No Coração da Escuridão
Título Original
First Reformed
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas Ípsilon
O filme da graça de Paul Schrader
O silencioso e grácil Ethan Hawke quer limpar a poluição do mundo com sangue. Com ele, Paul Schrader violenta mecanismos de identificação e empatia e faz o filme da sua graça.
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Luís Carvalho
No Coração da Escuridão
Maria da Graca
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Maria da Graca
Metafísica, Natureza, Liberdade e Responsabilidade
Cinéfilo
O tempo traz sabedoria. A Schrader, no seu melhor filme, muitas leituras e experiências, fizeram-lhe bem. Excelente narrativa. Obrigatório para quem gosta de cinema. Gostei muito do filme e, até agora, o melhor de 2018.
Unanimidade
Miguel Ferreira
Considerando a unanimidade das opiniões aduzidas neste fórum, por certo será um desejo íntimo de oposição que impregna a minha crítica: sem dúvida um argumento interessante no domínio do religioso, das hipocrisias do presente, da ausência de esperança vs o amor e a fé salvam.. Tudo regado com os problemas da atualidade, mormente as alterações climáticas.
Boa realização e fotografia. Só por isto é um filme acima da média. No entanto, há qualquer coisa de artificial, de "dejá vu", onde o reverendo aparece como um reflexo da personagem de "Taxi Driver". Aliás todo o filme segue esse tom
e algumas cenas quase são decalcadas do mesmo.
Por muito bons actores que sejam Ethan Hawke e o seu par romântico, não enquadram no arquétipo das personagens que pretendem representar. Uma última nota para as cenas risíveis da levitação e do final, em clara oposição à melhor cena do filme : momento em que o reverendo despreza aquela que lhe devota o seu amor.
No coração da escuridão
Fernando Oliveira
Um filme difícil de interiorizar. Para quem, como eu, é ateu, a noção de fé, a verdade absoluta de Deus, um Deus ausente ou que, parece, trata a sua criação com uma total indiferença, são coisas inconcebíveis, e incompreensíveis. E este é um filme que só poderia ter sido feito por alguém que já experienciou os mistérios da fé. Alguém como Paul Schrader, que habitou uma comunidade calvinista puritana e fundamentalista, que depois se “perdeu”, mas que nunca deixou de confrontar a religião. É, também, um filme que assusta. Sobre um homem, em agonia física e espiritual que percebe que, tal como ele, a sua igreja, o mundo, estão também doentes.
O reverendo Ernst Toller (Ethan Hawke); que tinha sido capelão militar, e perdido o filho na guerra do Iraque, incapaz de se perdoar por isso, a mulher deixou-o; é o pastor de uma pequena comunidade perto de Albany, a sua igreja é tanto um destino turístico como lugar de oração. Mas a igreja tem uma história, as comemorações dos 250 anos estão aí. Entretanto, uma jovem mulher, Mary (Amanda Seyfried), pede-lhe ajuda, ela e o marido são ambientalistas, ela está prenhe e o marido não quer que a criança nasça num mundo a caminho de uma catástrofe ambiental. Conversam. Mais tarde o homem marca um encontro num parque. Toller encontra-o morto. Tinha escolhido o suicídio. Ao reverendo “deixa” um colete com explosivos, e uma revolta crescente contra a degradação ambiental.
É um filme de pequenos gestos e muita quietude, de palavras e de muitos silêncios, um filme sobre a intimidade entre um homem e Deus, a verdade e as dúvidas nessa intimidade – “Deus perdoar-nos-á pelo que fizemos à sua criação?”. Perante a indiferença da igreja e do mundo a esta questão, o reverendo resolve actuar: o sangue lava os pecados do mundo. O filme não tem medo da transcendência: há aquele momento em que os corpos de Ernst e Mary comungam, e levitam sobre o que é terreno; há o beijo final, onde o sangue e o sacrifício são, talvez, substituídos pelo milagre do amor. Talvez, porque há um corte abrupto e o filme acaba…
E sem esperarmos por isso, um sopro, a memória do Cinema de Bresson, de Dreyer (Schrader escreveu um livro sobre eles, juntando-lhes Ozu), e de Bergman chega ao Cinema moderno. Na sua forma (e há o 4:3 que enclausura os personagens), mas também pela introspecção e religiosidade. Dois actores em estado de graça ajudam a sublinhar a ambiência do filme.
