Last Days - Últimos Dias

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Drama, Musical 97 min 2005 M/12 13/10/2005 EUA

Título Original

Sinopse

"Last Days - Últimos Dias" é uma meditação de Gus Van Sant sobre os demónios interiores que atormentam um jovem músico talentoso, mas perturbado, nas últimas horas da sua existência. Blake (Michael Pitt) é um artista introspectivo, prostrado pelo peso do sucesso como estrela rock, que o conduziu a uma solidão sem fim. Refugiado numa casa no meio de um bosque, tenta fugir à sua vida, às pessoas que o rodeiam, aos amigos que o procuram a pedir favores ou dinheiro, às suas obrigações. "Last Days - Últimos Dias" segue Blake, um fugitivo da sua própria vida, nas suas últimas horas. O filme é inspirado e dedicado ao maior ícone do movimento grunge, Kurt Cobain, líder dos Nirvana. Depois de "Gerry" e "Elephant", "Last Days - Últimos Dias" é o capítulo final da trilogia da morte de Gus Van Sant: três filmes que se inspiraram em notícias e que tratam a morte de adolescentes. <p/>PUBLICO.PT

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Críticas dos leitores

A última homenagem

PMS

Depois de "Gerry" e "Elephant", Gus Van Sant fecha com "Last Days" uma trilogia dedicada ao desencanto da juventude. O filme representa uma ode aos tempos modernos, onde a juventude parece propensa à vertigem e à auto-destruição, vivendo os dias em ritmo de contagem decrescente. Um filme pessoal, que revisita também alguns fantasmas de Van Sant, como a morte de River Phoenix, e que tem tanto de honestidade como de belo. Um dos filmes do ano. Kurt Cobain, onde quer que esteja, terá certamente agradecido a homenagem.
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Bluff

The Man who sold the world

Um verdadeiro "bluff". Não transmite qualquer tipo de sentimento, é um filme vazio e sem nexo e uma prova de que a tentativa de repetir a fórmula de "Elephant" não resultou. Uma desilusão.
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Magistral

O Bom Selvagem (tasca da cultura)

