Terra de Ninguém

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Drama, Guerra, Comédia 98 min 2001 10/05/1998 BEL, Bósnia, GB, ITA, FRA, Eslovénia

Título Original

No Man's Land

Sinopse

Ciki, um soldado bósnio, e Nino, um sérvio, encontram-se numa trincheira minada na Terra de Ninguém, entalados entre as duas linhas da frente. Enquanto discutem política, trocando acusações, um companheiro de Ciki, que todos julgavam morto, acaba por acordar, depois de ter sido armadilhado com uma mina que pode rebentar ao mais pequeno movimento.<br /> "No Man''s Land - Terra de Ninguém" é o primeiro filme do bósnio Danis Tanovic, uma longa-metragem tornada também possível pelo apoio da Benetton através da produção da Fabrica do Cinema. O filme ganhou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro na última cerimónia dos Prémios da Academia de Hollywood. PÚBLICO

Críticas Ípsilon

Dois homens, e a guerra toda, numa trincheira

Alexandra Prado Coelho

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Falta-lhe alguma aspereza

Kathleen Gomes

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Perdidos nas Trincheiras

Pedro Caldeira Rodrigues

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Críticas dos leitores

Um Belíssimo Filme

Ricardo Pereira

Aliando uma frenética energia e um sentido de humor negro que extravasa os limites do politicamente correcto, este filme de estreia do realizador bósnio Danis Tanovic traça mais um retrato de um dos conflitos mais absurdos e sangrentos da última década do século XX: a guerra da Bósnia. E, ponto para o estreante, que consegue uma dramática originalidade, mesmo se comparado a outros filmes de inegável competência, como “Before the Rain”, de Milcho Manchevski, “Pretty Village, Pretty Flame”, de Srdjan Dragojevic, e “Underground”, de Emir Kusturica. O ano é 1993. Surpreendidos pelo nevoeiro, um grupo de soldados bósnios que se esgueira na madrugada perde o rumo e acaba bombardeado pelas linhas de fogo sérvias. Quando a manhã chega, sobraram na estreita faixa que divide os dois territórios e é por isso chamada de "terra de ninguém", dois inimigos: um sérvio, Nino (Rene Bitorajac), outro bósnio, Ciki (Branko Djuric). Um quer matar o outro, mas nunca conseguem, porque as armas mudam de mãos o tempo todo. A disputa se interrompe com a descoberta de uma questão mais urgente: outro soldado bósnio, Cera (Filip Sovagovic), que os sérvios julgaram morto, foi deixado sobre uma mina. Agora, se fizer o mínimo movimento, tudo irá pelos ares. O drama força os dois inimigos a uma trégua. Uma missão da ONU é chamada, mas não demonstra a vontade política necessária para interromper o dilema porque os oficiais superiores, como o coronel inglês Soft (Simon Callow), não compartilham das melhores intenções dos escalões inferiores, como o sargento francês Marchand (George Siatidis). O habitual circo da mídia, tendo à frente a jornalista britânica Jane (Katrin Cartlidge), observa de perto o impasse, o que não significa que compreenda devidamente o que está se desenrolando debaixo de seus olhos. A sequência dos acontecimentos serve como ácido comentário da incompetência, aqui elevada à potência de crime, tanto dos políticos, quanto dos militares, sob uma absurda conivência da imprensa. O cineasta alemão Marcel Ophuls e o filósofo francês Bernard-Henri Lévy arriscaram suas cabeças em Sarajevo para realizar seus respectivos documentários sobre a Guerra da Bósnia, "Veillées d'Armes" e "Bosna", ambos de 1994. Jean-Luc Godard não chegou a tanto. Preferiu fazer, em "For Ever Mozart" (1998), seu "petit théâtre" em torno da guerra, à distância. Esses filmes eram de cineastas europeus preocupados com a situação na região vizinha e, até certo ponto, impossibilitados de compreender toda a complexidade do conflito nos Bálcãs. Resultam, em certa medida, da consciência pesada de uma Europa que, por muito tempo, primou pela omissão. “Terra de Ninguém", ao contrário, é o trabalho de alguém que esteve no cerne dos acontecimentos, mas não quer tanto dar conta da complexidade da guerra quanto superá-la. Bósnio, Tanovic esteve no front de batalha, fazendo de sua câmara uma arma a serviço de seu povo. Mas essas imagens documentais ele deixou de lado, junto com os traumas da guerra, para se dedicar a uma ficção antibélica, em nome da paz. Mas, o que realmente diferencia um olhar local, ainda mais com o humor sempre cáustico e absurdo como o tipicamente jugoslavo, é o final nem um pouco conciliador, feliz, tranquilizador, como poderíamos supor que seria num filme tipicamente "ocidental", onde mesmo que fosse mostrada a guerra como algo de difícil solução, o microcosmo criado encontraria uma saída a contento. Aqui não. No final, nem mídia nem ONU sabem mais o que fazer, e a relação entre os dois lados não deu um passo na sua melhoria. O oficial da ONU que representa os "melhores sentimentos" de tentativa de intervenção, tomada de posição, ajuda humanitária, é o personagem que termina o filme mais perdido. De facto, o que pode ser a grande mensagem do filme, especialmente neste momento vivido entre israelenses e palestinos, é que os dois lados podem até reconhecer-se como irmãos, como vizinhos. Mas, ao contrário do que insinuam alguns outros filmes, isso não é o suficiente para apagar actos e mais actos de violência e descaso que estão entranhados no imaginário de cada um. Isto o filme nos diz muito claramente, e que a lição sirva neste momento: não é simplesmente pregando a ignorância da guerra e a necessidade do amor entre as pessoas que se vai encerrar um conflito de sangue como este. Tanovic faz um belíssimo filme para nos mostrar isso.
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