O problema do filme é Paul Schrader, notabilíssimo argumentista, é muito mais limitado como realizador. Perece-me sempre incapaz de concretizar totalmente em imagens aquilo que escreve, e o Cinema é a arte de contar histórias com imagens. Só por isso é que esta história não é também um filme genial.
(em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.pt")
É o amor que nos salva!
Maria Rijo
Em primeiro lugar é bom ver um filme bem feito e que nos faz pensar. O seu final abrupto, julgo que é mesmo para isso. "E agora?" perguntamos a nós próprios. O filme é essa cortina de penumbra que em muitos dos nossos dias temos pela frente. Não é a fé que nos salva e muito menos a igreja que, como vimos no filme, anda de mão dada com os grandes negócios. Um planeta explorado, com gente explorada e deprimida. Nem tudo vai pelos ares porque ainda há o amor. Será então o amor a nossa salvação, num mundo onde cada vez mais estamos sós? Dá que pensar. A registar também a excelente interpretação de Ethan Hawke.
É o amor que nos salva!
Maria Rijo
Em primeiro lugar é bom ver um filme bem feito e que nos faz pensar. O seu final abrupto, julgo que é mesmo para isso. "E agora?" perguntamos a nós próprios. O filme é essa cortina de penumbra que em muitos dos nossos dias temos pela frente. Não é a fé que nos salva e muito menos a igreja que, como vimos no filme, anda de mão dada com os grandes negócios. Um planeta explorado, com gente explorada e deprimida. Nem tudo vai pelos ares porque ainda há o amor. Será então o amor a nossa salvação, num mundo onde cada vez mais estamos sós? Dá que pensar. A registar também a excelente interpretação de Ethan Hawke.
5 estrelas
José Miguel Costa
Paul Schrader (idolatrado como argumentista - "Taxi Driver" e "Touro Enraivecido" constam no seu currículo - e incompreendido enquanto realizador) oferece de bandeja a Ethan Hawke o papel visceral da sua vida em "No Coração da Escuridão". De igual modo, com este drama algo surrealista (que pode ser percepcionado como uma parábola à decadente América do Trump) consegue dar uma chapada de luva branca a todos aqueles que já não acreditavam na sua veia artística, ao brindar-nos com uma obra-prima dark e desapaixonada (e enganadoramente inexpressiva) que mistura religião e ecologia sob uma perspectiva atípica (com a questão de fundo "poderá Deus perdoar-nos pelo mal que fazemos à sua criação maior ... o planeta Terra?"). Todavia, não estamos - de todo - perante um filme religioso nem tão pouco se trata de uma obra ecologista panfletária (ou talvez o seja, todavia, as preocupações ambientais são exploradas de um modo filosófico e/ou lírico - recusando impingir mensagens directas e lineares).
É uma película sobre demónios (interiores) e crise(s) de fé, quase pré-apocalíptica (ou quiçá, pelo contrário, até seja detentora de uma centelha de esperança, se atendermos à sua enigmática/electrizante cena de encerramento).
A narrativa (laboriosamente elaborada) gira em torno de um atormentado reverendo de uma pequena cidade interior, dilacerado por dilemas pessoais (consequência dos fantasmas do passado que teimam em não deixá-lo em paz) e espirituais, que desperta para as questões relacionadas com a destruição da natureza, após um banal contacto com um depressivo ecologista radical recém saído da prisão (passando a germinar em si, a partir daí, uma nova visão do sagrado e do Homem, que implicará alterações ao nível da sua conduta comportamental).
Realce-se a austera e "dark" filmagem/fotografia (impregnada de uma certa aura "seventies"), saturada de imagens "despojadas e herméticas" (que intensificam a sensação de estarmos perante personagens zombies em perpétua agonia devido à sua crescente descrença na humanidade).
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