Eu queria dormir, mas não consegui...
SID
Dogville provocou-me sono, nostalgia dos "cowboys", fome, sono, ódio, nojo, humanidade, tonturas e um final grandioso. Orçamento: zero, conta-se que foi um palco de teatro, uns holofotes, e uns tipos da Suécia. Um filme que deixa no ar [para os grupinhos de discussão] algumas ideias: a desgraça humana; a desgraça americana e humana; o paradoxo: gentinha do campo vs gentinha da cidade; o homem é animal sempre; a educação é uma vitória, valorizada neste filme; a subjectividade do altruismo... E é aqui que quero focar: se um tipo perdoa todos e tudo, é porque: ou sabe o que faz, sente e pensa, ou é um grande parvo. Vou pelo primeiro palpite. Conhecem certamente aquele género de pessoas que gostam de tratar de amigos doentes, que têm um gozo especial em ajudar toda a gente, que oferecem tudo o que têm e que sofrem escondidos para não incomodarem ninguém. Isto, vivido intensamente, sem mais atitudes más que equilibrem a balança (porque o ser humano é um misto de caos e ordem) é desesperante. A isto chama-se superioridade de valores, ou seja, é um gajo superior a essa merdinha toda que ofusca o gozo pelas coisas... Quando um gajo é tão superior à ralé, quando leva uma chapada e dá a outra face (Jesus Cristo, ou um clone híbrido punk na Baixa, a pregar os mesmos valores), é um gajo moralmente superior (e não me ocorre mais nada). Estas pessoas, são arrogantes? (óptica do filme, por uma das personagens)... A superioridade é um extremo e, na mediocridade instalada, é arrogância. Arrogância por discutir o sistema (embora em silêncio), arrogância por não se adaptar à roda viva do vício, por se "adaptar" aos cancros instalados... E quem se adapta domina um contexto específico e passa a dominar, com o tempo, o contexto no qual se instala (como falar português, e falar inglês). E isso leva à inveja (com o tempo). E quando chicoteiam o "altruista", é um acto tão inferior que o "altruísta", lá no fundo, até gosta, porque está a ser superior, e sendo superior, tenta perceber... Tenta. Mas não age, deixa-se ir, porque os porcos não merecem pérolas, e tentar mudar algo seria uma pérola. Um gajo que prefere não discutir e prefere dar a batata frita ao rufia da contenda, é um gajo que sabe que tem razão, mas não quer "stresses", é um gajo que vive em paz de espírito e não quer confusão. Se esta prática for normal, todos os dias, a ignorar os atrasados mentais... E reparem, o mundo está cheio de atrasados mentais, e o mundo é o povo, e o povo é a RAZÂO, logo o que temos? Um povo que com incredulidade, inveja, ciúmes, etc, levará [não tão friamente como no seculos da inquisição] estes "altruistas" para a fogueira metafórica. Então é com razão, que se chama ALTRUISTA a estes sujeitos que fazem bem, porque nós, povo, não os entendemos. Uma engraçada visão subjectiva da realidade. Gostei do filme, o final é contagiante. E o genérico do fim ainda melhor. Lembra aquele livro de fotos, dos anos 50, censuradíssimo nos USA. E vocês o que acham?
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