Os cinco que salvaram o
Aries
A início estava um pouco receoso. Como é que puderam condensar o maior livro de toda a série no menor filme de toda a série até agora?<BR/> Depois começou o filme. A apreensão acentuou: O início do filme estava terrível. Desde um trio de Dursleys estereotipados (e bastante), a uma entrada apática de Mrs. Figg (ao contrário da explosiva Mrs. Figg do livro) e a um nada assustador e bastante previsível ataque de Dementors. Receei, por momentos, que o quinto livro estivesse a seguir o caminho da patética adaptação de Cuarón.<BR/> Depois de uma fuga de vassoura para ganhar tempo ao filme, para meu desespero, deparámos com uma Hermione e um Ron que pareciam ter-se esquecido do que faziam ali, apáticos como Mrs. Figg. Felizmente, havia um leque de actores, uns brilhantes (Gary Oldman, David Thewlis) outros ainda desconhecidos (Natalia Tena), a tentar salvar o ambiente de Grimmuald Place a fazerem um uso bastante razoável dos seus quase-cameos.<BR/> Finalmente veio a cena do Ministério onde finalmente temos uma lufada de ar fresco. Por fim vemos o elenco a arregaçar as mangas e a atirar-se ao seu papel com unhas e dentes. Uma nota de melancolia ao vermos o irascível Dumbledore de Michael Gambon a entrar em cena e o comparamos ao calmo, amigável e muito superior Dumbledore de Richard Harris.<BR/> Mas, como que, caindo do céu, uma tossezinha irritante introduziu o primeiro elemento do Quinteto que salvou o filme: Imelda Staunton.<BR/> Imelda Staunton, a brilhante actriz inglesa, famosa pelo seu papel em Vera Drake, arrasou. Ela caiu que nem ginjas no que poderia vir a ser um desastre cinematográfico. Descrevê-la como "um Hitler de cor-de-rosa" não é suficiente. Staunton consegue fazer-nos odiar Umbridge. Acompanhada pela única música que se destaca neste filme (para além do re-trabalhado "Hedwig's Theme" de John Williams), uma marcha cómica (acompanhada com uns indispensáveis sininhos) mas ao mesmo tempo sinistra, Staunton consegue captar a essência da sua personagem. Ela consegue SER a Umbridge durante todo o filme. Consegue ser chata e incrivelmente pires, cómica em certas situações, terrivelmente assustadora noutras, mázinha e cruel q.b., Imelda Staunton faz de tudo neste filme e é um verdadeiro prazer vê-la como Umbridge.<BR/> Finalmente o filme chega a algum lado. A Evanna Lynch consegue desempenhar o papel da aérea Luna Lovegood consideravelmente bem enquanto Daniel Radcliffe melhorou na representação. Infelizmente, durante o filme, Rupert Grint e Emma Watson, de certa forma, regrediram, sobretudo Grint, cujo Ron flanava pela tela sem um propósito concreto, esquecendo a personagem enquanto ele não falava (e até quando falava). Katie Leung não impressiona, apesar de ter algum mérito quando a Cho é tramada por Umbridge.<BR/> É pela altura em que Umbridge circula por entre os professores que são introduzidas no filme outras duas pessoas que tiveram oportunidade de mostrar o que valem. O segundo e o terceiro elementos do Quinteto são: Alan Rickman e Emma Thompson.<BR/> Alan Rickman que já tinha feito um óptimo papel de Snape nos outros filmes, desta vez excedeu-se. Desta vez, com o pouco tempo de antena que ele tinha no filme (20 minutos, no máximo), ele fez imenso. Nota-se o trabalho árduo dele na sua personagem. Enquanto ele a esculpiu no primeiro e segundo filmes e trabalhou nos detalhes no terceiro e quarto filmes, finalmente ele varreu o pó da personagem e apresentou a sua mestria. De facto, Alan Rickman provou que é um dos melhores actores ingleses representando provavelmente o mais complexo e controverso personagem de todas as sete histórias.<BR/> Emma Thompson, já duas vezes galardoada com o Óscar, desta vez é uma excêntrica professora de Artes Divinatórias, e, mais uma vez, faz um grande pequeno papel. Em apenas uma cena com traços cómicos (e uma desesperada tentativa de Trelawney manter o trabalho) e uma pungente segunda e brilhante cena em que Umbridge se revela e Trelawney cai por terra (provavelmente a melhor cena do filme em termos de representação), consegue justificar os seus dois Óscares.<BR/> Enquanto o filme continua e melhora, apesar dos horripilantes cortes para condensar 750 páginas de texto em duas horas e vinte (muitos fãs franziram o sobrolho à omissão do Hospital de São Mungo) e literalmente despacha a cena do beijo, a história ganha tensão quando Cho, inconscientemente, os trai e a D.A. é descoberta. Inicia-se um reinado de terror (em muito semelhante com o período salazarista em Portugal, que deve ter inspirado Rowling em certas ocasiões. Até o nome de Slytherin é Salazar) quando Umbridge toma conta do colégio e o que dantes era ridículo, torna-se assustador. E depois de mais uns cortes, (a cena no Departamento dos Mistérios ficou um pouco surreal para o meu gosto e com cortes estranhos) aparecem as duas últimas pessoas que salvam o filme.<BR/> Se Imelda Staunton foi a jóia da coroa do filme, Helena Bonham Carter é o diamante do ceptro. Ela está assustadora no seu papel de louca e a sua aparição sabe a pouco no filme. Ela quase rouba o espectáculo nas cenas em que aparece. Bellatrix é uma personagem horrorosa da cabeça aos pés e Helena Bonham Carter consegue encarná-la sublimemente. Sem palavras.<BR/> Finalmente, o grande mau do filme, Ralph Fiennes também consegue exceder as expectativas e nos seus cinco minutos de filme consegue ultrapassar o muito que já tinha feito no clímax do quarto filme.<BR/> Infelizmente, o filme perde no final a magia do meio da história. Não se percebe bem o que é que aconteceu e a história que tinha ficado bem no total, esfarela-se no fim e uma nota de nostalgia encerra o filme.<BR/> Visualmente de primeira (Stuart Craig no seu melhor), dramaticamente com altos e baixos, e quanto a história, um pouco fraca e cheia de buracos. Depois do engraçado primeiro filme, do espectacular segundo, do infeliz terceiro, do teatral quarto, o quinto filme vai fazer correr muita tinta (e com o mesmo realizador apontado para o sexto e sétimo filmes), parece que os tempos de controvérsia chegaram pois haverá muita gente que não gostará e, se não fizerem um excelente sexto filme (pois muitos odiaram o sexto livro só porque acabava de maneira triste), eu temo que seja um flop, comparando com os outros filmes da saga. Uma nota de esperança no ar, visto que o sexto livro é mais curto, pelo que se poderá tornar uma vantagem.
Continuar a ler