Foi Só Um Acidente
Título Original
Realizado por
Elenco
Sinopse
Ver sessõesNum bairro dos subúrbios de Teerão (Irão), Vahid, mecânico de automóveis e antigo prisioneiro político, leva uma vida tranquila até receber na sua oficina Eghbal, um cliente com uma prótese na perna resultante de um acidente. O som que aquele homem faz ao andar desperta em Vahid memórias terríveis: o mesmo ruído que ouvia, de olhos vendados, durante os interrogatórios e agressões a que foi repetidamente submetido. Convencido de que aquele homem foi um dos seus torturadores, o mecânico rapta-o e decide enterrá-lo vivo. Apesar da certeza inicial, não tarda a questionar-se se não estará a cometer uma injustiça. Em busca de provas irrefutáveis, procura então alguns dos antigos companheiros de cárcere que também sofreram às mãos do mesmo carrasco.
Em 2025, o iraniano Jafar Panahi – perseguido e preso pelo regime do seu país – tornou-se o primeiro cineasta a conquistar o prémio máximo nos quatro grandes festivais de cinema do mundo, através dos filmes "O Espelho" (1997), que recebeu o Leopardo de Ouro em Locarno; "O Círculo" (2000), distinguido com o Leão de Ouro em Veneza; "Táxi" (2015), vencedor do Urso de Ouro em Berlim; e este Foi Só Um Acidente, que lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes. PÚBLICO
Sessões
-
-
UCI Cinemas - El Corte Inglés, Lisboa
13h25 -
UCI Cinemas - El Corte Inglés, Lisboa
13h25 -
Cinema Ideal, Lisboa
19h
-
UCI Cinemas - El Corte Inglés, Lisboa
13h25 -
UCI Cinemas - El Corte Inglés, Lisboa
13h25 -
Cinema Ideal, Lisboa
19h
-
-
-
Casa do Cinema de Coimbra, Coimbra
17h
-
Casa do Cinema de Coimbra, Coimbra
17h
-
Críticas dos leitores
Foi só um acidente
Fernando Oliveira
O que é o Mal? É aquilo que nunca “desaparece”, que está sempre presente atormentando os dias e a noites, imagens e sons que alimentam os traumas e os medos das personagens. Nos filmes iranianos o terror vem das “garras” sempre afiadas da teocracia que governa o país. Em “Foi só um acidente” é a memória de um som que desperta um desejo de vingança, o querer de uma reparação.
Numa noite, um casal e a filha regressam a casa de carro, têm um pequeno acidente; mais à frente o carro avaria junto a um armazém (?), o homem pede ajuda. Um dos empregados, Vahid, reconhece o ranger da prótese do homem do carro. Pertence a Eghbal, o Perneta, o homem que o tinha violentado e torturado na prisão, o homem que lhe tinha destruído a vida. O som tenebroso do arrastar da perna é a banda sonora dos seus pesadelos. O desejo de o matar toma conta dele, rapta-o e transporta-o numa carrinha para o deserto para o enterrar vivo junto a uma árvore morta, mas as súplicas do homem fá-lo começar a duvidar: será mesmo ele? Na prisão esteve sempre vendado enquanto era torturado.
E então o filme passa a ser sobre a dúvida. Vahid vai procurar outras vítimas de Eghbal; essa procura ocupa a primeira metade do filme, e é brilhante a forma como Panahi enclausura todos os personagens no espaço daquela carrinha, ao mesmo tempo que pelas “brechas” nos deixa ver o dia-a-dia da cidade, a normalidade que decorre lá fora enquanto os personagens se debatem com a dúvida. Porque a expressão “nós não somos como eles…” começa a sufocar o espaço da carrinha. Todos “sobreviveram” ao Mal de maneira diferente.
Há um questionamento moral a atravessar todo o filme. É um filme corajoso, filmado na clandestinidade, num jogo entre o gato e o rato com as autoridades iranianas, um filme que balança entre a tragédia e a comédia, e a ternura (o pedido de ajuda da filha de Eghbal, a mãe desmaiou, está quase a parir).
