Quanto Mais Quente Melhor
Título Original
Some Like It Hot
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas dos leitores
Quanto mais quente melhor
Fernando Oliveira
Realizador inteligente, Billy Wilder foi muito mais um argumentista extraordinário como houve muito poucos, capaz de nos seus textos “destapar” a falsidade e o fingimento da moral do seu tempo e da sociedade americana que adoptou como sua (como muito outros emigrou da Europa nos anos 30 fugindo ao fascismo emergente), com uma sagacidade que tanto balançava para o lado da crueldade como para o lado da comédia e do burlesco, com uma perspicácia venenosa.
São dele filmes tão geniais como “Pagos a Dobrar”, “Sunset Boulevard” (talvez o mais espantoso filme feito sobre o “resvalar” dos sonhos em Hollywood), ou “O Apartamento” – estes são olhares cruéis; mas também são deles duas magníficas comédias burlescas com Marilyn Monroe, “O Pecado Mora ao Lado” e “Quanto Mais Quente Melhor” e outra, “Beija-me, Idiota”, com Kim Novak.
Este “Quanto Mais Quente Melhor” será à superfície apenas uma comédia de equívocos sobre dois músicos no tempo da Lei Seca, que depois de testemunharem um massacre entre gangues, têm de se disfarçar de mulheres para fugirem integrados numa banda musical feminina que vai para a Florida actuar num hotel.
E se as confusões da “troca” de sexo são inevitáveis, se a história é também uma deliciosa e divertida comédia de enganos, vai pouco a pouco tornar-se num vertiginoso confronto entre o que a “moral e os bons costumes” impõem aos homens e às mulheres e o surpreendente jogo de fingimentos, a ambiguidade “azeda” e as piscadelas de olho, que Wilder dá à história.
Há uma cena absolutamente genial quando os dois homens, Joe e Jerry, agora Josephine e Daphne (Jack Lemmon e Tony Curtis), estão prontos a entrar no comboio ainda cheios de dúvidas sobre o que estão a fazer e por eles passa Sugar Kane (a personagem interpretada por Marilyn Monroe), a câmara fixa-se no olhar extasiado dos dois homens e depois faz um contracampo com o bambolear do seu andar, filmando Marilyn da cintura para baixo: doze passos que questionam a “moralidade” de quem os olha, também a nós espectadores.
A imagem de Marilyn Monroe como corporização dos fantasmas e medos do homem perante a mulher: Sugar Kane é uma mulher loiríssima, absolutamente desejável, de uma “carnalidade” e sensualidade inconsciente, aquela que é olhada e desejada, capaz de incendiar o Mundo; no fundo apenas uma rapariga simpática, uma cabeça no ar, canta e toca ukelele, que gosta de whisky (“posso parar quando eu quiser, só que não quero”), e que quer casar com um homem rico. E há a outra “mulher” do filme, Daphne: “Well, nobody`s perfect”…
Um filme genial onde Billy Wilder consegue ao mesmo tempo fazer derrocar as diferenças (ou se calhar até as acentua, sei lá?), entre o desejo masculino e feminino, e fazer-nos rir com toda aquela desfaçatez e atrevimento, e deslumbrar-nos com a perfeição do “ritmo” formal e com os diálogos corrosivos. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
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