Que "teenager" delinquente ou "junkie" recusaria a proposta de uma figura paternal (James Woods) para deixar para trás os assaltos a máquinas de refrigerantes e partir com ele - e com Melanie Griffith - para o sonho do grande golpe? Midwest americano, anos 70, ao som de gospel e blues. É assim que o fotógrafo Larry Clark prossegue a sua carreira de cineasta depois de "Kids", filmando um argumento que começou por ser um manuscrito de um presidiário desconhecido em que Clark reconheceu a sua própria vivência passada e reencontrou os ambientes e as personagens de "Tulsa", o seu foto-ensaio sobre a "drug culture" dos anos 70. O cineasta continua à procura dos "momentos de verdade" - uma suspensão da realidade, sem julgamento, sem condenação moral das personagens. Mas o que em "Kids" era uma espécie de paralisia de brutalidade está, em "Um Dia no Paraíso", diluído pelo romanesco: o par Woods/Griffith - os dois magníficos -, uma espécie de Bonnie & Clyde para um par de adolescentes (Vicent Kartheiser e Natasha Gregson Wagner). É de mais fácil digestão, mais superficialmente sedutor do que "Kids". Sem a radicalidade deste, mas também sem a sua incómoda ambiguidade.
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