O que é o Mal? É o som que se houve em crescendo quando se vira as costas, o som do ranger paralisante de uma prótese. No Irão o Mal está em todo o lado: há uma cena no filme em que, numa rua cheia de gente, uma mulher é empurrada violentamente para o chão por um homem e ninguém faz nada, e os dois foram vítimas de Eghbal.
Mete medo, mesmo quando nos faz sorrir, este filme sobre a vida num país onde as ideias e os comportamentos são impostos de forma violenta. O medo e Mal sempre presentes. São quase sempre sobre isso os filmes iranianos: a omnipresença do Mal. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
Foi só um acidente
Henrique Luz Rodrigues
Um filme maniqueísta em que os maus não são muito maus e os bons são apatetados. A qualidade narrativa do filme com episódios caricaturais simplistas, como a utilização da máquina do Visa na corrupção, roçam frequentemente o ridículo Nada a apontar à técnica das imagens do filme o que não parece ser suficiente para a Palma de Ouro de Cannes. Só a política pode justificar tal distinção ao Irão como pertencente aos países do Eixo do Mal.
Foi só um acidente
Isabel Monteiro
É um filme extraordinário. Deve ser visto após o visionamento do "a banalidade do mal". Não é um filme fácil. Na sociedade portuguesa poucos, infelizmente, têm capacidade para o entender.
Excelente
Nuno
Vale a pena. Mordaz, com notas de humor negro e um final que nos leva a acreditar na bondade das pessoas. Ou não?
4 estrelas
José Miguel Costa
O multipremiado realizador iraniano Jafar Panahi arrecadou mais um galardão (Palma de Ouro do Festival de Cannes) com seu mais recente filme, " Foi Só Um Acidente". E, por certo, não se ficará por aqui já que será o candidato aos Óscares pela França (país que o produziu, em virtude deste ter sido filmado à revelia das autoridades do Irão - acto que, provavelmente, valer-lhe-á nova pena de prisão).
Escrito pelo próprio, sob a forma de um dramático e tenso "thriller" psicológico com umas pitadas de humor negro (quase caricatural), apresenta-se-nos como uma espécie de dilema moral sobre a dualidade perdão versus vingança, e constitui-se, à semelhança daquilo que é seu apanágio (embora, desta vez, de um modo politicamente mais explícito), como uma denúncia das atrocidades atentatórias aos direitos humanos cometidas pelo ditatorial regime teocrata ultra-consrvador dos ayatolas.
Filmado nos arredores de Teerão (com câmara à mão e privilegiando os planos longos), recorrendo a um elenco maioritariamente composto por actores não-profissionais, conta-nos a história de um mecânico que reconhece (pelo ranger da prótese da perna) o condutor de um carro que avariou à porta da sua oficina como sendo o sádico que o torturou, aquando da sua estadia na prisão (por ter participado numa manifestação em defesa de direitos laborais).
Acometido por um visceral acto impulsivo decide atropelá-lo, raptá-lo e enterrá-lo vivo num descampado. Todavia, aquando da derradeira pazada de terra, a dúvida ("será mesmo Ele?") e o remorso toldam-lhe o espírito. Motivo pelo qual enfia o alegado carrasco numa caixa e enceta uma estonteante viagem pela cidade, na sua velha carrinha, em busca de antigas vítimas que possam corroborar a identidade do mesmo (o que culminará numa bizarra reunião de personagens enfiadas num claustrofóbico "espaço sobre rodas").
Não é um dos melhores filmes do Panahi, provavelmente por ter prescindido da subtileza e do lirismo metafórico que o caracterizam, em detrimento de um enredo simples (com demasiados avanços e recuos repetitivos) e incisivo (cortando, desse modo, as "asas da nossa imaginação" - excepção feita ao impactante plano final).
Envie-nos a sua crítica
Submissão feita com sucesso!






