prazer de um excelente filme.

Eis um filme a não perder. Embora não seja um frequentador habitual das nossas salas de cinema, congratulo-me por ter visto mais esta realização. Gostei, vi e até dormi bem disposto! Aproveitem, não é uma "americanada".

Mais um grande filme de Emir Kusturica - aliás, no seu estilo inconfundível - que merece, sem qualquer sombra de dúvida (evidentemente, para quem aperecia/percebe o género) ser visto. Em "A Vida é um Milagre" é-nos dada a conhecer uma história universal que, podendo no seu contexto mais geral ser transportada para qualquer lugar do mundo e para diversas circunstâncias, é embelezada com as características próprias de uma ex-jugoslávia destruída que é tão genialmente ilustrada. Cinematograficamente falando, é indispensável notar nos variados pormenores de realização - paisagens, objectos, ... - em que Kusturica é mestre. Kusturica é um milagre nos tempos em que o cinema é feito tão só para ver e logo esquecer.

Apaixonado pela sua banda e por outras coisas mais prosaicas (ver "Super 8 Stories"), Kusturica fez um filme "à Kusturica" para pagar as contas. Elegante, mas não belo; exuberante, mas não original, é o espectáculo de um explorador a marchar nas suas próprias pegadas. É, por isso, o primeiro Kusturica sem um momento de nos pôr em pele de galinha (comparem-se as cenas de amor do sotão, do lago, da gruta e da ceara nas suas quatro obras-mestras com o "rebolanço" colina abaixo deste filme). É, claro está, um bom filme, visualmente agradável e com grandes actores (humanos e, como é hábito, animais), mas, é, também, emocionalmente inócuo e previsível, como já era "Gato Preto, Gato Branco". E, ao contrário deste, pouco divertido. <br/><br/>Contra o filme milita também a sua muito divulgada visão "são todos bons rapazes, um bocadinho bebidos" da guerra da Bósnia (e tudo se passa a poucos quilómetros de Gorazde...), de que é exemplo a personagem de "ingénuo" oficial do Exército "Jugoslavo" que Kusturica destinou ao seu filho (os únicos "maus da fita" são os traficantes e os jornalistas ocidentais). Infelizmente, não há milagre que valha a tão míope visão dos eventos.