Aplaude-se a decisão de não fazer um "biopic" linear e óbvio. Se por um lado filmes como "Ed Wood" de Tim Burton ou "Man on The Moon" de Milos Forman são "biopics" clássicos exemplares e perfeitos, no caso de Kurt Cobain a mesma opção resultaria num arriscado produto que podia não resistir à passagem do tempo, como o "biopic" de Jim Morrisson dos "The Doors" feito por Oliver Stone, demasiado histriónico e marcado pelos "90s". O filme de Gus Van Sant não esgota caminhos e possibilidades para outros cineastas tentarem outro tipo de filme e não destrói o objecto que pretende analisar. Gus Van Sant reforça esta opção chamando Blake ao seu protagonista (e não Kurt), tentando deixar bem claro que o Kurt é a inspiração para o filme e não o objecto. Isso é bom.<BR/><BR/>"Last Days" de Gus Van Sant arriscava-se a repousar no facto de "toda gente saber quem é Kurt Cobain" (ou pelo menos assim o pensar). Ao contrário de Ed Wood, Kaufman ou Morrisson, que eram personalidades desconhecidas da maior parte do público que foi assistir aos filmes (e que foram projectadas agora pelos mesmos filmes), Kurt Cobain é alguém que faz ainda parte da cultura popular actual mas ficou imortalizado num cliché do rock n’ roll. No filme, Kim Gordon surge como mãe de Blake (Kurt) e diz-lhe que "a continuar assim acaba como um cliché do rock".<BR/><BR/>O seu suicídio ainda hoje está presente como um dos acontecimentos mais marcantes da cultura pop-rock e o filme de Gus Van Sant só trata dos dias que o antecedem. Esse aspecto não está bem traduzido pelo filme porque nunca existe a sensação de continuidade de tempo ou de queda, de decadência ou de definhamento. Blake (Kurt) começa e acaba o filme da mesma forma: definhado. E não a definhar. O filme captura de forma magistral um Kurt (Blake) que caminha pelos bosques completamente a anhar e que se comporta praticamente como um vegetal excepto quando pega na guitarra, onde explode com uma energia que exorcisa tudo o que absorveu. Não nos custa imaginá-lo assim, no limite, porque o suicídio é sempre uma opção extrema e o suicídio de Kurt é um facto incontornável.<BR/><BR/>Poderia faltar o elemento de contraste que o próprio Gus Van Sant admitiu retirar porque seria demasiado complicado lidar com direitos de autor de músicas ou imagens do outro Kurt Cobain. Esse Kurt Cobain, o das televisões, vídeos, discos e concertos frenéticos, temos de ser nós, espectadores, a fornecer ao filme para o equilibrar. E essa sensibilidade faltará a muitos críticos de cinema ou público ao apreciar este filme, para quem Kurt Cobain ficou, precisamente, cristalizado naquilo que o próprio filme representa: o suicídio. O suicídio de Kurt foi apenas o último dia de uma série de 10 mil dias (27 anos) de vida. Este filme são os "Últimos Dias" de uma série de 10 mil, sendo que os últimos seis ou sete anos foram bem produtivos e mudaram a face do rock n’ roll.<BR/><BR/>Não considero que Michael Pitt tenha sido uma escolha particularmente feliz como "casting". O rosto de Kurt caracterizava-se por ter as marcas de juventude feita de privação e abuso de drogas. O de Pitt, mesmo que ele tenha emagrecido por todo lado, caracteriza-se por ser demasiado redondo, rechonchudo ou imberbe. Não se questiona aqui o belo trabalho de Michael Pitt, nem a obrigatoriedade do actor se parecer com a figura histórica que supostamente encarna, mas um traço tão marcante na personalidade de Kurt como o rosto magro, anguloso e quase sofrido, deveria ter sido tido em conta, nem que fosse com muita maquilhagem.<BR/><BR/>O filme acerta no factor isolamento de Kurt, que realmente se isolara numa casa e se rodeara de más companhias, situação bem comum no meio do rock em que uma chusma de luminárias pseudo-artistas / empresários / "groupies" costumam parasitar um único homem com talento e dinheiro. Também no facto de Kurt gostar de se vestir de mulher, mesmo em casa e nos concertos.<BR/><BR/>Gus Van Sant é quase sempre estimulante. A sua forma de construção de ambientes hipnóticos e por camadas é magistral, recorrendo à filmagem do mesmo plano de pontos de vista diferentes, mostrando sempre como a interpretação de uma história e de uma personalidade depende muito do nosso ponto de vista.<BR/><BR/>É magistral a desmistificação dos bastidores de uma estrela rock em decadência por abuso de heroína e isolamento. É aborrecido. É duro. É penoso. É patético. Ver a imagem mais que provavél de Blake-Kurt a tropeçar por um bosque fora reforça para sempre a imagem de um homem a uma eternidade de distância da inocência da origem como uma criança perdida. Talvez por isso, uma das coisas que Kurt mais gostava de fazer era nadar.
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A face do nada

