Abram alas à primeira curta-metragem portuguesa sobre zombies
Mafalda Araújo de Azevedo
No 24º Festival Internacional de Cinema do Porto, mais conhecido por FantasPorto, a cidade invicta teve a honra de assistir à estreia nacional da primeira curta-metragem portuguesa sobre zombies. Perante uma plateia algo barulhenta mas, ainda assim, amante do cinema de terror, "I'll see You in my Dreams" contou-nos a história de uma aldeia portuguesa, bastante inóspita e esconsa, habitada simultaneamente por homens e zombies. Lúcio, protagonista exímio a fazer lembrar tantos outros justiceiros da história do cinema, passeia-se pela aldeia munido de uma arma de fogo na vã esperança de liquidar os perigosos invasores. Paralelamente à figura de Lúcio, existe ainda um conjunto respeitável de aldeões, uns mais proeminentes do que outros, que se reúne, noite após noite, numa espécie de covil de salvamento.<BR/><BR/>Deste grupo de personagens, é forçoso salientar os desempenhos de Sofia Aparício, que transfigura a sua habitual sensualidade em algo animalesco; de Rui Unas, homem da televisão que começa a habituar-nos à sua presença no grande ecrã; e de João Didelet, actor consagrado no teatro, na televisão e no cinema. Quando nos pomos a pensar no sucesso desta película, concluímos que este não se deve a um argumento poderoso mas sim a outras razões, sobre as quais vale a pena reflectir.<BR/><BR/>Em primeiro lugar, não podemos deixar de elogiar a audácia desta equipa ao envolver-se nos caminhos do gore e do terror. Contudo, a proeza maior está no facto de "I'll see You in my Dreams" conseguir escapar a uma concepção maniqueísta, na qual teríamos os bons de um lado e os mauzões de outro. Em vez disso, temos um objecto cinematográfico que abraça uma visão original, da qual sobressai a personagem de Lúcio que, graças à sua densidade psicológica, possui comportamentos que não permitem encaixá-lo em nenhum dos extremos.<BR/><BR/>Filmada propositadamente de noite, sem haver descuidos no que toca à iluminação, "I'll see You in my Dreams" consegue envolver-nos num clima de suspense e medo. As próprias cenas estão encadeadas num ritmo avassalador, conseguido através de uma montagem eficiente, sem aqueles momentos entediantes de pausa que, infelizmente, rondam muitos dos filmes deste género. Parabéns a todos!
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