May December: Segredos de Um Escândalo
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
Há 20 anos, Gracie Atherton-Yoo, na altura com 36 anos, viu-se envolvida num enorme escândalo quando a sua relação amorosa com Joe, de apenas 13, foi tornada pública. Hoje, depois de ela ter cumprido pena de prisão e terem sido ultrapassadas todas as dificuldades, os dois levam uma vida tranquila na Georgia, com os seus dois filhos gémeos.
Mas tudo muda com a chegada de Elizabeth, uma actriz envolvida na produção de um filme sobre o caso, que deseja conhecê-los mais de perto e estudar o seu papel enquanto Gracie. O casal concorda, não esperando que, ao deixar aquela estranha entrar no seu dia-a-dia, iriam reavaliar a fundo a sua relação, abrindo feridas que, afinal, não estavam cicatrizadas.
Estreado no Festival de Cinema de Cannes "May December: Segredos de Um Escândalo" foi realizado pelo veterano Todd Haynes. O argumento, escrito por Samy Burch e Alex Mechanik, é inspirado na história da norte-americana Mary Kay Letourneau (1962-2020), uma professora casada e mãe de quatro filhos que, em 1996, se envolveu com Vili Fualaau, um aluno seu de 12 anos, de quem engravidou e com quem viria a casar-se anos mais tarde.
O elenco conta com Natalie Portman, Charles Melton e Julianne Moore, na sua quinta colaboração com Todd Haynes, depois de Seguro (1995), Longe do Paraíso (2002), I'm Not There - Não Estou Aí (2007) e Wonderstruck: O Museu das Maravilhas (2017). PÚBLICO
Críticas Ípsilon
May December: donas de casa desesperadas
Todd Haynes atira-se às convenções da telenovela para as desmontar com elegância, inteligência e duas actrizes em jogo permanente de avanços e recuos.
Ler maisCríticas dos leitores
May December
Fernando Oliveira
Quando o filme começa já passaram vinte anos desde o dia em que Gracie foi apanhada a relacionar-se sexualmente com Joe, um miúdo de treze anos, na arrecadação da loja de animais de estimação onde trabalhavam.
Escândalo nos tablóides, uma criança nascida na prisão. Hoje Gracie e Joe são um casal bem aceite em Savannah, cidade costeira na Geórgia; têm uma filha na universidade, e outros dois a terminarem o liceu. A vida continuou, tudo parece estar bem. Mas entre o parecer e o ser há um diferença abissal, as coisas nunca são o que parecem. Gracie criou para ela e para Joe uma “verdade” que ameaça a todo o momento desmoronar.
Quando o filme começa, também um filme vai ser feito sobre o que aconteceu, e a actriz que vai interpretar Gracie nesse filme vai passar uns dias com ela, quer entender aquela mulher, investigar a sua intimidade. Vai ser um confronto entre pulsões vampíricas porque se Elizabeth, a actriz, quer “sugar” a verdade mais íntima daquela mulher, esta impõe-lhe uma ausência de remorso, de embaraço, um fingimento.
Toda a relação entre aquelas mulheres carrega um desconforto à beira da neurose; há um desequilíbrio, a impossibilidade de conhecermos o que vai na “alma” dos outros, que abala todas as certezas; Gracie a balançar entre o choro e a inteligência fria com que quer manipular Elizabeth, e esta presa entre a uma representação que vai percebendo ser a vida do casal e a personagem, outra representação, que ela vai interiorizando e que a coloca numa num plano assombrado, de dúvida, de confusão emocional.
Um filme de estremecimentos. E como é que Todd Haynes nos mostra e conta esta história escrita por Samy Burch e Alex Mechanik? Centra o nosso olhar no espantoso trabalho de Julianne Moore e Natalie Portman, como representam cada sentir, cada emoção, matizados numa imensidade de expressões, mas a deixar-nos à porta desse sentir e dessas emoções, afinal é de representações de representações que falamos.
E há um “ar” malsão e uma obliquidade que nos deixam desconfortáveis neste olhar, e percebemos que a câmara também acompanha esse vacilar, parece hesitante ou desconcentrada. Como as personagens. O que é verdadeiro naquilo que julgamos serem os outros. Angustiante a pergunta que o filme faz. Um melodrama que no entanto parece fugir do melodrama. Um belo filme. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
Custoso
cinéfila
Filme custoso. Duas óptimas actrizes, subaproveitadas em universo novelesco e superficial, levadas a um overacting. Um jovem actor em overacting. Uma história boa, mas contada em bochechos. Metáforas exageradas, e saltos narrativos pouco credíveis. Longe dos bons filmes de Todd Haynes.
3 estrelas
José Miguel Costa
O filme "May December - Segredos de um Escândalo", do realizador Todd Haynes, é um drama inspirado num caso de pedofilia que na década de 1990 fez as delícias da imprensa a nível planetário, e tem por protagonista uma professora norte-americana (com 36 anos, casada e mãe de 4 filhos) que ficou grávida de um seu aluno 23 anos mais novo.
Esse ilícito criminal valeu-lhe o cumprimento de pena de prisão. No entanto, tal não impediu o posterior casamento de ambos. O enredo (ficcionado) inicia-se 20 anos após o escândalo, quando a cínica e controladora "vilã" (entretanto, com mais dois gémeos prestes a ingressar na faculdade), protagonizada por Julliane Moore, decide acolher temporariamente no seu seio familiar uma famosa actriz (encarnada por Natalie Portman) com o objectivo desta "estudá-la" in loco, uma vez que irá interpretá-la num filme biográfico.
A narrativa, que mergulha de modo algo surrealista e plástico na tóxica dinâmica familiar, per si não é significativamente impactante (apesar de Todd Haynes tentar impregná-la com uns "laivos de thriller"), sendo que "apenas" se agiganta (e de que maneira!) em consequência do magnífico duelo performativo entre as duas divas da sétima arte (ambas numa incessantemente desconstrução das suas subjectivas/enigmáticas personagens e num contínuo jogo de espelhos, que nos impede de retirar ilações definitivas e/ou simplistas).
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