alma

"Last Days", do cineasta Gus Van Sant, poderá ser uma tremenda desilusão para um verdadeiro fã dos Nirvana ou de Kurt Cobain. De facto, não é um filme para fãs, nem dos Nirvana, nem dos de nenhuma espécie. É, isso sim, uma obra cinematográfica de grande qualidade, que segundo o próprio autor, fecha uma tríade denominada ciclo da morte (sendo os outros dois filmes: "Gerry", de 2002, e "Elephant", de 2003). Convém, contudo, esclarecer alguns pontos antes de partir para qualquer tipo de análise ao filme. O Grunge, do inicio da década de 90, será por definição uma fusão entre o Punk Rock e o Heavy Metal e terá sido criado em Seattle, inicialmente por uma banda chamada Green River, que originou o movimento do qual os Nirvana (com Kurt) viriam a ser o paradigma.<BR/><BR/>Ora, o Grunge (que por definição significa pó, terra), foi então formado por duas tendências distintas: o Punk e o Heavy. Estas duas linhas iniciadas nos anos 60/70 distinguem-se na sua forma de mais-valia. Enquanto que o Punk é puramente estético, formal, o Heavy é fundamentalmente técnico. Daí que as melhores bandas inspiradas pelo Punk sejam as que lhe seguiram a influência estética (ideológica), enquanto que as melhores bandas inspiradas pelo Heavy serão certamente as que lhe beberam a técnica.<BR/><BR/>Vejamos agora aqui um pormenor interessante: já existiam bandas que fundiam os dois géneros algum tempo antes dos Nirvana. Dessas bandas, as que faziam a mistura fina (leia-se estética Punk mais técnica Heavy), conseguiram resultados impressionantes, como os Pixies ou os Sonic Youth; por outro lado, as que misturavam os condimentos da forma inversa eram bandas comerciais de pouco valor artístico, como Bon Jovi ou Guns N' Roses. Daí que a novidade (e a mim afigura-se-me como a única) dos Nirvana, é que conseguiram fazer a coisa de modo inverso com resultados aceitáveis. Ou seja, foram buscar a sua estética à técnica do Punk e a sua técnica à estética do Heavy. Tornaram-se numa banda única nesse aspecto. Fundindo o alternativo com o comercial, mais uma vez, criaram de certo modo um alternativo "mainstream" que agora se faz notar claramente, até com sons muito diversos do dos Nirvana. Abriram aí uma brecha, não sei se para bem ou mal, mas isso vai além do que me proponho analisar.<BR/><BR/>Para ajudar a que os Nirvana se tornassem de alguma forma míticos, os anos 80 (e o seu folclore musical), criaram uma grande nostalgia por sons e figuras dos anos 60 e 70. Auxiliado pelo filme de Oliver Stone, "Doors – O Mito de uma Geração", existiu um ressurgimento de interesse pelo grupo (os Doors) que trouxe ao de cima a figura mítica do seu cantor e poeta, Jim Morrison. Os Radiohead (uma das bandas mais interessantes da década de 90), escreveram um tema em 1990 que retrata de algum modo esse espirito: "Grow my hair, Grow my hair I am Jim Morrison. Grow my hair, I wannabe wannabe wannabe Jim Morrison".<BR/><BR/>Este tema, chamado "Anyone can play guitar", fala um pouco de como estas figuras míticas do passado se vieram a banalizar no início dos anos noventa. Qualquer um tinha o cabelo comprido e tocava guitarra, bastando para se sentir próximo do seu ídolo, Morrison, Hendrix, Vicious, etc. Criou-se então um desejo nessa geração, distante no tempo das grandes figuras míticas do Rock (mesmo as que estavam vivas encontravam-se já, na maioria dos casos, longe de ser modelos para novas gerações de adolescentes), de proximidade com os seus ídolos do passado, ou então, pelo aparecimento de um novo ídolo na sua própria geração.<BR/><BR/>O suicídio de Kurt em 1994, aos 27 anos, juntou a fome com a vontade de comer. Criou-se então um ídolo, mas de carácter diferente. Sem a inocência e pureza dos anos 60, anacrónico, sem a ignorância que fez dos originais ídolos inconscientes. Neste aspecto, Kurt assemelha-se à parodia que Bono dos U2, que se auto-intitula estrela do Rock e se colocou na prateleira do supermercado, faz aos artistas que sobrevivem. Kurt fez o mesmo, mas aos que sobremorrem. Um ídolo rock pós-moderno, se quisermos.<BR/><BR/>E foi neste conceito, em vez de no próprio Kurt, que Gus Van Sant pegou para realizar a sua obra. Este autor, apesar de se interessar por temas relacionados com a América e os levar ao grande ecrã, tem pouco de americano na sua maneira de fazer filmes. Para quem viu "Elephant" e lhe dedicou alguma atenção, é fácil perceber quando digo tratar-se de um autor que pelo seu modo de filmar (a colocação da câmara), luz, a maneira como o som é tratado, entre outras coisas, se assemelha mais a autores europeus do que propriamente a realizadores seus conterrâneos (ressalvem-se as devidas excepções).<BR/><BR/>A sua fotografia (e desculpem se soo herético) aproxima-se, quanto a mim, à de um Manoel de Oliveira (um dos maiores realizadores do mundo), embora não se possam comparar os autores em outros aspectos, talvez mais importantes. Van Sant trabalha, julgo, com a temática do niilismo, e do niilismo entre os jovens fundamentalmente. Tanto "Elephant" como "Last Days" surpreendem pela falta de intriga, de narrativa no sentido mais clássico. Em "Elephant", é notório o esforço de certos acontecimentos para se tornarem história, mas sem qualquer efeito. Tudo o que possa ser visto como um acender do enredo rapidamente se esfuma, dando lugar ao vazio. É como se o autor procurasse mostrar que não há justificação sustentável para o trágico desfecho do filme. Como se tentasse filmar o próprio niilismo, sendo o tipo de narração utilizada puramente imagético.<BR/><BR/>"Last Days" em muito se assemelha a "Elephant", excepto que introduz o conceito Cobain, tal como já foi definido acima. Não seria necessário que se tratasse obrigatoriamente de Cobain, mas assim sendo, o autor pôde jogar com o imaginário colectivo do seu público e introduzir elementos alheios ao filme mas que lá estão necessariamente por implicação biográfica ou mitológica. O personagem principal do filme, Blake (supostamente Kurt Cobain), não tem sequer a oportunidade de mostrar o que sente ou pensa. É um personagem praticamente mudo, ao qual se ouvem por vezes certos grunhidos, mas que não chega, ao longo do filme, a articular uma frase completa (excepto na cena em que pega na guitarra e canta uma canção).<BR/><BR/>De resto, o seu comportamento segue a mesma linha de acção. Desde noites dormidas no bosque contíguo à casa onde se encontra, como despropositadamente vestir roupa de mulher para atender um vendedor das Páginas Amarelas. Talvez esta linha de comportamento errático seja a principal razão que leva a que um admirador de Cobain se sinta traído. Não seria aquela a maneira como gostaria de ver o seu ídolo recriado. Mas sim mais à maneira de Stone, quando levou Val Kilmer a encarnar Jim Morrison. A isto junta-se uma cena em que, vinda não se sabe de onde, uma mulher que não se sabe quem é, mas que pela idade e pela maneira como fala com Blake se poderá concluir que seja a sua mãe, chama a este "cliché do Rock".<BR/><BR/>Gus Van Sant joga também com o facto de Cobain ser, como era sabido, toxicodependente, uma vez que os efeitos da droga poderão ser deduzidos do seu comportamento, embora não exista qualquer cena em que se observe consumo de drogas, apenas leite com cereais. Da mesma forma, a cena do suicídio é um exemplo de bom gosto. Não se vê o acto, não se ouve, Blake aparece morto numa bela manhã e o realizador mostra a sua alma a deixar o corpo e subir (aos céus?), dando-lhe o toque de associação final, óbvio, com Jesus Cristo. A imagem do messias, será, em ultima análise, o pano de fundo para todos estes ídolos que morrem precocemente, numa espécie de sacrifício público, e mais uma vez a utilização por parte do autor do imaginário colectivo.<BR/><BR/>Concluindo: "Last Days", não o considerando como um dos melhores filmes que vi, é sem dúvida uma obra poética de grande competência e qualidade, técnica como artística.
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Genial

