Decisão de Partir
Título Original
Sinopse
O detective Hae-Joon foi incumbido do caso de um alpinista encontrado morto no fundo de uma encosta em Busan, uma cidade costeira da Coreia do Sul. A morte parece ter sido acidental, mas há alguns indícios que deixam espaço para dúvidas. Seo-rae (Tang Wei), a jovem viúva da vítima, torna-se a principal suspeita. No decurso da investigação, Hae-Joon começa a sentir uma estranha atracção pela personalidade misteriosa e magnética de Seo-rae. E isso vai pôr em causa a necessária imparcialidade do detective e a sua capacidade de análise.
Em competição no Festival de Cinema de Cannes, onde arrecadou o prémio de Melhor Realização, um “thriller” romântico produzido, escrito e realizado pelo sul-coreano Park Chan-wook ("Oldboy", “Em Nome da Vingança”, "Vingança Planeada", "Thirst - Este É o Meu Sangue...", “A Criada”). PÚBLICO
Realizado por
Elenco
Críticas dos leitores
Decisão de partir
Fernando Oliveira
Nunca sabemos nada sobre os outros, só julgamos que sabemos. “Decisão de partir” de Park Chan-wook é um policial aonde habitam as memórias do filme-noir e do melodrama e conta-nos uma história onde este desconhecimento leva imparavelmente os personagens à tragédia. Conta a história de um amor que foge da sua plenitude. Um amor que embate com uma fatalidade: a absoluta impossibilidade de alterarmos o passado e de como essa culpa, ou remorso, vai destruindo os personagens. Mas que também nos mostra o dramático desfasamento que sempre existe entre o olhar de uma mulher e o olhar de um homem para a “verdade” desse amor. Há uma cena belíssima quase no final do filme que nos esmaga: quando Hae-joon percebe como “disse” a Seo-rae que a amava. “No momento em que disseste que me amavas, o teu amor desapareceu. Nesse momento em que o teu amor acabou, o meu amor começou”, diz-lhe Seo-rae (Tang Wei, espantosa actriz de quem tenho belas memórias de “Sedução, conspiração”, e “Blackhat”). Hae-joon é um detective na cidade de Busan, um corpo de um alpinista aparece morto junto a um pico rochoso, tudo aponta para acidente ou para suicídio, mas Hae-joon desconfia que foi assassinado pela mulher, Seo-rae. Mas enquanto a investigação avança, os dois vão apaixonar-se perdidamente um pelo outro; mas a infelicidade que lhes preenche a vida vai fazer deles marionetas do destino; até que Seo-rae decide cortar os fios… É um filme encharcado de melancolia, de uma sexualidade enevoada (“Neblina” é o titulo da bela canção de Jung Hoon-hee que nos acompanha durante o filme), um ambiente físico e emocional quase gélido, o que sublinha a narrativa; e se Park Chan-wook não evita algumas vezes a gabarolice formal (mas são tão bonitos os movimentos com que faz habitar o mesmo espaço os dois personagens, mesmo quando estão separados) com isso consegue enlear em muitos momentos o desejado e o real, o pensado e o vivido, sublimando aquele amor, tornando-o quase onírico. Mas como em quase todos os noirs, o amor aqui não redime, a felicidade é inalcançável. O fim é tão doloroso quanto comovente. Muito belo. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
4 estrelas
José Miguel Costa
Sete anos após o magnífico thriller "A Criada", o aclamado realizador coreano Park Chan-wook retorna às salas de cinema com "Decisão de Partir" (que lhe valeu o galardão de Melhor Realizador no Festival de Cannes). Um policial romântico (platónico - ou "assexuado"?) com um enredo simples (ao contrário, do que é seu apanágio), todavia, narrativamente denso e dotado de múltiplas camadas (impregnado de constantes - pequenos - desdobramentos que adensam a aura de mistério, tanto ao nível da resolução do crime como da natureza/evolução da relação entre os dois protagonistas). Independentemente desta sua característica, o filme não se agiganta por eventual mérito narrativo, mas devido ao seu virtuosismo técnico (através do uso e abuso de sofisticados planos-sequência subjectivos, enquadramentos "cirúrgicos"/geométricos e close-ups de olhares - amparados por um trabalho de fotografia de excelência). Mas, em última instância, poder-se-á equacionar se tal formalismo estético hiperbólico (com um cheirinho de "clássico noir") não poderá, igualmente, "sufocar" a Palavra, subtrair alguma fluidez ou até imprimir-lhe uma certa atmosfera de artificialidade. A história (de obsessão contida) per si junta, fruto das circunstâncias, uma enigmática femme fatalle (emigrante chinesa), suspeita do assassinato do seu marido, e um ultra-profissional e rígido detective (casado) encarregue de investigar o alegado crime. A interacção entre ambos irá originar uma química indefinível (e poética, já que se manifesta sobretudo por mínimas nuances da sua linguagem não verbal) que irá intrigar-nos até ao big end.
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