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A Criança
Título Original
L' Enfant
Realizado por
Elenco
Sinopse
É a história de Bruno, pequeno delinquente, Sonia, a sua namorada, e Jimmy, o filho recém-nascido de ambos, e aborda as dificuldades de dois pais adolescentes, mostrando como Bruno, que vive um dia de cada vez, não se preocupa com o futuro e não está preparado para enfrentar a responsabilidade de ser pai. Tal como "A Promessa" e "Rosetta", "A Criança" volta a ser marcado pelas personagens marginais e cheias de fúria de viver dos irmãos Dardenne. PÚBLICO
Críticas Ípsilon
Críticas dos leitores
Crescer dói
Rita Almeida (http://cinerama.blogs.sapo.pt/)
A Rapariga da Mão Morta - O meu “mea culpa” à Rita Martins por não ter ido ver o “Lavado em Lágrimas”. Desta feita vi-a em “A Rapariga da Mão Morta”, a curta de Alberto Seixas Santos que está a ser apresentada como complemento do filme dos irmãos Dardenne “L’Enfant”.<BR/><BR/>Não me apetece falar sobre o filme, sem história, sem caminho, sem ritmo e sem propósito. A interessante opção de som na cena final, onde apenas se ouvem os carros (ainda que a cena em si seja incompreensível) não compensa a péssima captação dos diálogos, mesmo apesar da fraca originalidade dos poucos que se conseguem entender. E depois há Madalena Vitorino numa debitação de palavras tão artificial como aquela mão falsa. Felizmente há Rita Martins, de uma naturalidade desarmante, na agilidade com que integra a prótese nos seus gestos do dia-a-dia, na convicção das ilusões, nas palavras assumidas como suas, no olhar perdido à procura da Lua.<BR/><BR/>L'Enfant: Mantendo o pano de fundo dos reveses das classes baixas da Bélgica industrial, os irmãos Dardenne conseguem com “L’Enfant” um resultado mais acessível que os anteriores “Rosetta” e “Le Fils”. O que não quer dizer necessariamente melhor. Em 2005, em Cannes, “L’Enfant” recebeu a Palma de Ouro, “Rosetta” recebeu o mesmo prémio na edição de 1999, mas, para mim, “Le Fils” continua a ser o trabalho mais forte e mais coeso dos Dardenne.<BR/><BR/>(ATENÇÃO: SPOILERS) Sonia (Deborah Francois), uma jovem de 18 anos, regressa a casa depois do nascimento do seu filho, Jimmy, para descobrir que o namorado Bruno (Jérémie Renier) sub-alugou o seu apartamento enquanto ela estava no hospital a dar à luz e ele dormia num abrigo. Num tom de hábito, Sonia perdoa Bruno, com a condescendência de quem espera pouco mais dele. Bruno é um pequeno criminoso, sem amigos (apenas cúmplices), que faz uso de jovens para levar a cabo os seus pequenos golpes. Mas a Bruno falta-lhe engenho e ambição, os seus pequenos meios chegam para os seus pequenos fins, e a sua despreocupação com o dinheiro “ganho” nunca o fará chegar mais longe.<BR/><BR/>A vida de Bruno é feita de objectos, um casaco, uma máquina fotográfica, um chapéu. Tudo pode ser trocado, vendido, comercializado. É com essa frieza que Bruno aproveita a oportunidade de vender o seu filho para adopção por 5.000 euros.<BR/><BR/>Bruno e Sonia vivem uma relação imatura. A constante postura de Bruno de pedido de desculpas encontra em Sonia uma receptividade de quem quer muito ser amada e que, por isso, tudo aceita. Mas a cega confiança que Sonia deposita nele é destruída, num misto de incompreensão e raiva, com o desaparecimento de Jimmy.<BR/><BR/>Sonia é a única pessoa a quem Bruno parece conseguir ligar-se, é por ela que ele volta atrás. E é através do seu companheiro de assaltos de 14 anos, Steve (Jérémie Segard), que Bruno tenta remediar as consequências do seu comportamento e a sua indiferença para com Jimmy.<BR/><BR/>Os Dardenne não constroem convincentemente em Bruno uma personagem tão dura e fria que torne credível a venda do seu filho com base num impulso. Além disso, o permanente silêncio desse recém-nascido torna-o quase ausente na história, como um boneco. No cinema realista e humanista dos Dardenne, este tipo de pormenores é indesculpável. Por outro lado, Bruno não demonstra um fio de sentimento pelo filho (o mais próximo a isso que ele parece conseguir chegar é ao dar-se conta de que isso lhe falta). Ao contrário do filme “Tsotsi”, onde um bebé muda o rumo do protagonista, a redenção de Bruno é muito pouco merecida.<BR/><BR/>Mas, em contrapartida, a mão dos Dardenne não falha no que toca a mostrar o mais escuro da condição humana com um toque devastadoramente leve. O ambiente das ruas, do tráfego, das luzes florescentes engolem estas personagens sujas e de roupas velhas tornando-as invisíveis. As opções de confronto fogem ao habitual histerismo e a falta de maturidade para verbalizar os confrontos permite soluções mais emocionais, mas nem por isso menos brutais.<BR/><BR/>Bruno passeia um carrinho de bebé vazio, tal como passeia uma moto avariada, símbolos das suas falhas humanas. Do que lhe falta ainda crescer, porque é ele a verdadeira criança desta história. E todo o crescimento é feito com dor. Nota: 3/10.
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Aqui e agora, tão perto de nós
Hugo Quinta
Ruas monótonas, cafés obscuros, cenários sem charme. Um pedaço da nossa cidade, do nosso bairro. Nas nossas vidas aceleradas e sem tempo quantas vezes nos cruzamos com Brunos ou Sónias? Talvez várias. Quantas histórias queremos ignorar, acreditando que a nossa vida é mais urgente? Os Dardenne obrigam-nos a parar e contam-nos algo que não queremos ver, nem sequer ouvir, com um carácter de urgência, deixando-nos no ar uma mensagem de socorro. Não estranhamos nada, tudo nos parece credível e plausível, porque já nos fizeram acreditar que neste mundo tudo é possível, roubaram-nos a criança, roubaram-nos a inocência. Sem miserabilismos ou demagogia, os Dardenne oferecem-nos um filme que vive das emoções, sem falsos moralismos.<BR/><BR/>Grandes interpretações, destacando-se Déborah François (Sonia): mulher, criança, adolescente, mãe, de uma contenção e segurança impressionantes. A única lição a tirar deste filme será: minimal, cruel e belo. A criança com a sua força moral e emocional está para lá das zonas cinéfilas. O que, por vezes, é a marca dos grandes filmes.
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