João Losa

Faço das palavras da Vera as minhas também. Excelente filme, o melhor do ano certamente. Humor e fotografia dignos do Manoel de Oliveira. Na minha opinião, mais bem conseguido do que o "Elephant".
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Mais história?

Vera Tapiés

É um poema cinematográfico, uma abstracção belíssima, o retrato delicado de uma vida vazia e desesperada. Gostei muito, como aliás tenho gostado sempre destas pérolas de Gus Van Sant. No cinema, ao meu lado, estava uma rapariga que, muito enfadada, dizia para o namorado que o filme era uma seca e que devia ter "mais história". Porque é que estes imbecis vão ao cinema, esta é a minha pergunta. O filme é inspirado livremente nos últimos dias de vida de Kurt Cobain... Que mais história quereria a idiota?
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Que decepção :(

Mariana Barros

Acho o Gus Van Sant um génio cinematográfico. Fiquei fascinada com o seu anterior filme, "Elephant". Mas após 96 minutos deste filme, saí da sala do cinema com o triste pensamento: "devia ter ido ver outro filme"! Coisa que sinceramente nunca pensei que acontecesse. Não aconcelho a ir ver... Mas também não sou uma crítica profissional nem tenho qualquer formação na área; por isso, fica a margem de dúvida! Mas realmente... que decepção! :(
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Mau

Fly

Muito mau. Coitado do Kurt, ao ver-se retratado neste filme!
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Procurando um futuro

