Beija-me, Idiota
Título Original
Kiss Me, Stupid
Realizado por
Elenco
Sinopse
Críticas dos leitores
Beija-me, idiota
Fernando Oliveira
Sobre “Beija-me idiota” Billy Wilder disse: “Uma prostituta sonha preparar o jantar a um homem e ficar a lavar a loiça. Uma esposa, que passou vinte e cinco anos a fazer isso, gostava de ir beber um copo com um tipo que acabou de conhecer e meter-se na cama com ele”. E disse ainda mais: “Por bizarro que pareça, o tema do filme é a dignidade humana e a santidade do casamento”.
Como se concretizam os desejos da primeira frase, este filme é portanto uma comédia de enganos e sobre as aparências, e cheio de boas intenções. Numa pequena cidade do Nevada chamada Climax (ah, pois!) dois compositores amadores tentam arranjar uma forma de reter Dino, um cantor de sucesso, que devido a um desvio na estrada por lá passa, avariam-lhe o carro porque querem que ele escute as suas canções.
Ora como Dino tem uma “doença” – se não dormir com uma mulher todas as noites aparecem-lhe dores de cabeça tremendas – a solução encontrada é “expulsar” a esposa de um deles de casa, contratar uma prostituta local para tomar o lugar desta, e durante o jantar, enquanto Dino é seduzido, o “marido” vai tocando as canções que os dois compuseram.
Ora antes da chegada de Dino, e numa sequência de cenas a tocar o delírio, Wilder mostra-nos que o marido (Ray Walston) é possessivo e tem ciúmes doentios, durante essa noite o homem confunde os sentimentos e começa a chocar com os avanços de Dino (Dean Martin) sobre Polly, a prostituta, conhecida como “a pistola” (Kim Novak); só que as coisas com Zelda, a esposa, (Felicia Farr) acabam por correr mal, e esta embebeda-se no bar onde Polly trabalha e levam-na para a roulotte desta; só que Orville, o marido, expulsa Dino lá de casa e este vai à procura de mulheres no tal bar. Na casa e na roulotte acontece o que tem de acontecer, e quase no fim, numa televisão, vemos Dino a cantar uma canção da dupla. No fim do filme, logo depois de o ter ameaçado com o divórcio, a esposa pede ao marido: “beija-me, estúpido”…
O que é espantoso é a forma elegante como Billy Wilder trabalha a amoralidade do argumento de IAL Diamond; com resolve o confronto entre o que diz na segunda frase e o contado no filme. Há muitas piscadelas de olho, há uma felicidade contagiante, há muita ternura por aqueles personagens.
A “santidade” do casamento, num filme em que há uma troca de casais, está no amor que Orville e Zelda sentem um pelo outro, que sobrevive para além dos deslizes mais ou menos inocentes que lhes vão acontecendo – e o argumento define inteligentemente a mistura de inocência e intenção no “pecado” que o casal pratica.
A dignidade humana está no olhar imensamente delicado para a personagem de Polly e o seu final feliz - quando se encontram na roulotte, Zelda mostrando um descomprometimento espantoso dá-lhe o dinheiro com que Dino lhe pagou a noite, e com ele, Polly consegue comprar um carro e “fugir” de Clímax; e na reconciliação do casal desavindo, nesse equilíbrio entre a inocência e as transgressões daquela noite.
Um filme genial, encharcado por uma amoralidade feliz, que nos faz vê-lo com um sorriso. Um olhar, do realizador, numa conjugação que pensávamos impossível entre a falta de vergonha e alguma ingenuidade que advém da gentileza desse olhar. Ou seja muito daquilo que define os filmes de um dos mais geniais realizadores de Cinema: Billy Wilder. (em "oceuoinfernoeodesejo.blogspot.com")
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