Pinóquio de Guillermo Del Toro
Título Original
Realizado por
Sinopse
Uma nova versão do clássico infantil criado por Carlo Collodi em 1881 e publicado dois anos depois com ilustrações de Enrico Mazzanti. A contar a história do boneco de madeira que tanto queria ganhar vida e do velho Gepeto que ansiava ter um filho, estão os realizadores Guillermo del Toro (“O Labirinto do Fauno”, “A Forma da Água”) e Mark Gustafson (“The PJs”). Esta abordagem, apesar de um pouco mais sombria do que o conto original, não esquece a sua principal mensagem: o extraordinário poder do amor.
Óscar de melhor filme de animação, este filme contou com as vozes de Ewan McGregor, David Bradley, Gregory Mann, Finn Wolfhard, Cate Blanchett, John Turturro, Ron Perlman, Tim Blake Nelson, Burn Gorman, Christoph Waltz e Tilda Swinton. PÚBLICO
Críticas Ípsilon
Pinóquio, um boneco de madeira entre os fascistas
Guillermo del Toro é mais adulto a falar para crianças do que quando se quer dirigir a adultos.
Ler maisCríticas dos leitores
Guillermo del Toro Volta a Brilhar
Mário Ferreira
"Pinóquio", o último filme de Guillermo del Toro e Mark Gustafson, é, sem qualquer sombra de dúvida, a versão mais complexa, sombria e pungente, que alguma vez existiu sobre esta obra. Quem estiver à espera do Pinóquio de Carlo Collodi, ou da sua versão da Disney, pode, desde já, perder qualquer esperança.
Este é o Pinóquio do Guillermo del Toro, realizador que mais uma vez assume sem qualquer pudor ou temor, um universo assumidamente infantil, pleno de riqueza parabólica, apenas acessível a adultos, e não estou a falar de idade cronológica. Del Toro assume a realização de um filme em stop-motion, algo extraordinariamente difícil e complexo, e fá-lo com uma maestria irrepreensível. A coragem e o arrojo são qualidades tão escassas, que se torna imperioso o elogio.
O filme inicia-se, como expectável, com a morte de Carlo, o filho de Gepeto, mas logo aqui tudo se torna distinto da narrativa de Collodi, dado que nesta obra Carlo morre vítima de um bombardeamento. Aqui começa a análise meticulosa e genial sobre o amor parental e filial. Já sei, afinal o filme trata da incondicionalidade ou não do amor? Esse tema nunca é bem visto ou aceite, mas não estará del Toro a assumir despudoradamente um cariz autobiográfico do filme e, dessa forma, a conceder um caráter universal à obra? Aqui Pinóquio é criado por Gepeto durante a ditadura de Mussolini, algo que lhe confere uma nova camada de complexidade, completamente ausente na obra original.
A Pinóquio é conferida vida, e a hercúlea tarefa de se substituir a Carlo, como filho de Gepeto. Del Toro assume a opção de manter o Grilo Falante, personagem criada pela Disney na década de 1940. Contudo, o Grilo não se constitui verdadeiramente como a da voz da consciência. Na verdade, este assume um duplo papel de consciência e de contraponto de si mesmo, quase como uma contradição, aparentemente incongruente de Pinóquio.
Neste filme os dois amores são amores em espelho, o que amplia o horizonte da narrativa. Se por um lado Gepeto projeta em Pinóquio o amor que tinha por Carlo, por outro, Pinóquio tenta ser o filho perdido de Gepeto. Serão estes amores possíveis? Evidentemente que não, primeiro porque Carlo já não existe, e segundo porque Pinóquio não é uma criança. Toda a complexidade do amor parental e filial são explorados até ao limite do quase insuportável.
Outro aspecto extremamente interessante na obra é a exploração política do fascismo de Mussolini. Pinóquio, apesar de, até certo ponto, tentar ser uma criança, ele era, efetivamente, uma marionete. O que assume uma crítica política absolutamente mordaz e incisiva é o facto de Pinóquio, à medida que o argumento avança, ser o único personagem humano, dado que todos os outros assumiam um papel de marionetes, sob o jugo da ditadura.
Muito mais haveria a dizer sobre esta obra, mas não poderei deixar de, de forma emocionada, referir a crueldade e poesia com que a obra nos mostra que a incondicionalidade destes dois tipos de amor, não impede que possamos magoar quem mais amamos, e, mesmo assim, não deixarmos de amar e de sermos amados.
Como epílogo, gostaria apenas de referir que Guillermo del Toro, mais uma vez de forma absolutamente corajosa, permite que o filme termine sem que Pinóquio se transforme numa criança. Este é o derradeiro murro na mesa, da afirmação da persona de Pinóquio. Bravo, Guillermo!!!
Envie-nos a sua crítica
Submissão feita com sucesso!