4 estrelas
JOSÉ MIGUEL COSTA
Depois de nos ter brindado com o excelente filme "Uma Separação" (2011), Asghar Farhardi volta (e que bem-vindo ele é) com "Passado", para nos comprovar que é um exímio contador de histórias familiares "banais" (de facto, que grande e "simples" -mas cheio de "complexidades humanas" - argumento que escreveu). Marie é o ponto de convergência de todas as relações deste drama (que vai sendo "desmontado", como é apanágio do realizador, de uma forma soft, elegante e sem quaisquer julgamentos morais - deixando tal tarefa a nosso cargo). Os conflitos giram à volta dela, uma vez que tem que se confrontar com o ex-marido iraniano (que regressou a França para concretizar o divórcio de mútuo acordo de ambos, após 4 anos de separação efectiva), as duas filhas de um outro casamento (a mais velha das quais em ruptura total consigo) e o novo namorado (que tem um filho pequeno e a mulher em coma), de quem se encontra grávida. Nessa intrincada teia afectiva (na qual o ex-marido vai servir de "pólo desbloqueador da catarse", para o "bem e para o mal") todos os personagens vão ter de enfrentar o passado (bem como a questão que se colocam de modo contínuo, ainda que inconscientemente, "e se tivéssemos agido de um outro modo?"), que continua a assombrá-los, por não ter sido devidamente "arrumado" (há ainda toda uma memória acumulada de culpas, verdades escondidas e silêncios geradores de conflitos). Irão aprender (será que sim?) que somos um "acumulado de passado(s)" que molda(m) o presente, e que não soubermos conviver/tirar ilações "Dele(s)" (e temos que o fazer porque "o que foi não volta a ser") não conseguiremos caminhar em direcção ao futuro (bem, que pseudo-filosófico). <br /> <br />E Farhadi revela-se exímio na construção destes seus personagens e no "desenho" das suas personalidades(e os actores, escolhidos a dedo, correspondem ... e de que maneira!), explorando o universo narrativo de forma sublime, com ritmos muito próprios (lançando a "conta-gotas", e de forma gradativa, informações -muitas vezes "não-verbais" e simbólicas - que permitem que, com o decorrer do tempo, possamos entender a complexidade das situações vividas por cada um dos envolvidos, e as suas respectivas condutas comportamentais - criando , deste modo, "reviravoltas na história" e mutações constantes na nossa opinião sobre cada um deles). Pois é Farhadji, "todos somos bons e maus, por vezes em simultâneo, dependendo das circunstâncias"!
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