Um documentário lindo que mostra como a arte pode ser milagrosa e trazer ao de cima o melhor de cada um.

A propósito da crítica que saiu no Público a este filme, quase que não o ia ver. Mas a sinopse apresentava argumentos a favor da minha ida, pelo interesse que tenho nos encontros que a dança proporciona. Ainda bem que fui ver! O filme é belo, delicado, existencial e a propor uma possibilidade de futuro: o encontro.

Em resposta às guerras, propor a possibilidade de o encontro entre pessoas, universos e vivências diferentes poderem ser um espaço frutuoso e onde o melhor de cada uma e de cada um se revele. Gostei muito de conhecer as pessoas de Arganil que entram no documentário.

Gostei muito do olhar do realizador sobre cada pessoa. Gostei do rio, da lua. Gostei de ver corpos habitados pela dança, mesmo quando esta traz linguagens que até aí lhes eram desconhecidas. Fiquei com muita vontade de ver o espetáculo e fazer parte.

"Mississipis" traz-nos o tempo, a respiração, a vida. O filme acompanha "A Viagem" que se traduz num encontro e partilha entre o Grupo Folclórico da Região de Arganil e o grupo de dança contemporânea dirigido pela coreógrafa Filipa Francisco.

"Mississipis" desprende-se do lado processual e de "making off", mais expectável num filme desta natureza, para procurar a alteridade e o encontro ao nível do indizível. Numa ousadia poética António-Pedro, respigador de pequenos-grandes-momentos, liberta-se do paradigma cinematográfico do conflito.

Corajosamente desafiando as dominantes narrativas masculinizadas e binárias que nada trazem de novo para além da repetição de uma mesma estrutura. Obrigada António-Pedro, obrigada Cinema-City, obrigada ICA por terem feito com que este filme chegasse a nós.