Frederico Galhardo

Depois do aclamado "Elephant", chega às salas portuguesas mais um grande filme de Gus Van Sant, o qual retrata a vida do mítico Kurt Cobain, ex-líder dos Nirvana. Este filme, cuja acção se centra nos últimos dias do peturbado cantor, é um exemplo de que na vida o ser humano precisa, acima de tudo, de amor, sendo que sem este todo o dinheiro, poder e sucesso que possamos ter não são nada face à nossa necessidade de carinho, atenção e partilha. De acordo com o filme observamos uma vida preenchida com sucessos e dinheiro, mas ao mesmo tempo uma vida vazia, que procura apenas um pouco de paz e serenidade, algo que leva o cantor a refugiar-se no bosque, longe do seu passado, do seu presente e procurando encontrar um futuro... Um filme imperdível, interpretações sonantes e um Michael Pitt a encarnar perfeitamente o papel da lendária estrela do rock.
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A hora do herói

Helena, a.k.a. Lost in Space

Estreou hoje o aguardado último filme de Gus Van Sant, directamente inspirado na figura do admirado letrista, vocalista e guitarrista dos Nirvana, Kurt Cobain, que se matou em 1994. Gus Van Sant conta na sua filmografia numerosos títulos cujas histórias giram em torno de jovens, extraordinários, revoltados, inadaptados. Só para citar alguns títulos veja-se "Drugstore Cowboy", "My Own Private Idaho", "Finding Forrester" (onde entrava Michael Pitt) ou o magistral "Good Will Hunting". Todavia, este "Last days" é um filme mais na linha estrutural de "Elephant", considerado por muitos como a obra mais emblemática do realizador. Li até que este filme seria o culminar de uma trilogia subordinada à temática da morte que incluiria "Elephant" e "Gerry".<BR/><BR/>Confesso que as minhas expectativas para o filme eram outras. E acredito que muitos serão levados à sala para ver um retrato apologético e fidedigno dos últimos dias de vida de Kurt Cobain. O que encontramos porém é muito diferente. Van Sant opta por retratar Cobain através de uma personagem que, embora totalmente inspirada nele, tem outra designação: Blake. Um jovem músico que alcançou o sucesso mas que vive numa imensa solidão. Refugiado do mundo numa casa isolada depois de fugir da clínica de reabilitação, passa os dias numa introspecção vegetativa, acentuada pelo vazio imenso dos seus "so-called" amigos, que com ele partilham o tecto, passando a imagem de uma permanentes ressaca, não somente física como psicológica. <BR/><BR/>A angústia silenciosa de Blake é explicada, não por clichés de palavras nem por imagens impressionantes, mas sim pelo poder das pequenas coisas nem sempre mostradas ou ditas. A sua morte permanece escondida, perpetuando o mistério (terá sido de facto suicídio?), mas no fundo compreendemo-la. Porque Blake/Cobain asfixia por entre tanto nada. Michael Pitt ("The Dreamers") encarna Blake de forma absolutamente espectacular. Pitt aparece-nos com semelhanças físicas assombrosas com Kurt Cobain, magistral no retrato que faz da sua personagem, uma interpretação de corpo e alma que merece (no mínimo) uma nomeação da Academia. Faz-nos pensar como nomes (justamente) reconhecidos como Russel Crowe criam tanto alarido mas estas raras centelhas de genialidade juvenil passam tantas vezes despercebidas...<BR/><BR/>Como secundários encontramos nomes também conhecidos, como Lukas Haas ou Asia Argento. Mas a interpretação de Michael Pitt é, sem dúvida, o ponto mais alto do filme. Todavia, a forma de filmar extraordinariamente realista de Van Sant torna-se em alguns pontos demasiado monótona e cansativa. Mas existem para contrabalançar cenas arrebatadoras, como quando Blake canta a sua canção, "Death to birth", expressando toda a raiva e dor que o consomem. De arrepiar! Ou mesmo quando pega ao colo o pequeno gato e pede desculpa. Ficamos divididos entre admirar a sua genialidade incompreendida ou procurarmo-nos distanciar da forma quase ridicula de vida a que por vezes se auto-submete. Para quem gosta de Van Sant, para quem gosta de Nirvana ou para quem gosta de filmes menos convencionais, esta é definitivamente uma proposta a ter em conta.
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